0.1 | story of my life

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    NA

Devido à revisão dos capítulos, uma grande parte dos comentários por excertos ficarão excluídos dos respetivos parágrafos. Contudo, foram lidos e arrancaram muitos sorrisos e risos.

 Obrigada. Por todo o apoio e carinho.

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- Alison acorda! - ouço batidas fortes na porta, fazendo-me abrir os olhos alarmadamente - Estou a chamar-te há imenso tempo! Se queres boleia para a escola tens vinte minutos. 

É assim que eu acordo todas as manhãs.  Levantei-me e abri a persiana do meu quarto, deixando os primeiros raios de sol do dia entrar.

O meu nome é Alison Carter, tenho 17 anos e sou britânica, nascida e criada na periferia de Londres. 

Encontro-me a terminar o 12º ano e, contrariamente às minhas vontades, não irei continuar os meus estudos, pelo menos para já. O meu pai quer que eu trabalhe no bar dele.

Se eu estou feliz?
Nem um bocadinho

Não saberia qual curso escolher se me fosse dada a oportunidade. Talvez psicologia ou marketing. Por um lado é bom que me tenha sido imposto o próximo passo da minha vida pois tirou-me de cima a responsabilidade de o fazer. No entanto não me consigo imaginar feliz com esse futuro que me foi imposto.

"Mas qual é o mal de trabalhar num bar?" - perguntam com certeza muitas pessoas. 

Tem mal se for um Bar de Strip.

O Meu pai é o dono de um dos maiores Strip Clubs de Londres. Conheceu a minha mãe num deles até. Era uma das prostitutas mais bem pagas na altura. Morreu quando eu nasci, no entanto não acho que seja um assunto que me afete muito emocionalmente. Não tenho lembranças dela, mas segundo o meu progenitor (de acordo com uma das poucas conversas normais que tivemos) as minhas feições igualam-se às dela. O que deve ser verdade, presumo, pois os meus cabelos loiros platinados e o tom marinho da da minha íris não provieram do meu pai.

Segundo os meus tios, ele nunca me quis. Fui uma surpresa para ambos. Ainda assim, a minha mãe quis prosseguir com a gravidez. Acabei, no entanto, por não ficar à sua guarda devido a complicações no pós-parto. O meu pai viu-se obrigado a acolher-me, mas deixou sempre claro que ser pai não foi escolha dele. Nunca falamos para além de alguns cumprimentos e curtos diálogos ocasionais. É assim desde pequena, ou pelo menos desde que me consigo lembrar.

A minha rotina consiste em ir para a escola e ver o meu pai chegar a casa alcoolizado, com uma das prostitutas do seu bar.
Praticamente já o vi a foder com uma à minha frente.

Dei por mim a pensar nessa imagem enquanto vestia uma roupa confortável à velocidade da luz. 

O meu trabalho no bar irá ser apenas como empregada de mesa, naturalmente. Mesmo repudiando a ideia, o meu pai diz que tenho de começar a ganhar a vida (se existem milhares de outros trabalhos no mundo? Sim. Se o que o meu pai quer é que eu contra-argumente uma ideia que ele anda a plantar há meses? Não. ) Das únicas vezes que lá fui, não fui capaz de aguentar os meus sentidos por muito tempo. Pensar na quantidade de homens nojentos que frequentam o seu estabelecimento, dá-me vómitos. Todo o conceito de pagar por sexo suscita-me repulsa.

O meu pai levou-me rapidamente até à escola e logo tocou, indicando que mais um dia secante de aulas iria iniciar. Detesto biologia...

...

O toque final soa pela escola inteira, fazendo as vozes dos docentes serem substituídas pelo som de cadeiras a arrastre-se e o típico burburinho de uma escola secundária.
Saí rapidamente e fui a pé para casa.

Amigos? Não sei bem o que isso é.
Habituei-me a não confiar nas pessoas.
Apenas segui as indicações do meu pai, que, ainda não sendo o tipo ideal, parecia saber do que falava quando me aconselhava no seu estado não sóbrio: "Nunca tenhas 100% de certezas de que uma pessoa não te irá magoar, é nessas alturas que elas nos surpreendem". Por vezes deixava algumas mágoas escapar em tom de desabafo. Creio que as palavras de uma figura parental surtem um grande efeito no cérebro de uma criança, por muito descontextualizadas que lhe surjam. 

Tal como amigos, não sei o que é ter um namorado.
Nunca tive nenhum - bom, é complicado. Vivenciei apenas uma espécie de Summer Love que não me parece querer voltar a repetir.
Ainda assim sou completamente virgem - uma coisa rara nas adolescentes de hoje em dia, segundo o que me é permitido perceber a partir de conversas alheias que percorrem os corredores e balneários da escola. Dou por mim a pensar na ironia de trabalhar num Strip Club com a minha inocência e timidez.

Cheguei a casa e, como era habitual, encontrava-me sozinha. Almocei qualquer coisa que encontrara no frigorifico e entrei no tumblr, a rede que me parecia entender e onde me perdia por horas. Não adiantava muito ir ao facebook ou ao twitter, visto que não conheço ninguém e os meus "colegas" não fazem propriamente o meu género.

Passei a tarde toda à frente do computador e quando dei conta eram 21.00h.
Suponho que a maioria dos pais  faria algum tipo de reclamação em relação ao tempo excessivo que passo em frente a um ecrã, mas como era óbvio, o meu nem sequer estava presente. 

Decidi comer uma refeição pronta que havia no congelador. Ainda insatisfeita, fiz também uma taça de leite com cereais.

Não tinha terminado quando ouvi a porta de entrada a ser aberta, e os passos pesados de um corpo totalmente totalmente bêbado a entrar, bem como o som de saltos finos a bater no soalho.

Chegaram cedo hoje, pensei para comigo. Não era, de todo, comum chegar antes da meia noite ou uma da manhã.

Subi para o meu quarto enquanto ouvia gemidos altos saídos da cozinha. Nada a que não estivesse habituada, infelizmente. Mas se hoje fosse um dia de sorte, eles ficariam apenas pela cozinha e eu poderia ainda ter um pouco de descanso.

Tomei um banho relaxante e deitei-me, preparando-me para o dia seguinte.

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Publicado originalmente a 7/10/2014

xx

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