Capítulo 52

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A ideia de ver o Harry e a festa daquela noite ficou na minha cabeça ao longo do dia. Eu tinha passado a maior parte dele a tentar evitar o Dan, e eu estava a ir muito bem até ele entrar na sala do armazém, que tinha sido o meu esconderijo na maior parte da tarde. O espaço que eu ocupava ficava na parte de trás, e a luz devia de ter sido trocada há um mês, ou seja, eu tive que trabalhar no escuro.

”Bo” Ele chamou.

O som dos seus passos ecoou pelo espaço.

"Merda." Eu murmurei, escondendo-me ainda mais atrás de uma das prateleiras.

O meu esforço foi arruinado, tropeçei numa caixa que eu tinha colocado no chão antes. O barulho dos CDs a espalharem-se pelo chão frio denunciou a minha presença. O Dan aproximou-se logo de mim, o seu cabelo a cair pela sua testa quando ele me ofereceu a sua mão. Eu aceitei, ansiosa para limpar a poeira da minha roupa.

O meu calmo “obrigada” foi recebido com um aceno de cabeça, depois de poucos segundos eu virei-me. Eu sabia que estava a ser rude, mas não sabia mais o que dizer, não estava exatamente em condições de falar, ultimamente, especialmente depois de ele ter feito coisas pelas minhas costas. Ele não deveria ter dito ao Harry, não daquela maneira.

Abaixei-me novamente, juntando e organizando os itens que haviam se espalhado no chão há pouco. Surpreendi-me quando um par extra de mãos começou a ajudar-me. A contração perceptível na sua boca fez-me acreditar que ele estava a preparar-se para exteriorizar os seus pensamentos.

"Desculpa, Bo." Dan explodiu. "Eu sei que não devia de ter contado, e sinto-me mal por isso. Mas eu estava apenas preocupado contigo. O Harry tinha que saber. "

A sua confissão deixou-me um pouco confusa. O Dan apareceu um pouco em pânico com a minha falta de resposta, colocou o disco no chão e sentou-se ao meu lado. Nós estávamos encostados na prateleira. Eu não esperava um pedido de desculpas, na verdade eu estava preocupada com a hipótese de uma discussão cheia de gritos, mas isso nunca aconteceu. Eu não estava preparada.

"Se eu puder fazer alguma coisa para fazer as pazes contigo, eu farei." Dan disse.

Cautelosamente eu coloquei a minha mão sobre a dele que estava a descansar no seu joelho. Eu espero que a minha rejeição suave da sua tentativa de entrelaçar os nossos dedos não fosse percebida pelo Dan. O meu gesto não tinha sido feito noutra intenção senão a de amizade.

"Eu estava aborrecida contigo." Eu admiti. "Mas eu entendo porque é que tu o fizeste, tu estavas apenas preocupado comigo e eu realmente aprecio isso, Dan".

O azul nos seus olhos pareceu iluminar-se, aliviado de que o que ele tinha feito não tinha deixado uma marca horrível no nosso relacionamento. Tirei a minha mão da dele, colocando-a no meu colo.

"Podemos voltar a ser como eramos antes? Eu gosto de estar contigo no trabalho." Ele sorriu.

"É claro que sim, desde que me ajudes primeiro a arrumar isto." Fiz um gesto para a confusão à nossa volta.

"Claro." Ele riu.

O processo foi muito mais fácil com um conjunto extra de mãos, colocamos a caixa de volta na prateleira e saimos para a parte da frente da loja. Reparei no comportamento mais reservado do Dan, uma mudança na forma como ele se portava perto de mim. Apesar de nos termos esquecido dos problemas, ainda não havíamos voltado ao normal. Talvez ele estivesse a começar a perceber o quão longe o Harry e eu estávamos dispostos a ir para fazer o nosso relacionamento dar certo.

"Vais fazer algo depois do trabalho?" Dan casualmente perguntou, ele sorria para um cliente quando ele entregou a sua compra e o recibo.

"Sim, nós vamos a uma festa."

