27 - Novidades - Lana.

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Saí apressada de casa. Vesti uma roupa bem leve e confortável pro calor da cidade, não era muito vantajoso ir trabalhar toda arrumada, já que lá eu teria que colocar o avental da cafeteria da mesma forma. 

Fui andando pela rua feito louca, como de costume. Meu cabelo, amarrado num coque, pedia pra se soltar e mostrar seus movimentos, mas o calor estava grande pra andar de cabelo solto. As pessoas andavam pela cidade loucas como eu. Os carros buzinavam como numa orquestra. A cafeteria é logo perto da minha casa e eu fui o caminho todo imaginando Tia Rosa me dando uma bronca. Enumerei na minha mente várias desculpas que eu poderia dar. É evidente que, financeiramente, eu não precisava daquele emprego. Porém, nem tudo na vida se resume a dinheiro. Sair pra servir café era algo que preenchia meu ser, eu me sentia grata. Uma vez, me pondo pra dormir quando eu tinha 9 anos, meu pai me disse que devemos buscar na vida coisas que nos transborde amor, que nos acrescente algo de bom. Por mais simples que seja, toda tarefa pode te ensinar algo novo e servir café me tornou uma pessoa mais empática e responsável. É claro que eu ainda quero ser médica, mas esse sonho fica pra depois.   

Empurrei a porta de vidro da cafeteria e entrei sentindo o cheiro maroto de café. As pessoas batiam papo e gargalhavam simultaneamente. Me aproximei do balcão e, assim que Márjore me viu, fez uma careta.

— Onde você estava? — Sussurrou ela, indignada, porém fofa como sempre.

— Eu perdi o horário! Aconteceu uma coisa com a ex de Ben, depois te conto melhor!

— Certo, tá perdoada! — Disse ela, agora com um sorriso meigo, porém ainda tenso. — Mas você precisa ir falar com tia Rosa, ela me disse pra te mandar pra lá assim que você chegasse!

— Ela me ligou 5 vezes! Acredita?

— Nossa, tem ideia do porque?

Fiz que não com a cabeça. 

— Certo, vai logo lá! — Disse ela, apertando minha mão.

Dei as costas pra Márjore e caminhei em direção a sala de tia Rosa. Parada frente a porta, ajeitei as folgas da minha roupa e soltei o cabelo. Bati na porta.

— Entre, por favor! — Disse ela, de lá de dentro.

Logo que entrei, já estampei um sorriso gigante na cara. Sendo simpática, conseguimos tudo! 

— Bom dia, Lana! — Cortejou tia Rosa. Por incrível que pareça, ela não estava brava, mas sim, sorridente. — Sente-se.

Eu me sentei frente ao balcão dela. Tia Rosa mexia numas papeladas e permaneceu em silêncio por um tempo, o que me deixou mais nervosa.

— Viu que eu te liguei algumas vezes? — Disse ela, agora sem olhar na minha cara, somente organizando uns papéis de sua mesa.

— Oh, vi sim! — Disse eu, sem graça. — Não retornei a ligação por que me apressei para vir pra cá!

— Ah, é? E por que se atrasou hoje? Você nunca se atrasa!

— Bom... meu namorado teve uns problemas e eu acabei me envolvendo. A ex dele... foi espancada e perdeu o bebê. Tivemos que cuidar dela, ir a delegacia... — Eu disse. Claro que eu iria dizer que denunciamos o caso, ela não iria entender o pedido de Clara.

Tia Rosa parou de encarar a papelada e tirou o óculos do rosto. Depois me encarou com um olhar empático.

— Poxa, que tragédia!

— Pois é! — Concordei.

— Bom... eu imaginei que poderia ter acontecido algo. — Disse Rosa. Ela se levantou e começou a andar pela sala. — Na verdade, Lana, eu te chamei aqui por que precisamos conversar sobre você!

Vish! 

Permaneci calada, atenta.

— Daquela vez que precisei resolver uns assuntos fora daqui, você agiu super bem cuidando da cafeteria! Eu fiquei surpresa com seu jeito de arrumar as coisas, coordenar os funcionários e te garanto que se o movimento aqui dentro aumentou, foi devido a você!

— Ah, que isso! — Exclamei, estupidamente sem graça. Não sabia o que dizer.

— Eu falo sério! — Brandou ela, sorrindo. — Você realmente se saiu muito bem! Mas agora vamos ao que interessa. Eu vou dar uma folga, sabe? A cafeteria é algo que eu amo, mas que toma muito o meu tempo. Eu quero sair, conhecer pessoas, viajar... fazer coisas que nunca fiz. Eu sei que já não estou tão nova, mas não há idade pra se aproveitar a vida, não é mesmo?

Eu sorri, já imaginando onde ela iria chegar.

...

— Gerente!? — Exclamou Márjore. — Que máximo, parabéns!

Márjore me abraçou fortemente. Ela era assim, uma amiga e tanto.

— E a tia Rosa, vai se aposentar? — Perguntou.

— Não, não! Segundo ela, quer tirar um tempo de toda essa vida de trabalho e negócios e quer se aventurar, fazer coisas novas, algo do tipo!

— Poderosa ela, ein? — Brincou Márjore, agora se afastando para atender um cliente que a chamou na mesa.

Tia Rosa disse que eu poderia pensar se aceitaria ou não, e eu realmente estava em dúvida quanto a isso. Ser gerente é muito trabalhoso e tem que ter muita paixão. 

Meu telefone tocou no meu bolso.

— Oi mãe! — Eu disse, sorrindo. Fazia alguns dias que não nos falávamos.

— Oi, meu amor! Como tem passado?

— Eu estou bem, e você? — Eu disse, agora mais feliz. Era sempre bom falar com a minha mãe. — Ei, tenho uma novidade. Lembra de onde eu trabalho, a cafeteria? advinha quem acabou de ser promovida a gerente?

— Uau, filha! Parabéns! — Exclamou ela, explodindo de felicidade. — Mas você vai ter tempo pra fazer a faculdade?

— É exatamente esse o problema, mãe! Decidi não estudar agora, e sim esperar um tempinho pra eu me preparar.

— Eu achava melhor você começar a faculdade logo! Já ia terminar mais cedo! Quanto mais você demora a começar, mais tempo vai demorar para se tornar médica.

Uff!

— É, eu sei... — Respondi.

— Ei, tenho uma novidade também! — Exclamou minha mãe. — Vou passar uns dias aí, com você!

 — Vou passar uns dias aí, com você!

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A Graça das FloresWhere stories live. Discover now