Capítulo 4 - Verdades

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Já eram quase três horas da tarde, não tinha nada de bom para fazer, quando decidi ir para a Universo para ficar sentado em uma das poltronas da igreja escrevendo mais um de meus poemas, assim como os outros, ele nunca será lido, bom, pelo menos era o que esperava.

Meu momento solitário durou poucos minutos, Rud se aproximou para falar comigo.

- Quando se apaixonou por mim? E por que não me falou antes? - ele pergunta falando baixinho no meu ouvido.

Assim mesmo, sem um "boa tarde" e sem perguntar como eu estava.

- Nem preciso perguntar quem te contou, e desconheço o motivo pelo qual ela te falou meu segredo, mas o que está feito está feito, vou explicar tudo direitinho para que não tenha nenhum desentendimento ou equívoco. - respirei fundo, comecei - Me apaixonei por ti há muito tempo atrás, éramos crianças e isso já não tem mais importância pois hoje em dia o que eu sinto em relação a você é apenas respeito. - respondi sem tirar os olhos de meu caderno.

- Era para ter me falado sobre isso. - Rud continua - Eu poderia ter te ajudado ou, sei lá, poderíamos...

- Teria contado para o pastor daquela época ou ter zuado com minha cara espalhando para a igreja toda. - o interrompi - Todos sempre me olharam com pena, só confirmaria tudo o que sempre acharam sobre mim. Fariam várias orações com as mãos em direção ao "único doente da igreja" para retirar os "demônios da homossexualidade". Mas sempre me dei muito bem com meus demônios sozinho. - com deboche pergunto. - Mas continua, o que faria mesmo? Me prove que tudo o que eu falei agora não aconteceria.

- Me dói saber que você só espera o pior de mim. Você, eu e todos, não só dessa igreja, mas do mundo todo, somos imperfeitos, isso é fato. Só queria que se sentisse menos sozinho. Consigo ver a tristeza que carrega pelo seu olhar.

- Espera mesmo que eu me abra para ti e te conte tudo sobre a minha vida, tudo o que senti e o que já passei? - supiro desconfortável antes de continuar - Há coisas que não consigo escrever nem em meu diário, e por acaso, só por acaso, vou contar tudo logo para você, uma pessoa que não tenho intimidade e que nunca se preocupou exatamente ninguém além de si mesmo e, talvez, com sua namoradinha. Infelizmente, Rud, não existe uma possibilidade de confiança entre nós.

- Eu só quis te ajudar.

- Sei quais são suas intenções e motivações. Esse papo furado com palavras ao vento é vergonhoso. Sua pena é desnecessária, guardá-la para si. E se algum dia precisar de ajuda, vou fazer como sempre fiz em toda minha vida, me ajudarei só.

Me levanto, lhe dou as costas e me viro antes de ir.

- Sabe, uma coiaa que seria ótima fazer, era se desculpar com as pessoas que você fez mal.

- Mas o que eu fiz?

- Pergunte ao seu amiguinho Edi, meu irmão, e saberá o porquê de se tornarem dois dos piores antagonistas da minha vida.

Entrei na sala dos evangelistas onde acontecia uma reunião comandada por Elton e me sento na última cadeira do local. Eu era o único do grupo de adolescentes ali presente.

Todos que ali estavam me olharam dos pés à cabeça como se eu não fosse bem vindo e, na verdade, realmente nunca fui.

O pastor Elton percebeu meu desconforto e antes que a reunião chegasse ao fim, me pediu para que fizesse a última oração. Não neguei o pedido. Me direcionei à frente e antes que começasse, olhei para cada pessoa ali presente.

Me passou várias coisas em minha mente, ansiedade passou a dominar meu corpo, e junto a vergonha uma vergonha me invadia eletricamente, mas não baixei minha cabeça.

Meu PastorWhere stories live. Discover now