Guardei os sacos que sobraram no balcão e tirei o cabelo do meu rosto, quando terminei.

”Nós?”

Meti o meu cabelo sobre o meu ombro.

"O Harry e eu. Aparentemente, a casa fica fora da cidade."

Mexi na minha bolsa e encontrei o batom de que estava à procura. Puxei a tampa e passei o produto nos meus lábios. Os meus olhos encontraram o Dan, e eu rapidamente apercebi-me o quão intensamente ele estava a observar-me. Eu fechei o tubo e guardeio-o novamente. 

"Isso vai ser divertido." Ele sorriu fracamente, o seu espírito de felicidade ia diminuindo.

"Vais fazer alguma coisa?"

As minhas mãos pressionaram a bancada na tentativa de me sentar. Dizer que me surpreendi quando o Gan agarrou a minha cintura era um eufemismo. O choque resultou em mim, estupidamente, a bater com a cabeça no ombro dele. Eu estremeci e esfreguei a área dorida com os meus dedos.

"Estás bem?"

Os olhos dele arregalaram-se e mostravam preocupação, as mãos dele ainda confortavelmente a segurar os meus quadris. Eu ri nervosamente, assegurando-lhe que estava bem e ele finalmente retirou as suas mãos. Não se pareceu nada como o toque do Harry, que era eletrizante, trazia borboletas ao meu estômago e aquecia-me. Com o Dan não havia nenhuma faísca.

"Acho que vou-me encontrar com alguns amigos para ir a um jogo de basquetebol."

"Eu não sabia que tu jogavas."

"Sim, eu não sou muito bom, mas é divertido." O entusiasmo quase infantil que ele me mostrou fez-me sorrir. "Tu sabes jogar?"

"Oh não, não." Eu admiti.

Era obrigatório na escola para participar em jogos, mas eu nunca tinha sido muito boa na coordenação. Mas se alguém me desse algo para bater a bola como uma raquete ou taco, eu até era boa.

"Talvez eu pudesse ensinar-te.", Brincou.

"Eu não acho que o basquetebol é o meu forte." Eu respondi humorada, balançando as pernas para trás e para frente.

O meu riso dissolveu-se, eu levantei a minha cabeça e o Dan tinha-se aproximado, o seu sorriso quente. Movi-me um pouco sob o seu intenso olhar enquanto o seu indicador tirou alguns fios de cabelo dos meus olhos.

"Podemos trabalhar nisso." Ele falou baixinho.



***



O Dan tinha insistido em esperar comigo até minha boleia chegar. Nós conversamos fora da loja por cerca de 10 minutos antes de o veículo preto familiar entrar no estacionamento, parando num lugar vazio.

"O Harry chegou." Eu informei o Dan.

"Oh ok. Bem, vejo-te em breve, Bo. "O Dan sorriu, inclinando-se levemente para me envolver num abraço amigável.

Os meus olhos arregalaram-se em alarme ao ouvir uma porta bater, olhei por cima do ombro para ver o Harry a encarar-nos. Ele caminhou até nós determinado.

"Tem um bom fim de semana.", Eu respondi, apreçando o nosso adeus.

Felizmente, o Dan virou a esquina antes de perceber a presença do Harry irritado. O meu namorado passou por mim e eu rapidamente agarrei o material que cobria o seu braço direito.

"Mas porque é que ele fez aquilo?" O Harry perguntou quando ele finalmente se dirigiu a mim. "Ele sabia que eu estava aqui, porque é que ele fez aquilo?"

A sua pergunta retórica ficou sem resposta com o meu apelo desesperado para agarrá-lo. Empurrei os ombros dele numa tentativa de fazê-lo parar. Às vezes a força do Harry era bruta e a minha não foi problema para ele.

"Harry, por favor, vamos para o carro."

A teimosia era notável enquanto eu praticamente o tentava arrastar até o carro. Ele saiu de perto de mim, entrando, mal-humorado, no carro.

"Vocês são outra vez amigos?"

Entrei no carro, descansando no meu assento e virando-me para ele. A sua testa franzida, sinal da sua irritação. Tudo o que eu queria era beijá-lo para que isso desaparecesse.

"Sim, nós conversamos hoje."

"Ele não tentou nada, pois não?" Harry encolheu-se.

"Não." Eu balancei a minha cabeça. "E eu posso ser amiga de quem eu quiser." Eu respondi cortante, farta desta discussão constante.

Os olhos do Harry fecharam-se em frustração, com as mãos a segurar firmemente o volante, empalidecendo.

"Eu não estou a dizer que tu não podes ser amiga dele, obviamente, eu não vou proibir-te de fazer qualquer coisa que seja, isso é uma loucura." Ele respondeu. "Mas vamos lá, Bo. Ele é um tremendo idiota."

A sua agressão não foi dirigida para mim, mas para o Dan. O Harry, agora, não me assustava nem um pouco. Eu sabia como lidar com seus problemas de raiva.

"Harry!"

"Ele é!"

O nosso grito atraiu pessoas que estavam a sair das lojas e a ir para os seus carros. Eles não precisam de saber da nossa conversa.

"Tu precisas de te acalmar agora, ou eu não vou a lugar nenhum contigo." Eu repreendi.

Uma confusão de mágoa e raiva consumiu as feições do Harry, gemendo em aborrecimento e afastando-se. A porta do motorista abriu-se, os pés dele a tocar no chão. O carro balançou com uma pancada brusca e eu fiquei em silêncio. Eu cuidadosamente observei as costas dele através da janela. Elas descansaram contra a porta enquanto ele se inclinou um pouco, com as mãos sobre os joelhos. O Harry respirou profundamente o ar ao seu redor e lutava pelo seu equilíbrio desesperadamente.

Eu estava pronta para sair do veículo quando o Harry caminhou para longe do carro, com medo de que ele pudesse perseguir o Dan. Mas não era preciso preocupar-me, ele desviou o seu percurso na direção oposta e caminhou até a parede. Os pensamentos de dúvida foram empurrados para trás da minha mente, descendo do carro e seguindo o Harry. Quando cheguei a ele, o seu peso estava apoiado no muro baixo, as palmas das mãos na parte superior dos tijolos. O seu corpo estava mais uma vez inclinado ligeiramente, a cabeça para baixo.

O meu esforço foi logo recompensado, permitindo-me sentar-me ao lado do Harry na parede. Deixei-o quieto por alguns minutos, permitindo que a sua respiração se estabilizasse antes de levantar a mão e pentear os seus cabelos entre os meus dedos.

"Estás bem?" Eu perguntei um pouco cautelosa.

"Tudo bem." Ele resmungou.

Visivelmente ele parecia mais relaxado, inclinando-se um pouco com o meu toque. Eu espantei-me com como um simples gesto poderia fornecer-lhe tal conforto, colocando-o num estado tranquilo e liberando a tensão nos seus músculos.

"Isso é bom."

Ele levantou-me, a minha mão a cair pelo peito dele. Ainda tinha a mesma testa franzida de há pouco, mas os seus lábios estavam diferentes. Em vez disso, estavam macios e faziam beicinho, a tentar encontrar as palavras certas.

"Eu não queria…"

"Estou feliz por te teres acalmado." Eu interrompi a sua frase.

A culpa era tudo o que ele tinha para me oferecer, remorso, a sua voz alterada. Mas eu preferia muito mais que ele esquecesse isto, em vez de deixar a raiva ferver. Às vezes, só é preciso retirar-se da situação e, aparentemente, ele estava a aprender a fazer exatamente isso.

”Está tudo bem.”

Eu dei um beijo na sua bochecha, um gesto para mostrar que estava tudo bem.

"Nós temos uma festa para ir, não é?"

Ele riu levemente, as covinhas que eu amava fizeram uma aparição bem-vinda. O Harry mostrou a sua habilidade atlética de boxe, escapando rapidamente quando eu tentei tocar nas suas covinhas adoráveis. Não que eu era algum tipo de desafio para a sua formação, ele seria sempre muito rápido para mim.

"Nós temos de ir." Ele sorriu, fazendo uma mudança drástica no clima.

Eu agarrei-me ao antebraço do Harry e desci do muro, entrelaçando os nossos dedos enquanto caminhávamos a curta distância para o carro. Desta vez, fui ajudada a subir no carro por um par de mãos quentes, que descaradamente acariciaram o meu rabo.

Nós fomos para a minha casa num clima um pouco mais feliz,o Harry já estava trocado e esperava no meu quarto enquanto eu troquei de roupas no quarto de banho. Antes de sair, eu verifiquei a minha aparência no espelho, arranjando alguns cabelos que não tinham sido presos no rabo de cavalo. Os meus dedos puxaram a barra da minha nova blusa, o decote um pouco maior do que eu estava acostumada. As minhas amigas tinham dado a sua aprovação, juntamente com os shorts. Eu meti um pouco de maquilhagem e verifiquei o rímel à prova d’água que revestia as minhas pestanas.

"Vamos, Bo." Harry chamou.

"Espera".

Um último olhar rápido no espelho confirmou que eu estava pronta. Saí da casa de banho. Passei pelo Harry e fui buscar a minha mala. Mesmo de costas eu podia sentir o olhar curioso do Harry sobre mim. Um grito escapou da minha boca quando uns dedos puxaram a parte inferior dos meus shorts.

"O que estás a fazer?" Eu perguntei surpresa, virando-me, corajosamente, para o Harry.

Um cap estava agora nos seus caracóis, uma camisola preta apertada agarrada ao seu tronco. Ele usava uma camisa xadrez escura por cima, calças e um par de sapatilhas Nike brancas.

"A tentar encontrar o resto das calças." Ele puxou levemente outra vez.

Eu bufei mostrando o meu aborrecimento e bati nas mãos delas.

"São uns calções.."

A minha confiança recusou-se a submeter a cara franzida que o Harry tinha agora. Ficamos juntos enquanto ele brincava com o meu rabo de cavalo, correndo o meu cabelo com os dedos. A minha cabeça caiu, descansando no seu peito e ouvindo o bater do coração do Harry. Isto fez-me sentir cansada por alguma razão.

"Foste tu que os escolheste?"

Os seus braços estavam à volta do meu corpo, reconfortante e quente.

"Não, foi Hayley."

"Hmm". Ele ponderou.

Eu lutei contra o meu desejo, afastando-me dele. O abraço do Harry ainda permaneceu segurando os meus cotovelos até que eu levantei os meus braços e coloquei-os à volta do pescoço dele. Levantei-me ficando em pés.

"Não gostaste?" Eu perguntei um pouco decepcionada.

Apesar do meu esforço eu ainda não era capaz de me igualar à sua altura e eu sabia que o Harry tinha notado isso. Claro que tinha.

"Eu amei e tenho certeza que todos os gajos na festa também vão."

"Mas eu não me importo com o que os outros pensam." Um beijo que deixei nos seus lábios seguiu as minhas palavras tranquilas. "Só contigo".

Consegui fazê-lo rir com o toque do meu indicador no seu nariz. Quando saí de bicos de pés, andei até o guarda-roupa e tirei um casaco.

"Que sapatos vais usar?"

"Não sei, pensei que podia ir descalça." Eu disse mexendo os dedos dos pés.

Eu tinha as minhas unhas pintadas com a minha cor favorita, um brilhante azul-marinho. O Harry pareceu gostar também.

"És tão engraçada." Ele brincou.

"Eu sou hilariante." Eu virei-me com o casaco na mão.

"Yeah, yeah, vamos lá." Harry encorajou-me levemente, lutando contra o seu sorriso.

Observei-o atentamente a pegar algumas sandálias da bagunça debaixo da minha cama, segurando-as para mim, quando ele se levantou. Elas pareciam mais pequenas nas suas mãos.

"Eu não quero usar essas." Eu murmurei.

"Escolhe outra coisa, então."

