Inverno part. 1

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O frio é realmente fodido.

Faz os dedos dos pés se atrofiarem e a minha alergia atacar por causa das velhas cobertas grossas, que são tiradas todos os anos, mas continuam mofadas. Mesmo morando por tanto tempo no mesmo país - desde que nasci - ainda não me acostumei com essa maldita estação do ano, o inverno.

A neve costumava ser fofinha quando eu era criança, mas agora, só consigo pensar nas pessoas que morrem por sua causa. Naquela madrugada nevante não foi diferente, tinha alguém morrendo de frio bem ao meu lado.

- Aqui. - lhe estendi o meu único casaco. O homem o pegou, mas sequer agradeceu por minha gentileza. Apenas se levantou, vestiu a peça e começou sua caminhada para onde quer que fosse.

Os meus braços sentiram a falta de minha roupa grossa no mesmo instante. Só aí pude analisar  o bar fedorento e mal movimentado que estava logo à frente. Examinei os prós e contras e me vi em uma cama de gato. Se entrasse, não ficaria com frio, porém, ficaria bêbado. Olhei às horas e suspirei. Ainda eram vinte uma e quinze minutos. Eu estava esperando alguém, mas tinha certeza de que não viria. Foi aí que decidi entrar...

- Uma bebida, por favor. - pedi a bartender que estava servindo, ela me deu um sorriso largo e foi preparar o que quer que fosse. O meu telefone tocou logo depois, era a pessoa com quem eu deveria encontrar.

- Olá Dean! - ela estava calma, mas parecia que sua voz havia mudado. - Então, eu não poderei ir hoje, espero que ainda não tenha saído de casa... Surgiu um imprevisto, sinto muito.

- Tudo bem, não se preocupe. - suspirei, já cansado de toda aquela situação. - Que tal outro dia?

- ... Sabe como é, Dean, eu acho que também não vou poder...

Entendi tudo. Eu estava sendo dispensado.

- Oh.. Certo... Tenha uma boa noite então, Soohye. - desliguei.

A moça que servia as bebida tinha o meu drink pronto e o colocou sobre um suporte de madeira em cima do balcão. Eu agradeci com o olhar, mas ela não se contentou.

- Levou um fora? - a bartender perguntou com o olhar fixo em uma outra bebida na qual preparava.

- Acho que sim. - comentei, sugando com o canudinho o liquido azedo que ela havia me proposto.

- Que pecado! - brincou, servindo alguém com quem não me importei em olhar. O lugar era uma espelunca, mas as bebidas eram boas. Pelo menos. - Quem faria algo tão idiota? - sorri um pouco ao ver sua inquietude. A música que tocava era horrorosa, mesmo assim, ela dançava como se fosse um hit do verão.

- Não é importante. Na verdade eu já esperava por isso. 

Mais alguém chamou pela bartender e eu fiquei observando a maneira como ela tratava bem os clientes, sorrindo e animando ainda mais os bêbados. Logo, eu iria me tornar um deles, por isso, decidi que deveria ir embora antes de começar algo que não devesse. Eu já sentia os meus pés batucando o chão de acordo com a música ruim.

Deixei uma nota embaixo do suporte de madeira para o copo, mesmo que estivesse receoso sobre o dinheiro acabar molhando com a água que escorria, ainda sim saí. Eu não tinha um casaco, e a única nota de dinheiro que tinha em meu bolso foi a que usei para pagar a minha conta no bar.

O meu corpo estava um pouco soado e o meu interior aquecido por causa da bebida, eu poderia facilmente ir andando, mas me sentia emocionalmente cansado. Dane-se.

- Uh lalalá... - cantei a música que ouvira no bar, mesmo não sabendo nada além daquele trecho.

Talvez fosse uma música legal.

.....

Era véspera de natal e, mesmo odiando o inverno, tive que sair para comprar um presente para a minha irmã. Mesmo sendo uma adulta, com filhos e marido, ela ainda fica triste quando não tenho nada para presenteá-los no dia da ceia.

