O Antidepressivo Amoroso Perfeito (Completo)

8. Ato de Amor

TIA CARMEM NÃO PERDIA A CHANCE DE ENVOLVER A PASTORAL DA JUVENTUDE EM DESAFIOS DE CUNHO SOCIAL.

Foi padre Aleph quem sugeriu que promovêssemos um ato de amor e solidariedade em prol das crianças do projeto Empreendedor Mirim, um projeto social que ele sempre acompanhou de perto, criado para levar atitude empreendedora para crianças e adolescentes carentes, despertando neles a iniciativa pela busca da autonomia, do raciocínio e do conhecimento necessário para resolver problemas do dia a dia com os quais terão de lidar na vida profissional. Chá, açúcar, bolacha, leite, macarrão... Nossa meta era arrecadar, num único dia, uma quantidade considerável de alimentos para a montagem de duzentas cestas básicas, para serem distribuídas na semana do natal para as famílias dos pequenos empreendedores. Tia Carmem ficou encarregada de conduzir tal campanha, com direto a panfletos e camisetas personalizadas. O ponto de arrecadação escolhido foi o Supermercado Hostalácio, coincidência ou não, o favorito dos ricaços. Aliás, se havia um bom lugar para desenvolver nossa ação social, era esse o lugar sem dúvida alguma.

A ação foi marcada para ocorrer num sábado. Os integrantes da pastoral acordaram bem cedo. Às sete da manhã, o sol já radiava forte e pálido no céu. No estacionamento do supermercado, tia Carmem repassou as últimas orientações.

— Chegou a hora de por em prática a nossa generosidade. Convencer pessoas que tem muito a dividir o que tem com aqueles que têm menos que elas. Assim ajudamos aqueles que realmente necessitam do nosso auxilio e de quebra garantimos a nossa vaguinha no céu. Nossa arrecadação vai acontecer da seguinte forma: Vocês serão divididos em dois times. Cada time ficará posicionado em uma entrada da loja, fazendo panfletagem e abordando clientes durante todo o dia. Será uma competição. Vence o time que arrecadar mais.

Yanka não curtiu a ideia.

— Não entendo a necessidade de transformar nossa ação social em uma competição. Estamos aqui para ajudar ou competir?

— É uma competição totalmente saudável, Yanka. Em prol do bem. Além do mais, a competitividade e o trabalho em equipe vão fazer com que vocês se empenhem ainda mais com a causa.

— Tem prêmio?

— Tem.

— O que ganhamos?

— Um café da manhã superespecial com o prefeito e a primeira-dama.

Francine fez pouco caso.

— Eu que não quero esse prêmio.

Tia Carmem fingiu que não ouviu e prosseguiu.

— Muito bem, crianças. Alguém tem alguma dúvida?

Bia Stefanie ergueu o dedo.

— Eu tenho uma dúvida. Como vai ser a escalação dos times?

— Bem lembrado, Bia. Vou fazer um sorteio para decidir quem será o líder de cada time. Um detalhe importante: Será papel do líder de escolher o restante dos membros que vão integrar os times. Os líderes vão escolher um integrante de cada vez, de forma intercalada, como numa competição de queimada. Tudo bem para vocês? Podemos começar o sorteio?

Todos assentiram, animados e confiantes, exceto Fran, que estava mais preocupada em responder mensagens no celular. Enquanto isso, meu olhar se cruzou com o de Miguela, que estava a alguns metros de onde eu e Fran estávamos paradas. Ela me encarava como se eu tivesse me transformado na cria do diabo.

Tia Carmem fez suspense para revelar o nome escrito na primeira tirinha de papel sorteada.

— E o primeiro líder sorteado é...

Fechei os olhos e desejei desesperadamente que não fosse o meu o nome sorteado.

— Miguela Baroni — tia Carmem anunciou borbulhante, exibindo a tirinha de papel para que todos pudessem ver o nome.