Apesar do que o Harry sofria com as minhas trocas de roupa, ele sempre ficou paciente. Ele nunca perdeu a calma, muitas vezes pegava em pulseiras e brincava com elas, enquanto estava deitado na minha cama. Ele ficava feliz de esperar e depois poder ver. Esta rotina foi provavelmente nova para ele, pois o Harry nunca teve que reservar um tempo extra para uma mulher. Especialmente uma mulher indecisa.

"As minhas Vans ainda estão em tua casa?"

"Não, eu acho que tu já os trouxeste." O Harry pensou, examinando o meu quarto.

Rolou da minha cama e começou a vasculhar a minha mala.

"Ah, está aqui uma!", Exclamei, levantando a sapatilha no ar depois de tirá-la de uma pilha de roupas.

"Encontrei a outra."

O Harry já estava ajoelhado diante de mim, as minhas pernas a balançar do lado de fora da cama.

"Podes calçá-los por mim, please?" Sorri com esperança, supondo que ele iria rir recusando o meu pedido.

"Eu acho que elas não te vão sertir." Harry olhou para a sapatilha que ele segurava.

"Eu quis dizer, não vão servir-me a mim!"

A sua brincadeira fez-me rir, pegando no meu pé e metendo-o no seu colo. A sapatilha entrou com facilidade, a língua do Harry estava para fora, mostrando a sua concentração enquanto ele apertava o cordão como muitas vezes ele me vi-a a fazer. Eu mexi os meus dedos para ele e descansei o pé na sua coxa para ele calçar a saparilha esquerda.

"Hey." O Harry avisou quando eu lhe roubei o cap.

Eu coloquei-o na minha cabeça, a aba para trás, como ele usava. O meu riso surgiu quando vi o cabelo do Harry todo despenteado.

"Ai, apertaste muito."

Ele realmente era um pouco desajeitado, às vezes. Os laços foram soltos levemente e o Harry apertou-os novamente.

"Como está agora?"

"Bom, muito obrigada.", Eu respondi com um sorriso, admirando o seu trabalho.

Ele levantou-se, apertando os meus tornozelos em resposta à minha tentativa frustrada de mantê-lo no chão.

"Isso é meu." Ele falou em referência ao cap, estendendo a mão para ele.

"Nós podemos partilhá-lo." Eu ofereci.

"Não".

A sua resposta rápida foi dada com beijos deixados por ele pela minha perna. Eu logo reconheci o gesto como uma distração, uma manobra para desviar o meu interesse e roubar-me o cap.

"Vamos lá!"



***



Felicidade apareceu no meu estômago quando o Harry inclinou-se pela janela do passageiro e beijou a minha bochecha. Ele afastou-se com um sorriso, tomando conta da bomba de gasolina. Apoiei o queixo na palma da minha mão, o meu cotovelo sustentando-me enquanto eu o vi a abastecer o seu carro.

"Vai haver muitas pessoas lá?" Eu perguntei, metendo a cabeça fora da janela.

"Sim, provavelmente. A Hayley tem uma casa muito grande."

"A casa é dela ou dos seus pais?"

"É do tio dela, mas ele quase nunca esta lá, é por isso que ela fica, na maior parte do tempo, na casa de amigos."

Eu pensei sobre as informações que o Harry me tinha acabado de dar por um curto tempo. O Harry via os números a deslizarem na tela, apertando o bico apenas o suficiente para atingir o valor que ele desejava. Contente com seu esforço, ele colocou a bomba de volta no lugar.

"Isso é um pouco triste." Falei solenemente.

"O quê?" Ele perguntou, mexendo na sua carteira.

"Ela não ter ninguém."

"Ela tem nos a nós e a todos os outros." O Harry encolheu os ombros. "Queres alguma coisa da loja?"

Ele balançou a cabeça em sinal para a pequena loja do posto de gasolina, ajustando o cap que ele usava enquanto esperava pela minha resposta.

"Eu vou contigo." Eu disse, abrindo a maçaneta da porta.

"Não precisas de vir, Bo. Queres uma bebida?"

Ele agarrou a minha mão, ajudando-me a descer do carro. Agarrei-me a ele quando fechei a porta, um pouco de força. Eu sabia que o Harry estava com medo das minhas ações. Os homens com os seus carros são muito cuidadosos. Um pedido de desculpas silencioso foi tudo o que tive que fazer. Pelo seu olhar percedi que fui perdoada.

"Eu quero ver os doces." Eu informei-o, abrindo o caminho para a entrada.

"Ah, claro que sim." Ele murmurou atrás de mim.

"Eu ouvi isso."

A loja era pequena, alguns frigoríficos para os refrigerantes. Os produtos nos stands da loja eram principalmente chocolates, produtos açucarados, pacotes de batatas fritas ou revistas de conteúdo adulto, aparentemente tudo o que alguém precisava para uma longa viagem de carro.

Eu encolhi-me com a piscadela de olho que recebi, do rapaz que parou ao meu lado. Ele parecia um pouco mais velho do que o Harry, mas não tinha nem a metade do seu charme. Cabelo loiro despenteado sobre os olhos castanhos, uma barriga arredondada saliente sob a camisa. Era quase como se ele me quisesse mostrar a revista que ele segurava, a morena na frente exibindo o seu decote.

A presença que agarrou a minha cintura guiou-me para mais longe, o Harry meteu-se entre nós os dois.

"Solta.” Ele instruiu.

Decidi não chamar a atenção para a situação, continuando a ler a embalagem dos chocolates.

”Já escolheste?”

O Harry virou-se para mim e o homem já tido ido embora. Eu bati com a minha testa suavemente no seu braço, apertando a mão dele. Ele levou isso como um agradecimento, apertando suavemente os meus dedos.

"Umm." Eu virei-me e peguei num pacote da prateleira.

"M & M", eu sorri, segurando um pacote.

O Harry franziu o nariz, empurrando a mão que segurava os M & M. O pacote ainda estava entre os meus dedos. Curiosa com sua rejeição, eu olhava para ele.

"Eu não gosto de M & M... têm amendoim."

Eu observei-o enquanto ele continuava a escolher entre os doces. O meu braço caiu lentamente com a resposta dele, ele bateu na minha perna.

"O quê? Porque não? "

Eu não quis que minha voz soasse tão afetada. Porque eu estava a ficar emocional por causa de... chocolate? Ou, a questão mais importante, porque é que ele não gosta de amendoim?

"Eu não gosto, eu prefiro os só de chocolate." Harry admitiu, metendo as mãos nos bolsos das suass calças e dando um paço para a direita, longe do meu olhar desconfortável.

Eu segui-o, espremendo-me no espaço entre o corpo dele e a prateleira.

"És a primeira pessoa que conheço que não gosta de M & M, mas podes muito bem levar smarties." Eu disse dramaticamente.

"Eu podia levar smarties…" A cara dele iluminou-se de excitação.

"Nããão, não foi isso que eu quis dizer."

Nem o Harry ou eu imaginávamos que levaríamos tanto tempo para escolher um doce. Tínhamos passado uns bons 7 minutos e levantar várias opções e ainda não tínhamos decidido.

"Que tal se levássemos os M & M e então eu como o chocolate e tu os amendoins."

Ele sorriu como se fosse a melhor ideia do mundo. Tão jovem e… feliz, nada como o que eu tinha visto antes, quando os seus olhos se incendiavam de raiva antes de afetar o seu alvo com um golpe sólido no rosto.

"Então, basicamente o que eu ganharia disso? Um amendoim que já esteve na tua boca?" Cheguei à conclusão de desgosto.

"Tu disseste que gostavas de amendoins."

"Não cobertos de saliva, Harry." Eu balancei minha cabeça.

"Nós partilhamos a saliva um do outro o tempo todo..."

A sua declaração foi cortada por uma rápida chapada no seu braço. Ele queixou-se, a brincar.

"Tudo bem, eu fico sem nada e tu levas na mesma os M & M."

"Parece-me bem.", Sorri.

