Sinto Muito 2/3

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Agora estou no quarto em que mamãe e Melody dormem. Estávamos todas as mulheres juntas. Carla estava cuidando dos cabelos do Pedrinho, Melody arrumava os cabelos de Carla, Anahí arrumava os cabelos de Melody, eu arrumava os cabelos de mamãe e Raquel arrumava os meus.

- O que achou das mangas que eu consegui achar para você comer hoje de manhã, filha? - Falou minha mãe.

- Elas estavam com um gosto estranho, diferente do que eu me lembrava.

- Mas eu experimentei uma, estava deliciosa.

- Ignoro, estavam com um gosto diferente, tanto que acabei passando mal.

- Passando mal de novo... - Disse mamãe pensativa, Melody e Carla viraram para trás e me encararam.

- Senhora - Disse Raquel - posso te fazer uma pergunta?

- Diga.

- A quanto tempo a senhora não sangra? - Olhei para todas que me encaravam ansiosas pela resposta. Sacudi a cabeça negativamente.

- Não, não pode ser.

- Eu vou ser vovó - Disse Melody - Anahí, nós vamos ser vovós! - Todas me parabenizaram, riram e comemoraram.

- Não pode ser, está muito cedo e aqui não é um lugar muito seguro para se estar grávida.

- Muito cedo? - Pergunta Carla - Amélia, você já tem vinte anos, já está velha isso sim.

- Tenho que concordar com Carla - Disse Melody - Na sua idade eu já estava com o meu segundo filho nos braços.

- Vocês se casaram cedo demais. - Disse me defendendo.

- Minha filha, na nossa época, se uma moça passa dos dezessete ainda solteira, ela já está velha. - Falou minha mãe.

- Sabe o que é isso, senhora Anahí? - Interferiu Carla - Foi a liberdade descontrolada que Jonatas deu a ela.
Ele nunca a incentivou a procurar um marido ou algo do tipo.

- Seu pai também não. - Retruquei.

- Ele nunca precisou, aos dezesseis anos eu já estava me casando com Osvaldo.

- Tu e o teu gosto terrível.

- Ele é um ótimo marido.

- E um péssimo compadre. Arrogante e sempre menosprezando nossas origens. Um dia tu verás que eu não erro.

- Pensando pelo lado de que nós saqueávamos pessoas como ele, ele tem total razão.

- Talvez. Mas Jonatas nunca errou em me criar, ele sempre me apoia em tudo e não queria que eu fosse só mais uma mulher seguindo as regras impostas pela sociedade.

- Tem razão, ele sempre passou a mão na sua cabeça para tudo.

- Ele cuidou de mim. Ele largava a farra dele e vinha ficar comigo toda vez que eu acordava desesperada no meio da noite com medo dos meus pesadelos e ficava comigo até eu dormir de novo. Era ele que sempre me dava remédios quando eu ficava doente, embora fosse difícil me convencer a tomar. Era ele que me defendia quando por algum motivo eu entrava em uma confusão, foi ele que me ensinou a ler e escrever e falar outras línguas, era ele que me contava histórias para que eu dormisse. Foi ele que me ensinou a lutar desde quando eu tinha cinco anos. Ele foi o pai que eu não tive. Ele me criou como se cria um homem, para que eu lutasse pelas as mesmas oportunidades que um.

- Eu lembro, papai me treinava junto com ele, ficamos usando um bastão até os nove anos, aos dez pegamos num punhal, e aos treze uma espada.

- De fato. Lembra de quando eles iam a algum lugar e se surgisse alguma coisa, imprudência ou batalha, eles nos colocavam no...

Estrela NegraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora