CAPÍTULO 1

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A GAROTA MISTERIOSA

Derick

As nuvens acinzentadas estenderam-se pelo céu assim que o novo dia surgiu, era de se esperar que o sol fugisse mais uma vez de nossos olhos, porém não era esse o conflito que acontecia na minha cabeça. Eu estava refletindo sobre o que tinha acontecido em Freedom, bem debaixo do nariz do meu pai e ele nem havia percebido. É claro que eu não poderia deixá-lo perceber ou as coisas fugiriam do controle. A razão pela qual eu costumava esconder as coisas era exatamente porque eu já tinha escolhido ser o alvo do desapontamento, encarar as pessoas como um obstáculo sempre foi um objetivo para mim, afinal elas esperavam muito que eu fosse um futuro rei orgulhoso e perspicaz, então por que eu não deveria zombar das expectativas que criavam? Eu só esqueci de pensar no que poderia dar errado. E o erro foi aceitar viajar com o meu pai, um homem sério e um tanto ambicioso. O motivo do seu envolvimento nessa aventura se resumia em um acordo - eu diria que até mais rigoroso que um pacto - que estabeleceria a paz entre os dois reinos e se acaso houvesse rompimento o culpado teria que pagar com a morte. Entrementes, eu não estava me importando com isso, eu nem devia ter acompanhado o meu pai nessa viagem de três dias. Foi um tormento desde o começo. Mas ele insistiu, arrastou o meu corpo e espírito até um ninho de cobras só para me ensinar como é ser rei, um bom rei.

Voltando para o momento insuportável dentro da carruagem que direcionava-se o mais rápido possível para o nosso castelo, percebi que já estávamos passando pela floresta. A sensação de liberdade era imensa e eu só queria fugir do sermão que o meu pai estava me dando por me comportar como um animal no reino de Uriel, como se eu fosse o pior de seus problemas. Eu não costumava me abater por qualquer coisa, mas ele tinha um olhar profundo e afiado como a lâmina de um punhal e isso era capaz de me rasgar por dentro mesmo eu andando por aí como um estupido que não se importava com opiniões alheias. Contudo, antes que eu continuasse admirando a floresta, uma figura distorcida passou entre as árvores e tentei fixar meus olhos nela, o que foi em vão, mas mesmo com a rapidez para se esconder de nós eu pude adivinhar o que era. Uma garota. Então eu me questionei por qual motivo, circunstâncias, ela estava parada nos observando e de repente desapareceu? Não era comum haver exploradores nessa região da floresta, apenas caçadores ou viajantes com a intensão de pegar um atalho. O que uma donzela fazia nesses arredores sozinha? Parando para refletir melhor, a floresta era uma dádiva para todos os Cursedianos e podiam usufruir de seus benefícios a todo momento, pois não existia nenhum perigo, eu não precisava me preocupar com a garota. Vivenciando esse momento estranho, acabei me lembrando do reino e que eu já estava com muita saudade dos meus amigos, eu precisava da companhia deles, eram minha gaiola libertina. Não tinha curtido muito o silêncio na carruagem como eu gostaria, e meu pai resolveu tomar a minha atenção estalando os dedos na frente dos meus olhos e pude novamente encará-lo como um filho desobediente de braços cruzados, isso já tinha caído na rotina. O que é que eu poderia oferecer a ele? Minhas sinceras desculpas por protegê-lo do outro reino? Não parece justo. Se ele soubesse o traidor que Uriel era...

- E mais uma vez você me ignorou, Derick não é tão difícil aceitar que eu estou certo. Você não acha que já está na hora de crescer?

- Eu estou ouvindo. - Falei.

Assim ele fez o velho costume de tirar seu capuz dourado e se envergar para olhar dentro dos meus olhos castanhos escuros. Como se isso funcionasse comigo.

- Você vai parar de agir como um delinquente?

- Vou. Agora podemos mudar de assunto? Podemos?

A floresta continuava silenciosa como sempre fora desde minha primeira aparição, o cheiro de hortelã era impregnante no ar, minha mãe também adorava esse lugar. Era o que nos mantinha próximos. Mas devido a saúde dela nossa relação tinha piorado, minha mãe não podia mais sair do castelo e eu evitava ficar lá, pois não queria olhar dentro dos olhos dela e me recordar da tragédia que ocorreu naquele dia. Eu era tão pequeno, tão ingênuo, mas mesmo assim não consigo me perdoar. Então eu mudei minha personalidade, me tornei um pouco grosseiro para que as pessoas não me admirassem ou quisessem minha companhia, as outras pessoas do reino, não meus amigos. Eu precisava deles. Meu pai desde então quer me transformar em sua cópia perfeita. Ele estava me encarando como uma águia, zangado e não demorou muito para que me repreendesse novamente.

A Garota Das RosasWhere stories live. Discover now