09. consequences

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Dói.

Estou deitada na cama encarando o teto e é a primeira vez que admito isso para mim mesma, mesmo que todo mundo já saiba.

Dói. E eu já nem sei mais como é conviver sem essa dor. 

Fechei meus olhos, mesmo assim consigo sentir tudo ao meu redor. Sinto o coberto debaixo do meu corpo, sei sua forma e suas cores vivas, que misturam o rosa, o roxo e o laranja em formatos de corujas. Sinto minhas almofadas em cima de mim, entre meus dedos eu seguro a que diz You're are here com o símbolo vermelho característico de um GPS. Escuto a cortina se movendo por causa do vento, escuto as folhas das árvores acompanhando no mesmo ritmo no jardim da minha casa. O barulho dos carros, o barulho da TV na sala em um desenho, o barulho que minha mãe faz enquanto prepara algo para o café. Escuto e sinto tudo, vejo tudo, mesmo com os olhos fechados. Sinto meu coração contra meu peito, se apertando e se contorcendo de uma forma dolorosa. Sinto a falta de ar em meus pulmões. Sinto o bolo na minha garganta que me impede de falar qualquer coisa.

Sinto as lágrimas que escorrem por minha bochecha, quentes.

Suspiro e abro meus olhos outra vez, os sentindo arder por eu estar prendendo todo o fluido lacrimal que queria descer. 

Eu deixei você entrar aqui.

Na minha casa, na casa do meu corpo, na casa da minha alma.

Me virei em posição fetal, me encolhendo de forma que eu ficasse ainda menor. Porém, mesmo assim, ainda sentia aquele peso sobre mim. Ainda sentia o sufoco.

Por que ela fez tanta bagunça por aqui? 

Suspirei, lembrando dos poemas que Dinah estava lendo no dia anterior porque queria que nós duas sofrêssemos juntas. Ela não leu um e falou que era muito triste, saiu por dois minutos e eu então eu li.

ontem | quando saí da cama | o sol caiu no chão e rolou pela grama | as flores decapitaram a si mesmas | a única coisa viva que sobrou fui eu | e eu já não sei se isso é vida

Seus olhos são lindos, mas tão cansados que tudo que vejo através deles é algo tão sem vida que consigo a comparar com uma boneca. Não pelo fato de que ela era linda demais que parecia porcelana, mas pelo fato de que ela não parecia viva. 

"Estou cansada," Murmurei, deixando meus ombros caírem e Lauren me encarou. Ela sorriu, da forminha que eu amo, me puxou para perto de si e começou a me fazer cafuné.

"Eu sei que a escola está consumindo suas energias, pequena." Ela disse, com a voz rouca e calma. "Mas você logo vai se formar, só tem que sobreviver a mais um ano e meio."

A encarei e assenti, me acomodando em seu corpo enquanto ela me guiava para sua cama. Ela apenas fez carinho nos meus cabelos, mas eu me senti suja por estar deitando na cama que ela e a ex haviam transado semana passada. 

Lucy não conseguia olhar na minha cara, pedira desculpas.

Lauren disse que estava com vontade. 

Fechei os olhos.

Culpa sua.

Suspirei, me alinhando ainda mais a ela, sentindo meu peito doer, mas não de um jeito que era como se meu coração apertasse, era como se o ar não entrasse em meus pulmões. 

Lauren era meu ar. Eu não tinha ninguém sem ela.

Não.

Não tinha.

Respirei fundo outra vez, fechando meus olhos com mais força.

Eu não conseguia entender mais muito bem quem era Camila.

blood and tears.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora