Capítulo 13

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Enquanto sentia a água quente massagear suas costas, Antonella pensava no que estava prestes a fazer. Estava tudo indo tão bem e agora precisava fazer algo que não estava em seus planos. Aquela ligação realmente lhe deixara pensativa e a ansiedade com as notícias de Fred estavam lhe sufocando. Ficou imóvel com os olhos fechados debaixo do chuveiro por alguns minutos. Precisava relaxar, precisava lavar a alma. 

Ao sair, percebeu várias chamadas perdidas do Anderson em seu celular. Enxugou as mãos na toalha em que estava enrolada e retornou com certa pressa.

Após algumas chamadas, ele finalmente atendeu. Estava com a voz embargada de sono.

— Antonella — disse ele com a voz baixa e grave

— Andy! O que aconteceu? — perguntou percebendo a tristeza no tom de sua voz

Após um breve silencio seguido de choro do outro lado da linha, ela já havia entendido tudo. Fred se foi.

(...)

A sexta-feira chegou rápido e lá estavam todos na cerimonia de crematório de Fred. Sua esposa estava em pé ao lado do caixão, escoltada por um policial, uma vez que havia sido considerada culpada por seu assassinato. Seu semblante era sério, mas seus olhos marejados mostravam que ela ainda o amava apesar de tudo.

Antonella sentia muito a perda de Fred, mas naquele momento estava mais empenhada em consolar Anderson que chorava a perda de seu amigo e padrinho.

Os integrantes do grupo Sourire prestaram uma singela homenagem a Fred e em seguida Anderson pediu para dizer algumas palavras.

— Eu... Eu acredito que... Na verdade eu preciso dizer que o Fred foi um grande homem. Muitos de vocês sabem que ele foi o meu padrinho quando iniciei no teatro, mas... Mais do que isso, ele foi o meu amigo. Eu me lembro do dia em que o Ballas nos apresentou. Eu ainda estava começando e o Fred viu em mim aquilo que nem eu mesmo via. Ele sempre conseguia ver além dos nossos olhos, sempre dizia a coisa certa. Uma vez estávamos passando de frente à praia e ele apontou pra ela e me disse: "está vendo o mar, a praia só existe por causa dele. Assim como os momentos bons só se tornam especiais pelas pessoas que estão nele"

Após a cremação, Antonella dirigiu para a casa com Anderson no banco do carona. Ele estava reclinado no banco e era possível ver as lágrimas escorrerem por baixo de seus óculos escuros. Ela queria lhe dizer algo, mas o silencio parecia ser mais adequado naquele momento. Ela ligou o rádio do carro e eles seguiram em silêncio ao som de "Good Riddance, Green Day".

Ao chegar em casa, antes de sair do carro ela lhe disse:

— Foi lindo aquilo que você disse.

Ele apenas sorriu com um semblante de gratidão.

Na casa estavam Daniel e Elídio que esperavam os dois para lhe darem as condolências. Anderson entrou em silêncio e sentou-se no sofá ao lado de Daniel. Antonella foi recebida com um abraço de Samara e nesse momento desabou. Chorou como uma criança. Samara a levou para o quarto e se trancou com ela.

Aquele choro que estava guardado durante todo o velório, agora podia finalmente ser colocado pra fora. Samara acariciava seu cabelo e lhe dizia palavras de consolo enquanto ela reclinava sua cabeça em seu colo.

— Andy, você acha melhor cancelarmos as sessões de hoje? — quis saber Daniel

— Não precisa, eu consigo fazer.

— Tem certeza? Você pode ser o mc também. — sugeriu Elídio.

— Tá bom.

Samara saiu do quarto após alguns minutos.

— Ta tudo bem com ela? — quis saber Elídio

— Ela acabou pegando no sono. Eu nunca vi ela chorar assim. Na verdade, eu nunca vi ela chorar.

— No velório ela parecia estar lidando bem com tudo isso — disse Anderson

— Amor, eu vou buscar as meninas na escola. Quer vir comigo?

— Claro – respondeu Elidio

Anderson e Daniel ficaram sozinhos na sala quando o casal saiu. Anderson parecia mais recuperado. Chorar sempre faz bem.

— Será que ela tá bem? — disse ele

— Eu não sei. Vou lá ver como ela tá – disse Daniel

— Não. Ela precisa de um tempo. Além disso a Samara disse que ela tá dormindo.

— ok

— Acredita que ela passou a manhã inteira preocupada comigo? Nem parecia estar triste, e agora ela desabafa assim...

Daniel sentiu-se um pouco enciumado, mas entendia a situação. Ela era mesmo uma boa amiga.

Mais tarde naquele dia Antonella acordava mais calma, porém com uma forte dor de cabeça de tanto chorar. Seus olhos estavam muito inchados e ela, apesar da fome, resolveu ficar na cama mais um pouco. Em seu celular havia um áudio de um número ainda não salvo.

Muito bem. Eu vi sua aproximação com o Anderson no velório. Confesso que senti um pouco de ciúmes, mas... (risos) Enfim, você tinha que se aproximar dele, não é mesmo? Agora presta atenção: o aniversário do menino está chegando e eu quero que você vá. Talvez eu apareça por lá pra matar um pouco a saudade (risos). A minha irmã vai ficar feliz quando você convencer aquele imbecil a deixar que ela veja o próprio filho. Você vai fazer isso pra mim não vai? Pelos velhos tempos (gargalhada).

"Aquele idiota" pensava ela enquanto se levantava em direção a cozinha. Era nítido que ela não queria fazer isso. Não era justo com o Anderson. Ela abriu a geladeira e procurou algo para comer.

— Oie — disse Daniel, fazendo com que ela se assustasse.

— Ah, oi Dani. Não vi que você estava aí.

— Você está melhor?

— Estou sim, obrigada. Só com um pouco de dor de cabeça, mas já já passa.

— Eu sinto muito pela sua perca, na verdade foi uma perca para todos nós.

— É foi sim.

— Eu acho que já sei a resposta, mas... Você vai ver o espetáculo hoje?

— Desculpa, mas eu sinceramente não tô com cabeça hoje.

— Tudo bem.

Após alguns segundos de silêncio Antonella sentou-se na bancada de frente para Daniel e perguntou:

— Dani, você já ficou preso entre ter que fazer uma coisa que não quer e não fazer, mas correr o risco de colocar tudo a perder?

— Do que você está falando?

— Nada em especial — respondeu ela desistindo da pergunta

— Bom, muitas vezes, agora, por exemplo, eu quero fazer uma coisa, mas tenho medo de não ser correspondido.

— Tem a ver com a Karina?

— Não é dela que eu estou falando — disse ele deixando-a constrangida.

Elídio chegou chamando Daniel para irem para o teatro e ele se despediu dela com um beijo na bochecha.

— Fica bem.

Em Breves PalavrasWhere stories live. Discover now