Quando a médica me diz que Luna está entrando em trabalho de parto, perco o chão.  Não  sou muito religioso, mas acredito em um Deus e é a Ele que peço que dê tudo certo.

Tento tranquilizar a Luna, mas quando ela desmaia esqueço o que essa palavra significa e me desespero.

- Doutora. O que está acontecendo? Luna!

- Calma senhor.  Precisamos de tranquilidade para trabalhar.  - diz e vira para cuidar da Luna pedindo auxílio a enfermeira. 

Dobro meu corpo sobre os joelhos. Tento respirar melhor e não consigo. Me bate uma dor no peito. Me sinto sufocar.   Meu melhor amigo baleado para me salvar e minha mulher em trabalho de parto que só deveria acontecer daqui a dois meses.

- Doutora. Como ela está? Meu pai tem um hospital.  Se der tempo, me sinto melhor em levá-la para lá.

- Temos tempo. Quanto ao desmaio fique tranquilo. É emocional.  Ela sente muita dor e aliada ao susto a pressão dela baixou.  Mas está estabilizando.

Por causa dos batedores, não pegamos trânsito nenhum e depois de 40 minutos  que pareceram eternidade, chegamos ao hospital do meu pai. Quando informei a médica, ela disse que dava para a Luna chegar em tempo. Fiz essa opção ja com meu pai avisado. 

Já estavam todos esperando por ela. Com maca e médicos de prontidão.  Inclusive meu pai. Com o seblante bem preocupado. Isso me deixou mais para baixo ainda.

Mesmo sendo filho do dono do hospital, não foi permitida a minha entrada por agora.

- Fique aqui filho. Preciso de tranquilidade para avaliar o caso da Luna e você  não pode me dar isso agora. - diz

- Preciso estar com ela pai. Por favor. - peço desesperado.

- Eu disse que não. Se ela estiver realmente em trabalho de parto, você  entra quando for a hora do nascimento. - diz sério. 

- Não  deixe que isso aconteça pai. Salva meus filhos. Eles não podem nascer agora.  - digo sem conseguir segurar as lágrimas. 

- Vou fazer meu filho.  Fique em paz. Volto logo. - beija minha testa e sai.

Me escoro na primeira parede que encontro. Deixo minha testa encostar no concreto frio. Fecho os olhos. A única coisa que me resta é esperar.

Não  sei quantos minutos se passaram. Sinto alguém me abraçar  e mesmo sem saber quem é me sinto amparado. Com isso, dou vazão ao meu desespero. 

- Calma meu filho. Vem sentar comigo. - escuto a voz doce da minha mãe.

- Estou com medo mãe.  - falo engasgado.

- Não tenha. Ore e acredite. E ela está na mão do melhor médico. Diz acariciando meu rosto.

Sento ao lado dela e encosto minha cabeça em seu ombro. Isso me tranquiliza um pouco. O que me deixa em desespero é a falta de notícias.  Só não surto porque ela está com meu pai. Isso mr traz uma certa segurança em meio a tudo isso.

- Mãe. Não deixa ninguém avisar a dona Edna. Ela não precisa passar por essa angústia. Quando tudo for resolvido, mando buscá-la. - peço

- Ninguém vai avisar.  Pensei a mesma coisa  e já avisei aos mais próximos.  - diz Louise se aproximando.

- Cadê o Renan? - levanto agoniado.

Louise acompanhou o Renan na ambulância. E esteve com ele até agora. 

- Esta sendo atendido. Nada até o momento. Mas fique tranquilo.  Vaso ruim não quebra. - diz torcendo a boca.

Volto a sentar ao lado da minha mae. Olho o relógio pela trigésima vez. Baixo a cabeça para ver se me acalmo.

Segundas Intenções. (Série Família Portinari)Onde histórias criam vida. Descubra agora