Capítulo 7 - Fachada

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Fui para o meu quarto, me deitei sobre minha cama, peguei meu edredom preto, me abracei com um urso de pelúcia que ganhei quando criança, coloquei meus fones de ouvido e uma música triste. Estava pronto para desabar em choro.

Deixei que a energia pesada daquela casa de paredes brancas e cerâmica branca me adentrasse. Não há mais nada que eue possa fazer. Deixei com que tudo o que viesse a seguir, viesse de uma vez, me destruísse de uma vez e que fizesse o que fosse feito de uma vez.

As lágrimas me fizeram dormir tranquilamente sem canção de ninar. Dias tristes presenteiam noites de insônia ou terríveis pesadelos para te despertar.

O amanhacer era como salvação, um recomeço, estaca zero. Ainda existia esperança em mim.

Estou cansado de ser a vítima. O vitimismo já não me cabe mais. Preciso revidar.

Pés firmes no chão. A tranquilidade pode ser conquistada com um apenas um comprimido, então, roubei um de minha mãe, o tomei.

Tudo parecia mais devagar. O sono voltou a me dominar, mas estava fora de minhas escolhas a volta para a cama. Ver o sol nascer não tem preço.

Pedi ao universo que me deixasse respirar um dia bom. O banho gelado da manhã pela primeira vez me agradou.

Fingi que o dia anterior nunca tivesse existido. Por mais triste e deprimido que estivesse por dentro, nâo quis deixar visível. O plano arquitetado em minha mente me manteve focado. Sorriso estampado na cara sem nenhum motivo.

Problemas escolares eram fichinha perto de todo mal que a igreja me causava. Esperava de tudo com excesso do que viria ao seguir.

A noite, ao finalmente voltar às portas do inferno que se dizia um lugar onde poderia encontrar o passaporte para o paraíso, me deparo com algo que ficaria marcado para o resto de minha vida.

Me aproximo aos poucos do grupinho em frente a Universo, que olhavam e comentavam sobre a arte que deixaram nas paredes da igreja.

Os rabiscos de baixo calão continham desenhos inapropriados e frases com xingamentos por toda fachada daquele alto edifício.

O susto foi inevitável mas a minha reação surpreendeu a todos, principalmente Elton, o pastor que já vinha se aproximando enquanto articulava gestos me pedindo calma.

- Rafa, nós vamos descobrir quem fez isso e haverá punições. Só te peço calma e que deixe tudo isso em nossas mãos.

- Onde está Rud? - perguntei a Elton que parado em minha frente estava.

- Rud? Deve tá lá na frente do altar. Por quê?

Entrei como um furacão pela grande porta de madeira da Universo. Virei para o outro lado da moeda, como um bipolar qualquer.

Incrível como não consegui manter as aparências de um falso hippie feliz. Já aceitava naquele instante o fato de que não teria um dia de paz.

A única pessoa que vinha a minha mente que poderia fazer tudo aquilo, era ele.

De longe o avistei e me dirigi rapidamente a frente do altar. Sem nenhuma palavra de cumprimento o acerto com um tapa cheio em sua cara.

- Como pôde fazer isso comigo, Rud?!

Alguns obreiros que estavam próximos me puxaram rapidamente para longe de Rud para que não acontecesse outra coisa mais séria.

Elton me acompanhou até o estacionamento da igreja.

Meu corpo tremia de tanta raiva que sentia. Estava cego. Me perguntava a todo instante quem mais poderia ter sido se não ele.

- Rafael se acalme, nós vamos resolver isso! - repetiu Elton várias e várias vezes depois de ver aquela triste cena novelista.

Reparei que Rud permaneceu calado após o tapa e nem sequer olhou na minha cara. Só me dava mais certeza ainda de que teria sido ele.

O pastor que ainda estava a minha frente não conseguia entender o porquê de minha atitude e de minha afirmação.

- Eu confiei nele, pastor. - cabisbaixo, me segurando para não chorar prossegui. - Ele era a única pessoa que sabia, a única pessoa que consegui confessar esse segredo.

- Não chore. Olhe pra mim. O que mais está te preocupando? Não parece bravo só pelo o que deixaram na parede da igreja.

- Desculpa, olhar para o senhor é impossível agora. - respondi já deixando as lágrimas escorrerem. - Eu não aguento mais, estou farto de tudo e todos fazerem minha vida um inferno e eu não entendo como tudo parece querer me derrubar enquanto eu só fujo de todos eles ou viro um cão furioso na tentativa de achar soluções mas só encontro ainda mais problemas! Minha mente tá uma loucura! Eu juro que não aguento mais, Elton!

Naquele instante Elton sabia que nenhuma palavra serveria para aquele momento, então ele me abraçou, e foi o abraço mais forte e mais seguro que senti em toda minha vida antes e após aquele dia.

Achei que não passaria daquela noite mas aquele ato me salvou.

Foi ai que me dei conta de que a fragilidade quando fica visível não é porque somos fracos, nada mais é a necessidade de jogar o peso para fora e recarregar as forças. Isso era para ser dito desde muito tempo, entretanto, nos ensinam a negar e renegar nossas próprias lágrimas por medo de nos chamarem de fracos quando na verdade só estamos sentindo o que temos que sentir por sermos humanos.

- Rafa, você pode confiar em mim.

- Desculpa, Elton, isso é quase impossível. A última pessoa que falou que eu poderia confiar, é o principal suspeito de voltar a me desestabilizar.

- Esqueça todos, sou eu que estou ao seu lado agora. Vejo que tudo o que aconteceu só piorou tudo em sua vida. Me deixe te ajudar, Rafa.

- Da mesma forma que mandou sua sobrinha para tentar me seduzir e fazer com que eu vire hetero? Precisa mentir melhor.

- Não fiz nada disso. Nem sei do que tá falando.

- É outra história. Não quero lembrar disso, pelo menos não agora. Preciso respirar.

- Então, me diga, por que acha que Rud fez aquilo? Por acaso brigaram? Só assim para ter tanta certeza de que foi ele quem fez isso.

- Na verdade, não. Foi outra coisa.

- Desembucha, Rafa! O que houve entre vocês?!

- Só nos beijamos! Pronto, falei!

- O quê? - Suellen, namorada de Rud, pergunta surpresa.

Não tínhamos notado que ela estava presente e que escutava toda nossa conversa. Agora ferrou, acabei com o relacionamento deles.

Meu PastorKde žijí příběhy. Začni objevovat