Bebê De Açúcar: Capítulo 1- Fazer Primeiro, Pensar Depois

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Sem piedade, a corrente gelada passeava pelo lado pobre da cidade, atingindo qualquer ser que passasse por ali, incluindo uma única pessoa que caminhava sozinha por uma das ruas mal iluminadas da região. Chutado uma pedra -por gostar do barulho ou para descontar um pouco de sua frustração- ritmicamente o homem alto e robusto trajando várias camadas de roupa ainda mantinha um sorriso um tanto quanto ladino e brincalhão, tal como o gato Cheshire de Alice faria, mostrando que não estava chateado ou no mínimo conformado, tanto quanto em relação ao frio que havia passado do ponto aceitável para si e
até a sua situação no momento.

Arrumando a alça de sua mochila e perdendo o alcance da pedra -que havia ficado para traz por conta de uma quebra do ritmo- o jovem adulto continuou a andar por mais duas quadras, chegando em um centro comercial que já conhecia muito bem. Seus passos estavam direcionados para um comércio em especial. Largo, alto e com tons de roxo sendo complementados com preto, um secador e tesoura de plástico grandes com laços lilases contendo aranhas no meio, tudo do mesmo material, enfeitando e chamando atenção para si. A luz amarela completamente potente tinha imponência perante a luz falhada e mal estruturada dos postes da rua, mostrando o quão bem feito era o trabalho do governo. Quanto mais o andarilho se aproximava, mais era possível ouvir as conversas de dentro do local.

Ao abrir a porta, foi recebido pelo ar quente e o cheio de formol em conjunto a outros químicos para os mais variados tipos de cabelo. O salão estava cheio e apenas por mulheres das mais variadas idades que faziam toda a sorte de trabalhos que um estabelecimento daqueles poderia as oferecer, o que não eram poucas. Era mais que óbvio que as mesmas conversavam animadamente entre si sobre tudo, desde os problemas da cidade até pais ao maridos idiotas que só faziam merda em casa. Com aqueles aparelhos, produtos de beleza que mais pareciam armas biológicas e mulheres que emanavam força e coragem até mesmo no seu momento de descanso, o lugar se tornava completamente hostil para os que não tinham costume de vir nele, normalmente os homens de ego frágil. Porém, aquele que entrou já era praticamente da família. 

Com passos lentos, o moço passava por entre as cadeiras e pisava em alguns tufos de cabelo que haviam no chão, indo para um corredor que dava para o outro lado do lugar, onde procedimentos mais longos ou pacotes de promoções eram feitos. Era uma sala tão grande quanto a outra, porém levemente mais quieta. No meio das vozes, escutou duas em especial, das quais já deram muito sermão em si. 

— O último que tentei disse que só me daria a certeza de tudo se eu fizesse um ensaio "artístico em preto e branco" para ele — A mais durona disse irônica e riu em seguida, claramente não aguentando a própria fala.

— É, e eu que tive que aguentar ver tanto pau pra ganhar um cheque que não pagava nem a maria-chiquinha que está no meu cabelo? — Disse a segunda, mais delicada porém debochada, como se aquilo fosse um crime. A mulher sorriu ladina ao ver a figura que entrou na sala e ficou de tocaia ouvindo a conversa — Boa noite pra você também, Sans — Continuou com aquele mesmo deboche.

— Boa noite, senhorita Muffet — O homem disse com a voz grave e em brincadeira, fazendo uma reverência exagerada como parte do teatro — Noite boa pra você também, Undyne — falou levantando a cabeça, olhando para a mulher de aparência punk ao lado de Muffet e atrás do aparelho onde a amiga trabalhava atendendo sua cliente. 

— Fala direito, burro — Undyne deu um soco não muito forte na cabeça de Sans, arrancando um gemido de dor do mesmo. 

— Certo, certo, na próxima eu falo — Ele disse em meio a risadas, voltando a sua posição normal, segurando as alças de sua bagagem e procurando um lugar vazio, achando um canto no chão — Posso por minha mochila no chão?

— Você ainda pergunta? Claro que pode — Muffet disse animada, gesticulando com a mão direita para que ele fizesse o que queria, voltando em seguida a continuar a cortar e arrumar o cabelo da cliente — Mas diz aí, por que veio pra cá tão tarde e por quê ficou ouvindo a nossa conversa? — Perguntou o encarando mortalmente e fazendo bico.

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