prefácio:

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LUDWIG WITTGENSTEIN

CULTURA E VALOR

Lisboa: Edições 70, 1980

PREFÁCIO:

No material manuscrito deixado por Wittgenstein existem muitas notas que directamente não pertencem às suas obras filosóficas, embora se encontrem dispersas e misturadas com os textos filosóficos. Algumas das notas são autobiográficas, outras referem-se à natureza da actividade filosófica, e outras dizem respeito a assuntos de caráter geral, tais como questões sobre a arte ou religião. Nem sempre é possível separá-las nitidamente do texto filosófico; contudo, em muitos casos, o próprio Wittgenstein deixou entrever essa separação – utilizando parênteses, ou de outra maneiras.

Algumas notas são efêmeras; outras, por outro lado – a maioria – têm um grande interesse. Por vezes, são admiravelmente belas e profundas. Tornou-se evidente para os executores literários que uma parte das notas se deveria publicar, e eu próprio fui encarregue de fazer e organizar uma selecção.

Tratava-se, incontestavelmente, de uma tarefa difícil; em várias ocasiões, tive diferentes ideias sobre como levá-la a cabo da melhor maneira possível. Para começar, por exemplo, pensei que as notas se podiam organizar conforme os assuntos nelas tratados – como 'música', 'arquitetura', 'shakespeare', 'aforismos sobre sabedoria prática', 'filosofia', etc. Por vezes, as notas podem assim ordenar-se sem esforço; mas, geralmente, a separação do material por este processo daria provavelmente uma impressão de artificialidade. Além disso, eu tinha pensado, durante um curto período de tempo, em incluir material já publicado. Muitos dos 'aforismos' mais impressionantes de Wittgenstein encontram-se nas suas obras filosóficas – nos cadernos de apontamentos da primeira Guerra Mundial, no Tractatus e também nas investigações. Gostaria de dizer que é quando se encontram em tais contextos que os aforismos de Wittgenstein exercem, e facto, o seu mais poderoso efeito. Mas precisamente por essa razão não me parecia correto arrancá-los ao seu contexto.

Durante um curto período de tempo, pensei também não fazer uma seleção muito vasta, mas incluir apenas as 'melhores' notas. A impressão criada pelas boas notas só poderia ser enfraquecida, segundo pensava, por um grande volume. Isso é, provavelmente, verdade – mas não permitia confiadamente escolher entre as formulações repetidas do mesmo, ou praticamente do mesmo, pensamento. Muitas vezes, as próprias repetições pareciam-me estar relacionadas com a própria natureza do assunto.

Por fim, decidi-me pelo único princípio de seleção que me parecia incondicionalmente correcto. Excluí da compilação as notas de tipo puramente 'pessoal' – isto é, notas em que Wittgenstein faz observações sobre circusntâncias externas da sua vida, sobre o seu estado e espírito e as relações com outras pessoas – algumas das quais ainda vivas. Estas notas foram, de um modo geral, fáceis de separar do resto e o seu nível de interesse é diferente do das notas aqui dadas à estampa. Só em alguns poucos casos em que as duas condições pareciam não estar reunidas incluí, também, notas de natureza autobiográfica.

As notas publicam-se aqui segundo uma ordem cronológica, com uma indicação do seu ano de origem. É notável o facto de praticamente metade as notas provir do período subsequente ao acabamento (1945) a primeira parte das investigações filosóficas. Na ausência de explicações adicionais, algumas das notas revelar-se-ão obscuras ou enigmáticas para um leitor que não se encontre familiarizado com as circunstâncias a vida de Wittgenstein ou com aquilo que ele lia. Em muitos casos, teria sido possível fornecer comentários esclarecedores em notas de pé de página. Abstive-me, contudo, com muito poucas excepções, de incluir comentários. Seria conveniente acrescentar que todas as notas de rodapé são da responsabilidade do editor.

É inevitável que um livro deste tipo venha chegar às mãos de leitores para os quais a obra filosófica de Wittgenstein é, e continuará a ser, desconhecida. Isto não é necessariamente prejudicial ou inútil. Estou, no entanto, convencido de que estas notas apenas se põem devidamente compreender e apreciar contra o pano de fundo a filosofia de Wittgenstein e, além disso, que elas contribuem para a nossa compreensão dessa filosofia.

Comecei a fazer a minha seleção a partir dos manuscritos nos anos de 1965 – 1966; pus em seguida o trabalho de parte até 1974. O Sr. Heikki Nyman ajudou-me na selecção final e na ordenação da compilação. Verificou também a concordância exacta entre o texto e os manuscritos e eliminou muitos erros e lacunas do meu original dactilografado. Estou-lhe muito grato pelo seu trabalho, realizado com imenso cuidado e bom gosto. Sem a sua ajuda, não teria sido provavelmente capaz de conseguir completar a compilação para ser impressa. Estou também profundamente grato ao Sr. Rush Rhees pelas correcções feitas ao texto por mim produzido e pelas opiniões preciosas que me deu sobre questões de selecção.

Helsínquia, Janeiro de 1977

Georg Henrik Von Wright

(prefácio do livro CULTURA E VALOR de Ludwig Wittgenstein, assim como vou digitalizar a obra toda, sinto demasiado importante enunciar os prefácios ou as introduções aos livros de Wittgenstein, muitas das vezes foram fundamentais no entendimento da obra como um todo ao mesmo tempo que é fascinante observar o desenrolar e desenvolver das tramas sócio-acadêmico-literárias-epistêmicas que surgem a partir das referências contextuais e procedimentos ordinários para a consecução de uma obra de tal porte, como sempre lembro, não deixem de comentar, questionar, seguir, votar mas, sobretudo, ler e se divertir com a arte de ler, agradecido – ainda esta semana tem mais material)

CULTURA & VALORWhere stories live. Discover now