- Bella, você tem noção do que acabou de dizer? - a encarei, meu rosto esquentando como o inferno. Não respondi. - Não é com pensamentos suicidas que vamos resolver isso.

- Desculpa. - pedi, envergonhada.

- Olha, eu entendo você, querida. Entendo mesmo. Mas quero que você também entenda que isso não é a solução de nada. Isso não fará bem para ninguém, sabe porquê? - neguei, realmente querendo saber. - Porque não acredito que sua família ficaria feliz com isso, sua prima, amigos, ou Harry. - engoli em seco. - Em toda minha vida, nunca conheci uma família que não tenha ficado devastada em perder um parente, por suicídio. Muitas vezes, isso acaba com as pessoas mais do que perder por uma doença, ou um acidente. Porque é proposital, e o sentimento de insuficiência que as pessoas ficam, muitas vezes as destroem. Então, não pense que eles não sentiram isso, que não sentiram sua falta. Perder alguém por essa causa, especificamente, é uma dor imparável.

- Desculpa.

Não fazia ideia do que dizer, além disso. Talvez seja por isso que minhas bochechas estavam fervendo e que minha visão estava embasada.

- Apenas tente não pensar mais nisso, afastar esses pensamentos sempre que puder. - assenti, cabisbaixa. -  Muitas vezes, é apenas uma impressão.

- Impressão? - ergui o olhar.

- Sim. Esse sentimento de insuficiência é só mais um efeito colateral da mente. Para você tudo pode aparentar estar errado, um caos, mas isso pode ser apenas uma impressão, o sentimento de culpa enevoando sua mente e te deixando confusa.

- Então.. você quer dizer que eu estou... Tipo, pirando? - franzi o cenho. Dra. Collins sorriu e balançou a cabeça.

- Não, querida. O que quero dizer é que essas coisas atrapalham mesmo você, mas podem ser apenas uma impressão. Como por exemplo, quando você está na frente de muitas pessoas, e tem que falar sobre um assunto, e parece que elas estão te julgando e criticando de mil e uma formas. Isso te faz sentir desconfortável, faz com que você passe por crises, por exemplo, mas na realidade, pode ser apenas uma impressão. Elas não estão te criticando, ou te achando estranha, como você costuma dizer. Você pensa isso de si mesma, e automaticamente, acha que todos pensam da mesma forma. Mas não é verdade.

- Não?

- Não. - assegurou, firmemente.

Mordi o lábio, curvando os ombros e suspirando.

- Queria que isso parasse logo. Quer dizer, o que eu faço?

- Continue se tratando. Sendo forte. Já disse isso, Bella, mas faço questão de repetir. - ela se inclinou levemente em minha direção. - Tudo depende do que você deseja. Tudo está aí, na sua cabeça. Basta querer.

- Eu quero. Quero muito.

- Eu sei, eu sei. E estamos aqui para isso. Apenas aguente firme. - sorriu, expondo toda sua sinceridade. 

A humildade e sinceridade era tão explícita nela. Se expandia, era tão transparente e isso de alguma forma me dava todo o conforto que eu precisava para me abrir. Me lembrava como eu me sentia com Harry, e como eu sentia que poderia dizer tudo que eu quisesse, por mais mórbido que fosse.

Me lembro de uma vez, um domingo, em que saímos para andar um pouco, porque Mary não conseguia parar com suas piadinhas na frente dos meus pais. Harry segurava minha mão do mesmo jeito carinhoso e protetor de sempre. Meus dedos pareciam se encaixar perfeitamente nos dedos longos dele. A sensação era e continua sendo inexplicável.

Nunca pensei que algo tão pequeno, poderia me trazer tanto.

Andamos por quase trinta e cinco minutos, enquanto Harry chutava as pedrinhas da rua e sorria da sua própria piada, que eu com certeza estava rindo como uma doida, provavelmente por não fazer sentido algum. Algo me dizia que o sorriso largo e de covinhas dele era mais por minha causa, do que por qualquer outra coisa.

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