0.2 | the first day

Começar do início
                                    

Desci e pude vê-lo sorrir discretamente, enquanto esperava encostado à parede da sala.
- Assim está melhor. - proferiu à saída.

Ignorei o comentário . Entramos dentro do carro e a viagem foi feita somente ao som da rádio.
Já tinha ido algumas vezes ao seu clube, mas nunca para trabalhar. Subitamente senti como se estivesse a ir para um lugar completamente distante e paralelo.

Rapidamente chegamos, devido ao pouco tráfico. Logo pude ouvir o som de musicas eróticas a tocar ao aproximar-me da porta das traseiras. Engoli em seco, adentrando pela zona de acesso direto aos camarins. Um homem alto e musculado, indicou-me uma sala e disse para aguardar.
Assim o fiz.

Não vira mais o meu pai entretanto, o que, de um modo estranho, me acalmou o nervosismo. A situação em si era demasiado estranha para ter o meu pai ao meu lado - ainda para mais estando habituada a não o ter a meu lado para nada.

Estava perdida nos meus pensamentos quando alguém entra pela porta de repente, fazendo-me rapidamente levantar. Deixei escapar um suspiro de alívio , vendo que era apenas Rafaela, uma das empregadas que trabalhava no bar.

- Disseram-me que cá estavas e vim ver como te estás a sair. Não que haja muito a dizer porque ainda nem foste chamada para ir lá para fora. - A jovem morena começou a divagar, parando segundos a seguir ao ver a minha expressão nervosa. Sentou-se ao meu lado. - Não te preocupes, o teu pai só te vai por a servir às mesas, nada de mais. - disse com um sorriso reconfortante enquanto balançava as pernas.
Rafaela era o que eu tinha de mais parecido com uma amiga, julgo eu. Raramente nos vemos, mas sei que posso falar com ela abertamente. 

O seu irmão tem a minha idade e frequentamos a mesma escola. Conhecemo-nos, curiosamente, num evento escolar há dois ou três anos. Ambas estávamos sozinhas no meio da multidão de casais de meia idade e grupos definidos de amigos.

Pelo que percebi ao longo da nossa conversa, e das ordens que nos foram dadas entretanto, ambas íamos ficar encarregues do serviço ao balcão e às mesas, o que me deixou um pouco mais aliviada pois, ao menos, ia trabalhar com alguém que conheço.

Ela e eu temos pontos em comum. Ambas somos filhas de prostitutas, não somos próximas da família e, pelo que sei, ambas somos virgens, mesmo ela sendo quatro anos mais velha. 

Fomos interrompidas por alguém a bater à porta, entrando de seguida:
- Vocês as duas - parou para apontar para cada uma de nós - vão para o balcão, isto vai começar a encher a partir desta hora.
Assentimos e deslocamo-nos para a parte do bar. Era já visível alguma fila do lado de fora, apesar de serem ainda perto das onze horas.

Concentrei-me no trabalho, numa tentativa de ignorar o facto de estar seminua publicamente, e fui encaminhando os pedidos e servindo às mesas; devo dizer que não era tão mau como aparentava. De vez em quando havia algum sujeito que tentava algo mais, mas nada incontrolável - ou talvez o meu subconsciente me tivesse preparado para o pior cenário possível. Estava à espera de algo diferente, mais extremo. A minha insegurança quanto à lingerie foi aligeirando ( dentro dos possíveis), pelo facto de não ser a única nessa situação, e também porque grande parte do meu tronco estava coberta por um tecido preto, que, segundo a Rafaela, informava os clientes de que me encontrava apenas a servir ao bar, e nada mais. Portanto, feitas as contas, não era a única seminua e não era a mais seminua do estabelecimento - há que ter pensamento positivo.

Era também já notável que grande parte dos homens que frequentavam o espaço, estavam fortemente alcoolizados. Muitos eram encaminhados para fora do club, mas outros acabavam por subir para uma das luxuosas e caríssimas suites do club, acompanhados por uma prostituta. Reparei ainda que, mesmo tendo em conta o estado do cliente, a maioria delas leva consigo uma garrafa de champagne extra ao subir.

Fui surpreendida por um cliente que, em vez de me entregar o dinheiro, o colocou na borda do meu soutien. Achei o gesto porco, visto que me tentou tocar, mas ignorei e continuei o meu trabalho, decidida a enfrentar a noite o mais calmamente possível. Fui acompanhando as danças que tomavam conta do palco, comentando sempre que possível com a Rafaela.

Passava das duas da manhã quando fui informada de que a minha primeira noite estava terminada. Informaram-me que esta noite foi apenas para ver o ambiente e que só amanhã é que começaria a trabalhar efetivamente.
Saí novamente pelas traseiras, avistando de seguida o meu pai com mais uma qualquer vadia. Era diferente encarar estas mulheres fora das paredes do clube.
Entrei no carro, desta vez na parte de trás, e seguimos viagem.
Logo que o carro foi estacionado, apressei-me e abri a porta da moradia entrando rapidamente, sabendo o que se iria passar a seguir. Subi para o meu quarto e aterrei mal vesti o pijama. Sentia-me exausta, os meus pés doíam e decidi que não valia a pena levantar-me para retirar a maquiagem. Adormeci a pensar nos melhoramentos que tenho de fazer ao nível do cuidado da minha pele.


atualizado: 18/4/2019

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