O Jovem Guerreiro

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– O que tanto olha em mim, valáquio? – a voz do jovem era entoada provocativa.

   Enquanto buscava uma resposta, o garoto percebeu a aproximação adulta vinda por trás, logo após sentiu o peso de uma mão severa em seu ombro. Mesmo sem ousar olhar para trás, ele tinha a pura certeza que era Onan.

– Eu disse quietos – pronunciou causando grande intimidação.

   O homem de olhos verdes rodeou o garoto de maneira suave, reparou em cada detalhe de sua expressão, o olhar congelado, centrado e vazio, traços que delatavam seu horror e o homem se regozijava com isso. Acabada sua intimidaçãfalouo para com o pequeno, o oficial dispõe sua impertinente visão sobre o jovem búlgaro, tudo o que lhe era desprezível e insuportável voltava-se com fervorosidade ao rapaz, e este mesmo, igualmente imóvel, no entanto,  uma calma específica  anormal se exibia sutil por toda fronte do jovem guerreiro, como se o estivesse confrontando sem medo.

– Auper – falou o homem – Será impressão ou se tornou amigo do garoto?

– É impressão – respondeu, para a perplexidade mútua do menino à sua frente. – Sabe que não sou amigo de ninguém.

– Sim, é verdade... – continuou com leviandade. – Mas tinha que escolher justamente um membro da prole de Dracul para não ser o seu amigo?

– Quê isso Onan? Não somos todos uma família? Não devemos cuidar uns dos outros? – parcialmente afrontosa, a voz de Auper soou tão calma quanto, e sua atitude serviu de incentivo ao sorriso doentio do terrível agá.

– É como disse – respondeu ele. – Mas de maneira alguma pense que pode me dar lições – e no segundo seguinte, o pequeno conde presenciou a cruel mão do oficial castigar implacável a face serena, porém sofrida do adolescente.

   A violência da bofetada resultou num som extremamente feio, o corpo de Auper cambaleou para o lado, seus pés lutaram para se equilibrar. O jovem não caiu, não ousaria, se esforçava para se manter firme e forte, mesmo estando parcialmente exausto graças aos muitos machucados por baixo das ataduras em seu tronco. Certamente havia algo no jovem Auper que o diferenciava, e era pra melhor.

   Tamanha agressão conquistou o foco de todos da área de treinamento. Meninos e soldados encararam a cena imóveis e com o forte pressentimento de que a fúria de Onan não acabaria por ali; já Auper, sendo este o alvo do ódio daquele homem, apenas olhou-o novamente com a mesma serenidade de antes, seu semblante, mesmo que ardente e marcado com o formato perfeito de uma mão e os olhos vermelhos segurando as lágrimas, os lábios meramente trêmulos insistiram num simplório sorriso, pouco antes de tentar abrí-los para falar.

– Até que foi um tapa bem misericordioso.

– Que audácia – Onan retribuiu-lhe um sorriso mais aberto, porém estava longe de ser um sorriso de alegria, tolerância é a descrição mais aproximada, talvez, afinal o homem achava a afronta do rapaz um tanto memorável. – Tem sido muito desagradável nos últimos dias, espero que não fique tão intusiasmado, ser transferido para a ala dos soldados não quer dizer que irá treinar menos, ou que não me verá mais.

   O agá delicadamente traçou os dedos sobre a evidência de crueldade no rosto do jovem, ao espalmar propositalmente a marca vermelha, o rapaz torceu os lábios em sinal de dor, mas não desviou o olhar, nunca o faria, tampouco daria essa satisfação ao homem e, o homem em toda a sua experiência, há tempos entendia isso, e por essa sua experiência, era incrivelmente sagaz e astuto.

– Mas deve estar ciente do que mudará pra você, então por que não testamos isso agora? – o fitou com esperteza e perspicácia que, lançada sobre o rapaz, eram totalmente refurtivas. – Cuide do seu novo não-amigo, vamos ver como se sai.

Segredos de Vlad(PAUSADO)Where stories live. Discover now