Vinte e Cinco

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— Morre lentamente quem não viaja,

quem não lê, que não ouve música,

que não encontra graça em si mesmo.


Como pude deixar essa ideia de lado? Estava tão fora de mim, que não percebi que tudo pode acontecer? Por que eu me sentia culpado, como se tivesse feito algo de errado? Como se fosse minha culpa o incidente de minha mãe na cozinha.

Eu não estava conseguindo prestar atenção nas aulas naquela manhã. Nada conseguia entrar em minha cabeça. Nenhum cálculo. Nenhuma citação de Shakespeare. Absolutamente nada. Apenas estava contando os segundos para que as aulas acabassem para que eu seguisse direto para o hospital. Torcia para que minha mãe estivesse reagindo bem aos remédios. Logo, logo estaríamos em casa.

Assim que o sinal soou, dizendo que o final das aulas havia chegado, não olhei para mais ninguém, nem mesmo dando atenção para quem quisesse falar comigo. Apenas segui para o lado de fora, pegando o caminho para o hospital.

Elisabeth precisava me perdoar por não ter lhe dado tchau. Mas acho que ela entendia como eu estava e o meu estado no momento.

Ontem à noite, Roy foi mais que um companheiro. Foi um verdadeiro amigo para mim. Passou a noite toda comigo em casa. E quando foi de manhã, disse que não iria para escola, porém iria vir de tarde caso minha mãe voltasse para a casa.

Não dizendo que Elisabeth não faria aquilo, muito pelo contrário. Mas tinha uma gratidão imensa pelo que ele havia feito por mim.

Correndo pelas ruas da cidade, atravessando o farol novamente, pude ver ao longe, papai controlando a cadeira de rodas que mamãe estava sentada, em frente ao hospital, seguindo para o hall.

Por mais que estivesse um pouco pálida, com certeza estava feliz em ver que ela estava agindo bem aos medicamentos.

Saí em disparada em sua direção.

A primeira coisa que fiz, foi lhe abraçar tão forte, quase não querendo mais lhe soltar. E lhe dando muitos beijos, disse:

— Que bom que a senhora está bem.

— Filho, fique com a mamãe aqui, enquanto vou pegar o carro, está bem?

— Ok papai.

— Foi apenas um susto, querido. Estou bem melhor agora. Daqui a um dia, já estarei novinha em folha.

— Creio que muito antes disso. Você é de ferro, mas tem um coração de sabiá.

Ela pegou minha mão e deu um leve beijo, acariciando-a.

Não demorou muito para que papai já chegasse com o carro.

E logo, logo, já estávamos voltando para a casa.

Cuidaria dela, assim como ela fazia quando eu estava completamente doente. Por mais que não soubesse cozinhar algo bom, tinha a internet para me ajudar com isso.

Papai colocou-a na cama, ajeitando o lençol em cima de seu corpo e afofando o travesseiro para que ficasse numa posição boa e confortável.

O celular do papai começou a tocar, porém ele brigava com alguém do outro lado da linha, dizendo que não iria voltar para a empresa naquele momento, pois tinham mais coisas para se fazer, porém foi a minha deixa de devolver o que ele havia me dito no dia seguinte.

— Vá papai, eu cuido da mamãe. Creio que ela não iria querer que você perdesse o seu trabalho por causa dela. Pode deixar que eu me viro com ela.

Mamãe apenas concordou com a cabeça, dando uma piscadela para o papai.

Ele concordou, dando-lhe um beijo em sua testa e seguindo para o andar de baixo.

— Está com fome, mamãe?

— Estou com vontade de tomar caldo verde. Sabe fazer?

— Claro que sei. — Como se fazia isso?

— Ótimo. Acho que lá embaixo tem todos os ingredientes de que precisa. Batatas, couve, linguiça, bacon e temperos variados. Iria adorar comer seu prato.

— Pode deixar. Irei lhe fazer.

Segui para o andar de baixo, fechando a porta logo atrás.

Naquele instante, escutei o bater da porta.

Ao abri-la, lá estava Roy, com um lindo buquê de rosas vermelhas nas mãos. Seu sorriso me contagiou de uma tal forma, que não pude evitar de sorrir também para ele.

— Oi Corujinha!


O que dirão as Estrelas?Where stories live. Discover now