"Eu vejo ela..." permaneci em silêncio pois, além de não estar surpresa, sabia que ele não havia terminado. "Em todo lugar da casa, Sage. Eu sinto ela. Sinto seu cheiro e também sua presença... isso me assusta." Confessou "Ela deixou de ser minha Mãe para se tornar um fantasma." Sua voz está tão trêmula quanto suas mãos, e eu as tomo para mim. Envolvo-as com as minhas mesmo que elas sejam maiores e ásperas. Aperto-as tomando cuidado com os hematomas, tento passar para ele a confiança que eu não sentia, mas queria que ele soubesse que eu estava ali. Ele não estava sozinho.
"Eu não posso ficar lá sozinho. Tenho medo de virar um fantasma também..." o nó que subiu a minha garganta, quase jogou para fora todo o ar dos meus pulmões. Eu não sabia o que fazer, não tinha ideia de como ajudar. Eu não podia trazer sua Mãe de volta.
O abracei. Mas eu sabia que aquilo nunca seria o suficiente.

A partir daquele dia, nunca mais o deixei dormir sozinho.
Mas tinha dias que ele não dormia. Às vezes eu acordava de noite e ele estava lá, olhando para a parede ou até mesmo para mim. Sempre que tinha a oportunidade de se embriagar ele fazia. Me chamava para festas todos os finais de semana, e se eu sugeria que ficássemos em casa ele achava que eu estava duvidando de sua integridade mental e de seu autocontrole então, saia sozinho.

Nosso relacionamento não está um mar de rosas cheio de compreensão e empatia. É difícil lidar com esse momento de Harry porque, mesmo que eu imagine o quanto deve estar sendo difícil para ele, eu ainda não posso saber como realmente é estar em seu lugar.
Existem momentos em que eu me sinto egoísta pensando sobre o quanto isso vai durar e quando vai passar, quando ele vai voltar a ser ele para voltarmos a ser nós. Me sinto culpada por às vezes me sentir cheia desse novo caráter autodestrutivo que Harry desenvolveu. Me sinto culpada por pensar que não tenho a obrigação levantar no meio da madrugada - pois não consigo dormir de qualquer jeito - apenas para ir resgata-lo quando está se metendo em brigas.
Mas ao mesmo tempo quero cuidar dele, abraçá-lo e fazer ficar tudo bem. Eu realmente sinto amor por ele. Mas isso não torna as coisas muito mais fáceis.

Apesar de tudo, continuo aqui, acompanhando toda essa reviravolta em sua vida, lidando com sua nova personalidade e, quando vejo Zayn arrastando Harry porta à fora daquela festa enquanto ele grita palavrões e tenta resistir, eu não me surpreendo.

Um amontoado de pessoas está se movimentando, um garoto tenta ir pra cima de Harry que tenta brigar de volta, mas Zayn, sem paciência alguma chuta - literalmente - Harry para fora, e se vira com uma falsa calma para tentar impedir o garoto desconhecido - com a camisa coberta de sangue - de quebrar a garrafa que ele estava na mão na cabeça de Harry. Corro até meu amigo tentando assimilar algo.

- Zayn? Que porra está - antes que eu possa concluir a frase ele vira para mim gritando com um desespero aparente.

- Sage vai atrás do Harry e esconde ele na sua casa ou em outra porra de lugar. Se não, eu mesmo arrebento o filho da puta! - Eu saí correndo porta à fora assim que ele terminou a frase.

O vento estava cortante de tão gelado. Minha blusa não o impedia de ricochetear em minha pele e, apesar da neblina embaçar a minha vista, eu ainda conseguia ver o corpo alto e bêbado de Harry cambaleando a alguns metros de distância. Corri até ele que estava tossindo desenfreadamente, sem blusa, apenas uma camisa surrada que também tinha sangue.

- Harry! - Gritei e Ele virou para mim segundos depois como se o som tivesse chegado gradativamente em seus ouvidos. Seu sorriso torto me fez ter vontade de socar sua cara.

- Saige! - Ele pronunciou embolado. Puxei seu rosto entre minhas mãos examinando se havia algum machucado nele.

- Harry, o que aconteceu? - Não havia nenhum hematoma nele, o que me deu um pouco de alívio mas também permissão para parar de me preocupar e sentir raiva.

SAGE. || H.SWhere stories live. Discover now