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eu recomendo assim um colete
uma boa sorte a todos

Minha mochila bateu na parede assim que entrei no meu quarto, jogando meu material para o alto como se não me importasse com muita coisa. No momento, não me importava. Estava fazendo tanto calor, meu corpo transpirava e eu estava com sede, mas tudo que eu fiz foi me deitar na minha cama e cobrir meu rosto com minha almofada.

Eu não tinha motivos e as vozes concordavam. 

Eu estava quebrada e eu não tinha conserto.

Coisas quebradas vão para o lixo.

Engoli em seco e tirei a almofada do rosto.  O teto do meu quarto não é interessante, mas meus olhos pararam nele por cerca de cinco minutos enquanto minha respiração tentava diminuir e se acalmar.

Eu não consigo mais.  

Não consigo mais.

A cada mísero dia que passa, uma parte de mim morre. Uma parte dentro de mim morre. 

Mas meu corpo continua vivo, meu cérebro continua vivo.

E essa merda dói. Estar viva dói. Respirar dói. Pensar dói. Lembrar dói. Eu tentei reparar minhas peças quebradas, mas eu já tinha vindo com defeito antes de me quebrar e o conserto ficou caro demais para valer a pena. 

Escutei o silêncio da casa. Minha mãe havia deixado um bilhete na geladeira dizendo que havia ido fazer compras, Sofi estava na casa de Dinah brincando com Regina e meu pai nunca estava em casa. E eu estava sozinha.

E eu me sentia sozinha.

"Que merda!" Lauren gritou, me empurrando pelo ombro para longe de si enquanto chorava. Minha face não mudou muito dessa vez, permanecendo sem expressão e sem lágrimas. "Por que você não consegue ficar longe daquela idiota da Dinah? É dependente agora? Eu pensei que você tinha prometido."

"Lo, eu sei..."

"VOCÊ PROMETEU, CAMILA!" As palavras doeram muito mais do que o grito, eu já estava acostumada com gritos. "Por quê?!"

Ela me empurrou outra vez pelos ombros e agora minhas costas se chocaram contra a parede da sala do apartamento de Lauren. Meus ouvidos começaram a zumbir, produzindo um ruído surdo e contínuo extremamente agudo enquanto os gritos de Lauren continuavam por todo o lugar.

Eu continuei a encarando, minha boca ligeiramente aberta e meus ouvidos incertos se estavam escutando as palavras dela ou o barulho de um inseto batendo as asas perto da minha orelha de uma maneira estupidamente rápida.

"Eu..." Minha voz saiu fraca e baixa. Lauren me encarou, os olhos vermelhos pelo choro assim como o nariz fofo. Seus capelos estavam extremamente desarrumados e sua roupa estava amassada, na minha frente, o amor da minha vida, estava um caos.

"Você o quê, Camila?" Ela perguntou, grossa e rude. "Você sente muito? Eu já estou cansada da merda das suas desculpas bobas."

Eu não estava indo me desculpar dessa vez, mas acho que havia feito aquilo tantas vezes que não a culpo por me acusar de mal hábito. 

"Fale alguma coisa, porra!"

Pisquei de maneira rápida, encarando minha namorada com a boca ligeiramente aberta e ainda sem dizer nada. Lauren bufou impaciente pela minha falta de articulação, passando uma das mãos em seu rosto de porcelana e meu coração doeu, parou e quebrou em um intervalo de dois segundos.

E eu sabia o que estava acontecendo e o que tinha que fazer. 

Nossos olhares ficaram fixos um no outro em todo o tempo em que minha mente falou, mas minha boca não. Minha cabeça dói e eu via meu reflexo naqueles lindos olhos de dor. Eu nunca sabia se a dor estava nos meus olhos ao ver ou nos dela quando eu a olhava. 

blood and tears.Where stories live. Discover now