10. Lasanha vegetariana

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Kim não hesitou e sentou-se no banco alto que Rachel havia indicado. Assim que viu o prato fumegante à sua frente, sentiu um aperto no estômago e logo se arrependeu de ter comida tão próxima. O aroma enjoativo estava de volta.

– Sim, isso também é para ti. – informou Rachel, sem que ela perguntasse. Ela se sentou e começou a servir Kim. – Eu não faço ideia se gostas de lasanha vegetariana, mas eu parei de comer carne há anos e, sinceramente, o cheiro da carne deixa-me desconfortável. – Como Kim a entendia. Aquele cheiro... Os seus lábios humedeceram e ela engoliu em seco ao observar Rachel dispor a mistura de comida nos pratos.

– Bem, eu também não tenho muito tempo para cozinhar aqui em Los Angeles. – A loira continuou, empolgada, enquanto pegava uma garrafa com desenhos de frutas, provavelmente um sumo. – Admito que não fui eu que fiz, mas tem bom aspeto. Eu até sei cozinhar. – defendeu-se. – A minha mãe é excelente. Ela tentou ensinar ao Aidan também, mas ele prefere comer. Acho que é a atividade favorita dele.

Kim não se apercebeu de que sorria e olhava embevecida para Rachel, até que a loira parou o seu discurso rápido e devolveu o sorriso, meio envergonhada.  

– Desculpa, entusiasmei-me. – terminou Rachel.

– Eu nunca provei. – respondeu Kim, olhando o prato cheio. – Mas não vou conseguir comer. – desculpou-se com um sorriso tímido.

– Oh, que idiota! Peço imensa desculpa por te estar a dar coisas extremamente calóricas sem saber se estás bem. Provavelmente preferes algo mais leve, certo? – disse Rachel, tirando o prato como se fosse algo proibido. Ela observou Kim por um momento e notou que a sua testa estava bem melhor, sem precisar de curativo. Talvez a única prova do incidente fosse uma cicatriz e algumas memórias pouco atraentes.

Tentando deixá-la à vontade, Rachel levantou-se do banco alto e foi até ao congelador em busca de algo que Kim conseguisse comer.

– Já sabes o que vais fazer a seguir? – perguntou Rachel, pegando em várias latas de comida enlatada. Franziu o nariz e recolocou-as no mesmo lugar. Talvez esperasse que o maravilhoso aroma da lasanha lhe abrisse o apetite. Ou talvez esperasse que os rapazes voltassem das compras com comida de verdade. Ela se sentou novamente e deixou de pensar na refeição, direcionando a sua atenção para a rapariga que parecia encolhida no banco. – Tens ideia de para onde vais?

– Oh não. – respondeu Kim prontamente, erguendo-se e adquirindo uma  postura mais firme. – Irei embora ainda hoje... Só gostava de falar primeiro com o rapaz grande, com o cabelo despenteado e barba. Prometo que irei logo depois.

Rachel sorriu quando ela mencionou Jake e, por um momento, desejou poder testemunhar essa conversa. Com essa imagem doce em mente, nem percebeu que, com sua pergunta direta, estava a praticamente a expulsar Kim. Tentando corrigir o seu comportamento um tanto rude, ela rapidamente acrescentou:

– Não precisas ir já! Só queria saber mais sobre ti... e é importante. De que é que te lembras?

Kim olhou novamente para o seu pulso tatuado e tentou lembrar-se de algo. Apenas algo.

– Lembro-me de vir do Canadá, mas nunca me senti em casa lá. – começou, hesitante. – Apanhei um comboio e corri até aqui. – Não era exatamente o que Rachel queria ouvir, mas Kim não podia dizer mais quando nem sequer sabia como ali tinha chegado, nem o que tinha feito antes disso ou o que faria a seguir, quando aquela conversa terminasse. Ela não gostava das intermináveis dúvidas que habitavam na sua mente.

– Não te lembras de ninguém importante? De lugares que gostas? Da tua idade, por exemplo? – Rachel insistiu.

Kim havia tentado muitas vezes encontrar respostas para todas essas perguntas e mais algumas, mas parecia impossível. A sua idade deveria ser fácil de determinar se ela tivesse algum documento de identificação. Talvez então ela soubesse o seu nome real, de onde veio, quem era a sua família. Certamente se sentiria menos sozinha e assustada...

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