O segredo de Ethan

Capítulo 16 - A acusação

Meu corpo inteiro ficou gelado e paralisado com a notícia inesperada. Meu estômago revirou dolorosamente e por um momento tive medo de vomitar ali mesmo, nos pés de Dante.

Eu não conhecia realmente aquela mulher, mas mesmo sabendo o tipo de mãe horrorosa que ela era, ainda assim não consegui ser indiferente à morte dela.

Afinal uma pessoa havia morrido, não, pior! Uma pessoa havia sido assassinada, e por mais que agora eu vivesse em uma realidade onde todos são animais capazes de se matar, bem... Eu ainda não estou acostumado com isso.

Animais capazes de se matar... Animais capazes de se matar... Animais capazes de...

Essa frase retumbava na minha mente sem parar, ela parecia estar gravada em meu interior, o que só aumentava o meu desejo por vomitar. Era como se meu subconsciente quisesse dizer algo... Ah, não!

O Lobo dentro de mim, ele não faria isso... faria?

Esperei por uma replica, esperei por uma resposta dura e defensiva da parte dele. Eu até desejei que ele ficasse ofendido por minha desconfiança, mas... O silêncio que agora reinava dentro de mim confirmava tudo... Sim, ele faria isso.

Dante ainda me contava em voz baixa os pequenos detalhes dos recentes acontecimentos, mas eu já não o escutava realmente. Minha mente parecia uma televisão antiga em um canal fora do ar, só havia uma estática chata causando um chuvisco ao fundo.

— Ethan? Aonde você vai? Tá tudo bem? — Dante chamou minha atenção quando comecei a andar para longe dele sem um rumo propriamente definido. Eu nem mesmo percebi que estava fazendo isso até ele me segurar pelo braço.

— Vou... ali... e... já volto. — Respondi sem realmente pensar no que estava dizendo. Isso acabou soando como uma desculpa esfarrapada para fugir, o que de fato era, então tentei concertar isso o melhor que pude — Vou à cozinha... Pegar um pouco d'água e... Tentar me acalmar.

— Quer que eu vá com você? — Ele parecia estar preocupado, sua voz até soou angustiada.

— Não! — Neguei rapidamente, mas ao perceber que isso era suspeito, eu logo suavizei minha voz antes de prosseguir — Vá ficar com as crianças, aposto que elas estão arrasadas e assustadas... Eu logo irei me unir a vocês na sala. — Acariciei o rosto dele e tentei lhe sorri com tranquilidade.

Dante então me encarou pelo o que pareceu ser um longo minuto... Droga! Será que minha expressão estava entregando todo o jogo?

— Tudo bem então. — Ele suspirou consternado, parecia ter percebido que era melhor não me pressionar agora. Ele então retornou para sala a passos lentos, me deixando só no corredor.

Sem sequer esperar um segundo para ter certeza de que ele havia ido, eu apenas corri para cozinha e fui direto até a pia. Não sabia se realmente iria vomitar, mas por via das dúvidas era melhor não vacilar nessa situação. Eu não queria passar os próximos minutos limpando a minha bagunça.

Em pé diante do balcão senti vontade até de enfiar a cabeça embaixo da torneira e liga-la, mas estava frio demais para me molhar agora, mesmo estando dentro de casa com o aquecedor ligado, então me contive.

Lobo... Lobo, você está aí? Fale comigo.

Não ouve resposta.

Não suma agora seu filho da... Apareça e venha me contar o que você fez... Foi você, certo? Você esperou o Dante e o Dylan dormirem para... Para matar aquela mulher, não foi?

Novamente não houve resposta.

Isso me irritou mais do que tudo, pois no dia anterior ele não parou de falar dentro da minha cabeça. E também ele nunca perdeu a oportunidade de me atormentar e aterrorizar por nada neste mundo, então por que agora ele não responde?