Vinte e Três

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— Tudo que você está passando, está

te preparando para aquilo que você pediu.


Vamos, Ettore, estamos quase lá.

Meu consciente conversava comigo enquanto eu corria pelas ruas, indo em direção ao hospital que ficava a dez quadradas de distância da minha casa. Com a respiração ofegante, a única pessoa que vinha em minha cabeça era minha mãe. Esperava que nada demais tenha lhe acontecido.

Ao atravessar o farol de pedestres, correndo que nem um louco, enquanto as pessoas me olhavam com um olhar de estranheza, já conseguia ver o grande hospital à frente. Pelo que parecia, estava completamente lotado, com ambulâncias chegando uma atrás das outras.

Acontecera algum acidente? Bem provável.

Ao atravessar o grande portão de cor verde e indo em direção ao hall de entrada do hospital, segui direto para a recepção, onde uma mulher de cabelos enrolados num coque, falava no telefone, enquanto anotava algumas coisas em uma caderneta.

— Em que posso ajudar, querido?

— Eu gostaria de saber de um paciente chamado Willian Scott?

— Só um minuto, por favor.

Ao digitar o nome no sistema do hospital, procurando por pacientes, a mulher da recepção fez uma careta, como se um ponto de interrogação estivesse aparecido logo a cima de sua cabeça.

— Desculpe, mas não tem nenhum Willian Scott.

— Então tente, Lilian Scott, por favor.

E mais uma vez ela digitou o nome no sistema. Porém, ao invés da careta, pegara um papel e começara a anotar algo nele, pelo qual eu não conseguia entender o que era. E logo depois dirigiu a palavra a mim, dizendo:

— Temos uma Lillian Scott, que está no leito do terceiro andar, no quarto 130.

— Ah obrigado!

Mas antes que eu pudesse sair correndo para o terceiro andar, ela voltou a me chamar.

— Posso te deixar ir lá, mas primeiro preciso saber seu nome para fazer um crachá como visitante.

— Ettore Scott.

— Como é que se soletra o primeiro nome por favor?

— E-t-t-o-r-e. Ettore.

E alguns segundos demorados, ela tirara da impressora um pequeno papel, colocando-o em um plástico pendurado a um barbante.

— Pronto, aqui está. Lembrando que os horários de visitas terminam as 23h, está bem?

— Tudo bem, muito obrigado!

E lá fui eu, seguindo para o terceiro andar. Tropeçando nos degraus de escadas cansativas. E ao procurar o quarto 130 e o localizando, fui logo abrindo a porta sem ao mesmo bater.

Meu pai estava sentado numa das poltronas do quarto, enquanto o leito estava vazio.

Por favor, que nada de ruim tenha acontecido!

— Pai?

— Ettore!

Ele veio em minha direção, me dando um abraço solidário.

— O que foi que aconteceu? Eu acordei e percebi que vocês não estavam em casa. A porta do armário aberta, a luz da cozinha acesa, a poça de água no chão. Onde está a mamãe?

— Sua mãe está fazendo uma tomografia.

— Tomografia? Meus Deus, o que aconteceu?

— Venha. Sente-se aqui.

Eu não sei se queria sentar. Estava tão aflito pelo que tinha acontecido. Ainda estava em completo choque.

— Estávamos na cozinha, quando sua mãe foi abrir o armário para pegar algo. Ela logo percebeu a poça de água que estava saindo da merda daquela geladeira. E quando ia se virar para pegar um pano para limpar aquilo, ela escorregou, bateu a cabeça na porta do armário e desmaiando na hora.

— Deveria ter me acordado, pai.

— Deveria, mas no momento eu não tive outra reação a não ser trazê-la para o hospital.

— E como ela está?

— Ela acordou assim que chegamos aqui, reclamando de dores na cabeça.

— E a tomografia?

— É para ver se não aconteceu mais nada de grave com ela na hora da queda.

Eu não tive outra reação a não ser meus olhos começarem a encher de lágrimas, minha garganta dar um nó tremendo e eu colocar a mão no rosto para chorar.

Pode ser bobeira minha, mas o momento que no meu sonho houve o terremoto, havendo um estrondo e abrindo a terra embaixo dos meus pés a metade, foi o momento certo que a minha mãe caiu. Meu cérebro deve ter projetado isso de imediato. Ou pode ser apenas besteira da minha cabeça.

Não, não pode ser. Pois se fosse, eu teria escutado o barulho do carro ou o bater da porta.

Eu só tinha que acordar mesmo.

Esperava que minha mãe estivesse bem.

Por favor estrelas, ajudem a minha mãe!



O que dirão as Estrelas?Where stories live. Discover now