📌Ligados Pelo Passado

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Parte II

Por ser menor de idade e não ter nenhum outro parente por perto, Vicente acabou sendo mandando para um orfanato na própria São Paulo e pelos próximos três anos ele teria que viver lá, até ter idade suficiente para responder pelos seus próprios atos.

Viver no orfanato não foi difícil como pensara, por saber do futuro podia descobrir coisas e se aproveitar das situações cotidianas. Com isso foi ganhando respeito das outras crianças e também dos adultos.

No decorrer dos anos que passou lá dentro, vivia dentro da biblioteca estudando e buscando informações sobre si mesmo. De onde vinha aquele poder? Como funcionava? Existem outros? Eram essas perguntas que ele busca responder e os livros não tinham muito o que dizer sobre o assunto.

Sua busca por conhecimento e seus dias (sequenciais) na biblioteca, atraiu a atenção de Antônio, o fiador e professor daquela instituição. Talvez fosse destino ou coincidência, mas de alguma forma ambos se aproximaram.

Bastou apenas um encontro entre os dois, para saberem que ambos queriam estar juntos. Antônio porque gostava de falar e ensinar e Vicente estava determinado a aprender, mas, no fundo apenas se interessava em saber porque seu poder de ver o futuro não afetava aquele homem. Ele não tinha ideia de como aquilo funcionava e decidiu que faria de tudo para entender.

Em 1977, já com seus vinte anos, Vince tomou controle sobre seu antigo eu e voltou a ser o garoto estudioso e bondoso que costumava ser. Até ganhou uma bolsa de estudos em psicologia na faculdade federal de Campinas, onde também Antônio passou a lecionar e criar suas teses na área de Antropologia. Nos tempos livres ficavam juntos estudando poderes videntes, criaram teorias e debateram experimentos e outras coisas, mas naquele dia tudo mudou.

— Como posso ver mais além, do que já consigo? — perguntou Vicente.

— Quanto você está conseguindo ver? — Antônio estava sentado na mesma poltrona que Matt vira em sua visão.

— Aproximadamente sete dias, não consegui ver mais que isso. — disse ele parecendo chateado consigo mesmo, mas a verdade era que a voz que ele não ouvia a tanto tempo havia retornado e lhe dizia crueldades.

— Bom, minha nova teoria diz respeito a isso. — Antônio fez uma pequena pausa. — O nosso poder vem da divindade e do universo e como isso eu tiro à seguinte conclusão, se temos um copo de água e nos dois estivermos cede, ele nos satisfará?

— Um pouco. — respondeu com toda certeza.

— Está bem, agora se formos vinte pessoas e somente um copo de água? — reformulou a pergunta.

— Bom, dessa forma apenas sobrará um pouco ou até quase nada para cada um, então...

— Da mesma forma é o poder de ver o futuro, existem muitas pessoas para um copo só. — interrompeu Antônio. — Acredito que daqui a alguns anos no futuro, terá tantos videntes no mundo que suas visões não passarão de meras intuições, nem sequer saberão dos seus reais poderes.

— Isso é possível? — questionou Vicente, com espanto no rosto.

— Acredito que sim, é somente uma teoria. — disse Antônio por fim, voltando a escrever seu livro, mas ele não sabia que existiam outras formas de acessar os poderes, mas aquele comentário despretensioso criou em Vicente uma pequena chama de medo. Não queria perder a única coisa que lhe tornava diferente dos outros.

Vicente ficou ouvindo aquelas palavras que seu mentor havia acabado de lhe dizer e sua voz interior lhe incomodava com ideias. Gritava em sua cabeça com ambições e sempre que dava lhe dizia o quanto sua mãe sofria no inferno por sua causa.

Todos Eles Podiam Ver (Completo) (SOB REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora