6 - Na rua das flores - Benjamin.

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Eu estava destruído. Não fica assim... Ela era só sua namorada... Poderia ser pior, ela podia ser sua noiva! — Dizia a minha consciência.

Andava pela calçada, sem rumo. A sensação de perda me consumia e esmagava meu coração, mas não os meus pés. Eu ainda podia andar para onde quer que fosse. Senti meu celular vibrar desesperado no meu bolso. Olhei o visor e era o Ota —meu melhor amigo. Parei de caminhar e encarei o meu celular, indeciso se atendia ou não. Resolvi não atender, ignorando a chamada e jogando o telefone de volta no bolso. Tornei a caminhar, pulando deprimente de calçada em calçada pelas ruas de São Paulo numa noite tão fria, em todos os sentidos.

...

Percebi que era quase meia noite e eu não podia ficar vagando pelas perigosas ruas da cidade a noite toda, mas também não queria ir pro meu apartamento. Atravessei uma avenida e cheguei até a calçada de uma rua. O nome da rua, por ironia, era Rua das Flores.

Caminhei pela calçada esperando que, em algum ponto próximo, eu conseguisse sinal de internet para chamar um Uber. Repentinamente, vi algo incomum. Na calçada em que eu estava havia uma linda garota. Estava desnorteada, em frente a uma cafeteria. Olhava para todos os lados, balançando seus longos cabelos castanhos, como se esperasse um trem e não soubesse de qual direção ele viria. Me aproximei da afoita garota.

— Oi, você está b... — Perguntei, surgindo por trás dela e pondo a minha mão em seu ombro. 

— AAAHH!  

A garota se assustou, soltando um grito que ecoou por toda a rua, me interrompendo de terminar o que eu dizia. Com o susto, deixei meu buquê de astromélias cair no chão.

— Eu não queria te assustar! — Disse eu, rindo. — Vi você aflita, achei que podia ter sido assaltada ou algo pior.

O semblante dela mudou. Soltou um sorriso, mas logo se conteve. Não iria gastar a beleza de seus dentes com um estranho.

— Que isso, eu que me desculpo! — Disse ela, se abaixando e apanhando o buquê que eu deixei cair. — Isso é seu.

Mesmo sendo educada, e dando atenção a um estranho, ela continuava olhando atônita para todas as direções. Depois de mais algumas olhadelas pelo fim da rua, voltou a notar que eu ainda estava ali.

— Bonito.

— Oi? — Perguntei.

O buquê!

Ah! — Eu sorri, erguendo o buquê. — São mesmo. São lindas.

— Ela deve ser muito sortuda, seja lá quem for.

Eu assenti. 

Era! — gritei no meu pensamento.

Baixei as flores e as escondi nas minhas costas, com as mãos para trás.

— Então... você está bem? — Eu questionei, tentando evitar que Clara invadisse minha mente.

— Ah, claro! — Exclamou ela, abanando o rosto como se houvesse uma mosca. Olhou para os horizontes da rua novamente. — Eu só estava procurando uma pessoa... mas acho que ela não vai voltar tão cedo.

Assenti.

— E você, o que faz andando por aí uma hora dessas? São Paulo está ficando perigoso sabia, você não vê jornal, não?

Toma!

— Boa observação! — Respondi, me acabando de rir. — Na verdade, eu acabei de tomar um tiro...

O que? Moço, você está bem? — Interrompeu ela, me olhando afoita de cima para baixo.

— Sim, estou bem! — Eu ri. — Não foi isso que eu quis dizer. Não tomei um tiro de verdade.

Ela ficou calada, séria, esperando uma explicação.

— Eu quis dizer que... que...

As palavras não saíam. Eu não conseguia dizê-las. O sorriso tão gostoso que aquela estranha havia me proporcionado segundos atrás havia sumido.

— Sabe... — Tentei explicar novamente. — Quando você tem esperanças sobre algo e... por algum motivo, você faz dessas esperanças o seu suporte e daí... do nada... essas esperanças somem e você se vê sem nada para se apoiar? Foi o que eu quis dizer. A sensação... é semelhante à de um tiro.

Ela me olhava, com os olhos arregalados e em silêncio por alguns segundos.

Uau! — Exclamou ela. — Você é piradão.

— Talvez. — Eu ri.

Ela me olhou de cima abaixo e, depois de seus olhos baterem no buquê novamente, seu semblante pareceu se iluminar com uma expressão como de quem soluciona algum mistério.

Aaaahhh! Entendi tudo! — Disse ela, batendo uma palma na outra. — Você levou um pé na bunda?

— Tá mais pra uma facada no coração... — Respondi.—... mas interprete como quiser.

— Meu deus! — Exclamou ela, com as mãos tapando a boca. Eu não sabia se estava chocada ou prendendo o riso. — E essas flores...

— Sim... — Falei, completando a frase antes dela. — ... eram pra ela.

               

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A Graça das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora