Fiel

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Emília

Abro meus olhos e só consigo ver vultos por toda parte, talvez eu ainda não tenha acordado e esteja em um pesadelo. Talvez eu tenha desmaiado no karaokê e tenha tido esse sonho horrível com Joe torturando um homem. E o que eu senti com tudo isso... Mas quando o vejo se aproximar com um sorriso lindo mas ao mesmo tempo sombrio, sei que não é um sonho, ele está realmente aqui. Aos poucos minha visão embaçada vai voltando ao normal e então eu consigo ver seu belo rosto com nitidez.

"Olá, meu doce." Joe sussurra e pega minha mão deixando um beijo na palma.

"Joe..." Balbucio mas lágrimas incontroláveis tomam conta de mim. "Me leva para casa, por favor." Peço baixinho.

"Ainda não. Temos muito o que conversar, não acha?" Ele fala e continua sorrindo. Seu sorriso me dá arrepios.

"Sobre o que quer falar? Eu só quero ir para casa." Falo mais uma vez.

"Olha para mim, bem dentro dos meus olhos..." Ele segura meu rosto com suas mãos grandes e faz meus olhos encontrar as profundezas escuras dos seus.

"Estou... Estou olhando..." Sussurro baixinho perdida e desconcertada pela confusão de sentimentos que sinto ao olhar dentro dele.

"O que você sentiu?" Indaga e acaricia meu rosto, como uma gata eu me contorço buscando seu toque e palavras não explicariam como me sinto ridícula por isso. "Digo, o que sentiu quando soube o que aquele homem fez?"

"Eu não sei..." Balanço a cabeça confusa.

"Por favor, claro que sabe. Só me diga, ninguém vai te julgar. O que sentiu, bella mia?"

"Joe..."

"O que sentiu?" Ele insiste e minha índole do bem me diz uma coisa, outro lado de mim diz outra. Fecho meus olhos em uma batalha travada. "O que sentiu, Emília?" Olhando profundamente dentro dos meus olhos, eu deixo sair o que eu realmente senti naquele momento.

"Alívio..." Confesso com receio e dificuldade. "Eu... Eu senti alívio." Admito com lágrimas nos olhos.

"Eu sabia." Ele fala e puxa meu corpo para dentro de seus braços. "Eu sabia que no fundo, você também era sensata. Tinha de haver alguma explicação para o que senti quando te vi pela primeira vez." Ele respira meu cheiro e beija meu pescoço.

Com toda a confusão de sentimentos, a dor de ter me sentido aliviada por ver aquele homem recebendo o que merecia por ter cometido uma atrocidade, eu não quero mais a habilidade de raciocinar sobre o que é certo. Isso é uma palavra que não cabe mais no meu vocabulário. O politicamente correto morreu para mim, hoje. Olha onde estou, tendo um caso com um assassino e acabo de confessar me sentir aliviada com a punição de um homem.

Agora eu sei do que Joe é capaz, ele não tem misericórdia para quem faz o mal, ele gosta disso. Eu pude ver sua face prazerosa em dar ao criminoso o que ele merecia. Sinto algo se anestesiar dentro de mim, não sinto mais culpa, mais pena ou me alto condeno por nada. É uma sensação estranha, mas boa e libertadora.

"Você ainda quer me desafiar?" Ele pergunta-me acariciando meus cabelos.

"Não... Não quero..." Respondo. "Mas... Eu queria dizer uma coisa."

"O que quiser, estou pronto para te ouvir a qualquer momento, minha bonitinha." Automaticamente me pergunto se ele trata as outras assim.

"Sou eu e somente eu, na sua cama, ou..." Começo sabendo que nada adiantará, mas ele me interrompe.

"Não aconteceu nada ontem a noite." Eu sabia que Joe não tinha motivos para mentir para mim, portanto senti uma ridícula onda de alívio em meu corpo.

A Lenda Joseph (Concluído)Where stories live. Discover now