Durante nosso processo de escolha, várias pessoas entraram na loja, deixando-nos no final da longa fila. O Harry segurou os chocolates e eu agarrei-me ao seu braço.

"Quando é que estavas a pensar contar-me que a festa era num jardim… com uma piscina?" Eu testei-o.

O seu corpo endureceu com a minha pergunta. Ele sabia perfeitamente.

"Eu disse-te." O Harry disse com dificuldade em olhar-me nos olhos.

Foi nesse momento que ele convenientemente se preocupou com a parte de trás dos chocolates, "lendo" a informação nutricional. Eu sempre achei que não havia muito sentido em contar as calorias, o tempo que uma pessoa gasta a ler isso priva-a de comer de uma vez. 

”Não, tu não me disseste nada.” Eu disse.

"Oh, bem, a Hayley ligou-me hoje."

"Quando?"

"Uh, acho que foi quando te estavas a vestir na casa de banho."

A sua história ia mudando a cada segundo, cada vez com menos credibilidade.

O Harry não foi rápido o suficiente para me impedir de levantar a frente da sua camisola preta. A sua barriga bronzeada apareceu, mas não era nisso que eu estava interessada neste momento. O Harry protestou, chamando o meu nome de maneira áspera. Os meus dedos rapidamente seguraram na parte da frente das suas calças apertadas para puxá-las para baixo o suficiente para eu confirmar que ele não estava usando boxers.

"Tu estás de calções de banho. Se a Hayley te telefonou em minha casa, tu não terias tido tempo para te trocares."

Eu disse aborrecida pela sua pequena mentira, o tecido caiu, cobrindo a sua barriga novamente, para minha insatisfação.

"Coincidência?" Ele testou e sorriu como uma criança culpada.

"Vergonhoso".

"Tu não és muito boa a nadar de qualquer das maneiras."

O encolher dos seus ombros irritou-me, curvando-se para apanhar os pacotes de chocolate que caíram. Era apenas uma brincadeira, mas eu estava um pouco envergonhada por ele apontar uma das minhas fraquezas.

"Isso não significa que eu não queira nadar."

Fiquei surpreendida com sua subida rápida, voltando a encarar-me.

"Bem, de qualquer das maneiras, eu achei que tu ias gostar mais de me ver molhado...a nadar." O Harry piscou-me o olho.

"És muito divertido, mas sabes que mais? Eu também vou estar molhada a nadar na piscina." Pisquei o olho para ele também.

"Tu não podes.." Ele disse. "Tu não tens biquíni."

Foi então que eu me apercebi do seu plano, ele não tinha intenção de me informar da piscina porque ele não queria que eu me despisse diante dos rapazes que iriam estar na festa. Eu não pude evitar o pequeno sorriso no meu rosto enquanto eu puxei a minha blusa um pouco para baixo para lhe mostrar o meu biquíni verde que atualmente segurava o meu peito.

"Tu sabias?" O Harry perguntou baixo, a cabeça um pouco inclinada para o lado, olhando para mim.

"Sim, a Hayley disse-me quando estivemos nas compras."

Os seus dedos puxaram outra vez a minha blusa, apenas o suficiente para seus olhos.

"É um pouco pequeno, não é?"

"O quê?" As minhas sobrancelhas ergueram-se.

"Se tu saltares para cima e para baixo, ele vai cair." Ele tentou explicar com um exemplo, apontando para o meu peito coberto pelo biquíni.

A mão dele contraiu, olhando-me enquanto pensava. Se fosse pelo Harry, eu provavelmente ficaria vestida com um camisola larga e ums calças durante todo o ano. Decidi tentar o seu exemplo na frente dele.

"Assim?" Eu perguntei, antes de começar a saltar, em frente a ele.

O Harry arregalou os olhos quando seguiu o meu movimento, ou melhor, o movimento do meu peito.

"Tudo bem, tudo bem, eu entendo." Ele admitiu desesperadamente, parando-me com as suas mãos pesadas nos meus ombros enquanto eu ri.

Dark - Tradução PTOnde histórias criam vida. Descubra agora