14 - Mandando ver - Benjamin.

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A tarde estava ensolarada. A praça das flores sempre estava cheia de vida e de pureza. Naquele horário, os pais levavam seus filhos e seus cachorros para passear em torno da praça. Crianças corriam de um lado para o outro, idosos se exercitavam e jovens cantarolavam em rodinhas de violão sentados na grama. Eu permanecia ali, sentado no concreto de uma fonte circular, esperando por ela. Eu odiava gel, mas naquele dia resolvi experimentar um penteado diferente. Havia dado apenas uma aparada na barba, jamais iria tirar por completo algo que demorou anos para nascer. Usava meu óculos de grau, o que seria uma novidade para Lana, que nunca me viu com ele. Com uma camisa regata e calça e bota preta eu parecia mais um policial à paisana. Eu estava bonito, na minha opinião. Segundo algumas mulheres, quando o homem acha que está bonito, é aí que ele está horroroso.

Pelo canto do olho, vi uma mulher de cabelos longos se aproximando. Quando me virei, tive a certeza de que era ela.

— Desculpe-me pela demora! — Disse ela, sendo que eu nem havia notado que ela havia se atrasado. — Rosa, a minha chefa, não estava querendo me liberar. Tive que garantir a ela que seria a última "escapada" este mês.

— E vai ser? — Perguntei, sorrindo.

— Eu espero que sim! Ou isso, ou estou no olho da rua. — Ela revirou os olhos — Não que eu me importe muito...

Tudo o que estava em volta se tornou desinteressante para mim. Meu foco era apenas a aura daquela garota. Não tive dúvidas, eu realmente estava me apaixonando por ela. Ficamos em silêncio. Em pé, eu não disse uma palavra. O máximo que o meu cérebro conseguia fazer era encará-la e admirá-la.

— Então... — Começou ela, interrompendo o silêncio. — ... Quer sentar na grama?

— Claro!

Ela foi na frente como que me guiando. Lana se aproximou de um gramado verdemente bonito. Algumas borboletas pairavam sobre flores chamativas. Crianças corriam para todos os lados e eu já estava imaginando uma delas esbarrando em mim.

— Sabe... — Começou ela, olhando as pessoas indo para lá e para cá na praça. — Eu me sinto feliz aqui perto da natureza e das pessoas. Me sinto meio... conectada.

Eu não disse nada. Permaneci em silêncio para que ela pudesse continuar. Era lindo vê-la se expressar.

— Eu também amo a cidade... — Dizia ela, encarando agora os prédios que se erguiam depois da praça — Mas... acho que ela nos deixa distante de quem realmente somos. Por isso temos uma sensação de paz quando sentamos na grama, quando caminhamos numa praça rodeada de flores.

— Tem razão. — Disse eu, por fim. Meio confuso, eu não fazia ideia do que dizer.

— Já pensou em viver numa fazenda no interior... cuidando do gado e escalando pequenos relevos montanhosos?

— Eu não sei... acho que sou apaixonado por prédios. Mas ter uma fazenda no interior é um plano futuro.

— Eu não sei por que estou dizendo essas coisas... mas acho que procurar paz é importante.

Olhei para ela, ignorando o exterior novamente.

— Você não se sente em paz?

— Não é isso... — Com o dedo indicador, ela afastou um fio de cabelo que pendia no seu rosto. — É que... eu vim do interior. Dizem que você só encontra paz no lugar de onde veio. Por que, novamente, é lá que você entende quem é.

— Faz sentido. — Disse eu, deixando de olhá-la e encarando uma senhora atravessando a praça com o cabelo pintado de roxo.

A senhora de cabelo roxo se aproximou e sentou-se na grama, bem próximo dos dois.

— Você e Clara... — Lana tentou começar, mas eu a interrompi.

— Já estamos resolvidos! Ela segue com a vida dela e eu com a minha.

— Eu nunca vou superar o susto que você me deu naquela noite. — Lana teve uma crise de riso, deixando de lado as reflexões momentaneamente. — Me prometa que nunca mais vai abordar uma mulher assim!

Eu ri. Pode realmente ter sido um episódio embaraçoso, mas se eu não tivesse abordado aquela garota, não estaria sentado na grama com ela.

— Vocês são tão lindos! — Uma voz arrastada e aguda veio do meu lado.

A senhora do cabelo roxo queria de toda forma entrar na conversa.

— Me fazem lembrar de quando eu era jovem! — Quase como um ritual, a velha falava enquanto olhava as pessoas caminhando à sua frente pela praça. — Eu achava que iria conquistar o mundo, conhecer um príncipe e viver numa casinha na beira da paia.

Eu olhei Lana e ela conteve um sorriso, amassando um lábio contra o outro.

— Vocês namoram ou são casados? — Perguntou a velha curiosa.

— Na verdade, estamos nos conhecendo há pouco. — Eu disse, gentil.

A velha fez uma expressão de nojo, passando a mão rapidamente frente ao rosto como quem expulsa uma mosca.

— Ah, vocês são muito lerdos! Já deviam estar mandando ver.

Lana não se conteve e soltou uma gargalhada que podia ser ouvida no fim da cidade de São Paulo. Eu senti minhas bochechas corarem, envergonhado.

— Filhos, a vida passa num piscar. — A velha continuava falando. Ela se levantou e ficou de pé na nossa frente. — Eu sou feliz. Posso dizer que com meus cinquenta e sete anos eu vivi muitas coisas. Mas ainda assim, se eu pudesse, teria vivido outras mais. Achar um amor, com essa minha idade, está difícil.

A velha saiu rindo, feliz em suas próprias desilusões. Eu e Lana nos entreolhamos. Aquela senhora engraçada tinha razão. Não devíamos perder tempo.

Eu e Lana rodopiávamos na sala de estar do meu apartamento. Andávamos lentamente até o quarto, tentando não esbarrar em nada que distraísse o nosso fogoso beijo. Entramos no quarto e paramos de nos beijar enquanto tirávamos a roupa, nossos olhos continuavam se cruzando, ansiando pelas sensações seguintes. Eu a agarrei, passando meus braços pela sua cintura. Ela passava a mão pelo meu abdômen e pela minha nuca. Eu a puxei para a cama e nós caímos. A minha cabeça bateu levemente contra a cabeceira da cama, mas com aquele mulherão nos meus braços, resolvi ignorar a dor. Nós tínhamos trabalho a fazer.

Na manhã seguinte, acordei com a luz do sol contra o meu rosto. Olhei para o lado e os cabelos de Lana jaziam na minha cama. Que noite! — Pensei.

Eu me levantei e fui até a cozinha. Eu queria preparar o bom e velho café, mas o toque do meu celular me interrompeu. Eu fechei a porta do quarto para não incomodar Lana.

— Oi. — Eu estava tão sonolento que nem havia olhado quem era que estava ligando aquela hora.

— Ben? Preciso falar com você. Urgente!

— Precisa ser agora? — Disse eu, com desdém ao perceber que era Clara ao telefone. — Não temos mais nada para conversar.

As próximas palavras dela mostrariam que eu estava bem errado.

Temos sim.  

  

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A Graça das FloresHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin