13. Surto de Histeria

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A JUVENTUDE É COMO UMA MONTANHA-RUSSA QUE SÓ SOBE CUJO PONTO MAIS ALTO É SEMPRE A PARTE MAIS EMOCIONANTE DELA.

Percorrer trilhos em uma espécie de trem com relativa velocidade sucessivas vezes, saltar de bungee jumping, fazer manobras radicais de skate, empinar uma moto sem capacete, acampar durante uma semana na fila de um show, tingir o cabelo de verde, azul turquesa, pink, neon... Quando estamos no auge da juventude isso tudo representa apenas um medo bobo, um desafio, um leve frio no estômago. É natural que muitos adultos – por se considerarem infinitamente mais sensatos – justifiquem este desvio de conduta afirmando que os jovens são impulsivos, rebeldes e delinquentes. Mas quer saber, pessoas adultas tornam-se medrosas no decorrer do envelhecimento; não ousam, engordam, se acomodam, perdem a habilidade de assumir os riscos... Fica a pergunta: Será que os jovens estão errados por terem o coração tão valente?

O tom alaranjado dos postes de iluminação, além de criar um cenário urbano cinematográfico, também me causava aperto no coração.

— Por que será que o Carlito não atende o celular? Já são quase nove da noite. Ele já devia ter voltado. Não, espera! Será que ele foi pego no pulo? Aah não... Como fui capaz de envolvê-lo nessa furada?

Fran se estressou cedo.

— Vick, por favor, dá um tempo! Você está me deixando nervosa.

Grilos cantavam teimosamente escondidos numa moita escura. Havia pouca luz, mal enxergávamos uma à outra.

— Jura? — ironizei. — Estamos empatadas então!

Sem capoeira, sem futebol, sem fitdance, sem pedestres ou ciclistas correndo quilômetros. Bastavam algumas estrelas invadirem o céu para que o Lago se transfigurasse em uma penumbra fantasmagórica. Ao anoitecer, a agitação típica de final de expediente dava lugar ao silêncio, abrindo espaço para que ritos noturnos pudessem ser praticados por pequenas alcateias, entre elas, os cães de rua, as corujas e os drogados.

E se porventura alguém passasse de carro em frente ao Lago naquele momento, observaria uma movimentação atípica para o horário. E muito provavelmente faria a seguinte pergunta: O que duas pós-adolescentes com figurinos excêntricos estão fazendo no meio dessa escuridão sem fim com marretas nas mãos?

— Carlito chegou! — Fran correu até o local onde ele estacionou a picape cor-de-rosa emprestada da mãe. — Então, conseguiu pegar todas as fitas?

Um sorriso malandro surgiu nos lábios dele quando exibiu duas mochilas volumosas na caçamba do veículo.

— Todas que eu encontrei, sim.

Os olhos de Fran brilharam.

— Ótimo!

— Mas não pense você que foi fácil. Por um momento pensei que não ia conseguir convencer os Martins de que eu era um amigo de longa data do filho deles. Sem contar o perrengue dos diabos que passei para sair de lá com essas mochilas abarrotadas de fitas sem que ninguém suspeitasse de nada.

Era mirabolante o nosso plano e Carlito havia ficado com a parte mais difícil dele: Apoderar-se da coleção de fitas-k7 de Guto. Para isso ele precisou dirigir até a residência da família Martins, disposto a convencer os meus ex-sogros a deixá-lo entrar no quarto do meu ex-namorado para pegar de volta um reco-reco que havia emprestado. Era tudo uma grande mentira, é claro.

Carlito me fez uma pergunta curiosa no instante em que atravessávamos uma ponte de metal rumo a uma área de árvores ipês.

— Vick, como você sabia que o Guto não estaria em casa hoje à noite?

— Ele faz espanhol às terças e de lá ele vai direto para a congregação e só volta para casa depois das dez.

— E você sabe me dizer o que aquele infeliz tem contra mim?

O Antidepressivo Amoroso Perfeito (Completo)Where stories live. Discover now