9. Unicórnios Vietnamitas

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DEZEMBRO CHEGOU E OS PREPARATIVOS PARA A CELEBRAÇÃO PELA CHEGADA DO NOSSO SALVADOR COMEÇARAM A TODO O VAPOR.

Tia Carmem, sempre muito devota às tradições, nunca deixou de aproveitar a época de natal para manifestar a sua fé, deixando o apartamento mais acolhedor e alegre, decorando-o com figuras sacras, coroas de flores, luzes, árvores e presépio, uma verdadeira catequese doméstica. Ela estava ajeitando a manjedoura no presépio no momento em que passei por ela na sala.

— Tô de saída, tia.

Quando se virou em direção a minha voz, seus olhos cresceram atrás dos óculos.

— Que roupa é essa, Maria Victória? Perdeu a noção do perigo? Quem te deu isso?

— A Fran que me deu. Ela me deu o vestido e o sapato. Gostou?

— Gostei. Gostei muito sim. Mas é um tanto curto demais, não acha?

— Não acho. É um look moderno. Totalmente compatível para uma garota da minha idade.

— Se é compatível ou não, essa certeza eu não tenho. Só sei que se no meu tempo de mocinha eu vestisse uma peça tão curta assim, eu não pisava os pés nem na calçada.

— Eu imagino. Ainda bem que agora os tempos mudaram.

— Os tempos realmente mudaram, Maria Victória, mas como diz o padre, para muito pior. Muuuito pior. Muito pior, mesmo. A propósito, você se arrumou para sair? Onde pretende ir a essa hora da noite?

— Vai começar o Natal Inclusivo. Hoje é a chegada do papai Noel cadeirante. Eu e a Fran combinamos de ir ver juntas.

— Justo hoje?

— É, por quê?

— Porque hoje vai passar o especial de fim ano do Padre Fábio de Melo na tevê. Todos os anos a gente assiste juntas. É uma tradição nossa.

— Tudo bem, tia, eu entendo, mas não vai faltar oportunidade da gente sentar e assistir junto. Amanhã o show vai estar no YouTube com certeza.

— Não é a mesma coisa.

— É sim. E outra, especial de fim de ano do Padre Fábio de Melo tem todos os anos. Já o Natal Inclusivo pode ser o primeiro e o último.

— Porque esse evento é tão especial para você, Maria Victória. Posso saber?

— A resposta para a sua pergunta, tia, tá na bíblia. Lá consta que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. O Natal Inclusivo veio resgatar justamente esse sentimento. O sentimento de amor pelo próximo. Sem a necessidade de promessas, nem julgamentos.

Tia Carmem ficou em silêncio por tanto tempo que achei que ela não ia responder. Eu já estava me preparando para ouvir suas recriminações habituais do tipo "acho que você está andando com muitas más companhias", mas isso, inacreditavelmente, não aconteceu. O que escutei no lugar foi:

— Por mais que possa soar estranho, eu fico feliz de ouvir isso.

Estranhei a reação.

— Por que feliz?

Ela me sentou no sofá com ela e me reconfortou num abraço forte.

— Porque essa é a comprovação de que o padre Aleph tem mais que razão quando diz que o seu futuro vai ser brilhante. Ah, minha pombinha... Você não imagina o quanto é especial para mim. O quanto eu aprendo todos os dias com você a ser mais forte. Eu te amo muito.

O Antidepressivo Amoroso Perfeito (Completo)Where stories live. Discover now