Okay, comprar algo para os meus sobrinhos era o mais fácil, geralmente eu lhes dava brinquedos ou roupas infantis. Já a minha irmã queria algo sentimental e reclamou no ano passado quando lhe dei um retrato dela e dos filhos - pela terceira vez seguida. Eu não fazia ideia do que comprar e o shopping estava assustadoramente lotado. Não encontraria nada a menos que um anjo caísse do céu e me desse um dos ovos da gança de ouro. Eu desisti depois de um tempo.

Ao sair do shopping, enguiçado e lotado, precisei desviar de uma mulher que carregava seu pobre filho - que mais se parecia uma bola de roupas - mas acabei esbarrando em outra pessoa. Me curvei pedindo desculpas mesmo sem olhar quem era, não importava na verdade e o riso que se estendeu, mesmo com os barulhos externos me fez virar automaticamente para a garota divertida que vira da outra vez em um bar de quinta.

- Olá! - ela sorriu e eu percebi, pela primeira vez, que ela tinha covinhas nas bochechas.

- Oi. - falei um pouco sem jeito. - Olá...

- Como está indo, ainda levando muitos foras? - uma fumaça de ar quente saía por sua boca enquanto ela falava e aquilo pareceu me inebriar.

- Desisti de chamar pessoas para sair. - disse, ainda confuso, logo, o seu sorriso apareceu novamente e eu comecei a vê-la de maneira diferente.

- Acho que alguém deveria convidar você, p'ra variar. - ela mantinha um sorriso tão quente, que por um minuto me esqueci que estávamos no inverno. - O que acha de me acompanhar naquele lugar? - ela apontou com o seu dedo ao longe e mesmo com o fluxo insuportável de pessoas, consegui enxergar o lugar na qual ela se referia.

Uma barraquinha de lanche.

Concordei com a cabeça, mesmo sem saber ao certo se deveria de fato me meter com ela e eu a segui até a barraca, que por algum motivo não estava tão lotada quanto deveria estar.

- Eu gosto desse lugar! - ela disse animada.

- Eu não sei o seu nome... - falei baixo, olhando para o chão. Não me lembrava de que era tão encubado com relação à garotas, mas ali estava eu, todo tímido, falando mais baixo que qualquer um.

- Oh, é verdade! O meu nome é LiAh, é um prazer conhecer você, Dean! - ela estava eufórica e a todo momento sorria, como se estivesse num encontro super legal.

A parte assustadora era que eu não lembrava de ter dito o meu nome antes e agora, parecia super suspeito ela ter dito aquilo do nada.

- Desculpe, - falei um pouco mais alto e ela me olhou atenta - Mas, de onde você me conhece?

- Ora, do bar! - ela disse - Você já foi lá várias vezes. - explicou simplista, olhando os arredores. - Dean, você é um cliente quase fixo do bar onde eu trabalho.

Era bem verdade que eu conhecia aquele bar, e que já fui lá outras vezes, mas eu não lembrava daquela bartender. Como ela poderia saber o meu nome?... Estive bêbado muitas vezes lá. pereceu justificável.

- LiAh, você quer pedir agora? - por alguma razão eu estava nervoso, mas o fato de que muitas pessoas olhavam para nós como se fossemos alienígenas não ajudava muito. Ninguém fica numa fila para comprar e não faz um pedido.

- Sim, sim! Dois hamburguers artesanais.. - levantou sua mão esquerda mostrando dois dedos ao atendente. - E dois milk-shakes de cho-co-la-te. - ela mostrou sua mão direita os dois dedos indicando a quantidade e o garoto que estava anotando os pedidos riu de sua bobice. - Dean, vamos sentar! - ela gritou um pouco alto, em seguida apontou para uma mesa. LiAh era divertida, admito, mas me parecia louca.

A garota sorridente fez graça enquanto comia o seu hambúrguer e quando se sujou inteira com o catchup não consegui segurar o meu riso. Ela não conseguia limpar sozinha e eu precisei intervir. Acabei sendo chamado de Senhor Guardanapo e, mesmo achando um apelido horrível, eu dei risada outra vez.

WINTER |•| Kwon Hyuk- DeanWhere stories live. Discover now