– O quê?

– Morte celular – repetiu ela, num tom mais baixo, temendo a reação deles. – Morte dos tecidos, morte dos órgãos. – ela esperou uma reação que não veio. – Desculpem, eu não queria interromper, mas vocês estavam a falar demasiado alto e eu estava a tentar ver este filme e não consigo concentrar-me. Então eu ouvi-vos sem querer e...

– O que é que tu sabes sobre vírus? – David não parecia zangado, apenas surpreendido e curioso para saber mais.

– Bem, eu sei como eles funcionam. Pelo que vocês leram, o vírus desencadeia uma resposta do sistema imunológico que o destrói. Isso permite que ele se replique livremente e infete todas as células do corpo. O problema é que, assim que isso acontece, as células... hum... – Kim não sabia como explicar os termos científicos, mas estava entusiasmada por partilhar o seu conhecimento. – suicidam-se. Elas fazem-no regularmente para evitar doenças quando há erros na divisão celular, por exemplo. Mas como não há resposta imunológica, elas não conseguem reconhecer se estão infetadas ou não, então optam por este mecanismo para proteger o corpo, quando na verdade o estão a destruir. Os tecidos morrem, os órgãos entram em colapso e os sistemas falham.

Ambos ficaram imóveis, olhando para a rapariga que não sabia quem era, nem quantos anos tinha, e nem mesmo como diferenciar um garfo de uma colher. Kim viu a surpresa refletida nos rostos deles e rapidamente percebeu o motivo. Ela cobriu a boca com as mãos e os olhos arregalaram-se.

– Meu Deus – murmurou quando finalmente entendeu.

– Afinal lembras-te? O que estudaste? – perguntou David, arqueando uma sobrancelha.

– Não. Apenas sei isto. Eu só sei – murmurou ela, tentando pensar no que mais sabia sobre o funcionamento das células, sobre a fisiologia do corpo humano. Nunca fora forçada a pensar naquilo até então. Se ela podia explicar o que acontecia na unidade básica da vida, também deveria ser capaz de explicar por que precisava tanto de injetar um suplemento desconhecido, e por que o seu estômago recusava qualquer tipo de alimento. E como não tinha morrido de fome até àquele momento. Mas não sabia.

– E o que acontece depois? O que isto tudo significa? – David trouxe-a de volta à realidade, e ela percorreu o olhar pela sala à procura de um exemplo que a ajudasse. Os olhos pousaram no computador e ela tentou:

– O nosso corpo é protegido por um sistema de segurança. Como a polícia. Há uma patrulha constante à procura de intrusos. Basicamente, sempre que algo desconhecido entra no sistema, o corpo tem de decidir entre neutralizá-lo, destruí-lo ou ignorá-lo, de acordo com o perigo. Com este vírus, o corpo só reconhece uma opção: ignorar e autodestruir-se. Depois disso, a infeção é fácil, e acaba na morte...

– Autodestruir-se? – a voz de Aidan vacilou, finalmente percebendo o raciocínio dela.

– A Rachel não está a autodestruir-se. Eu sei que estamos em Hollywood, mas deixem a ficção para quando sairmos daqui – replicou David, frustrado por perceber o que ela queria explicar e por desejar, de alguma forma, permanecer na ignorância. Rachel só sentia náuseas, vómitos e algumas dores de cabeça. Se fosse como ela descrevia, seria tudo diferente e mais doloroso. Não parecia estar a entrar em colapso. Não podia estar. O que Kim descrevia não se alinhava ao que a namorada estava a sentir. Talvez ao querer ajudar, ela os tivesse levado em erro.

Eles voltaram a focar-se na página informativa na internet e procuraram o que realmente importava.

«Febre alta nos primeiros dias, resposta do sistema imunitário ainda ativo, e tende a diminuir após 2 a 3 dias. Dores de cabeça, dores musculares, mal-estar, vómitos e tosse seca. As características mais marcantes da doença são as fortes hemorragias (5 a 6 dias após a infeção) causadas pela destruição das paredes dos vasos sanguíneos, e...»

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