Capítulo 1

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A estação de metrô do Rio de Janeiro estava lotada no fim daquela tarde. As pessoas caminhavam rapidamente com uma expressão de cansaço, a qual Antonella contrastava com seu sorriso otimista enquanto observava imóvel, aos banners com anúncios de eventos dos próximos dias. O espetáculo de teatro de improvisação lhe chamou a atenção. O ator interpreta algo que não foi previamente pensado ou escrito, muito parecido com o que ela fazia todos os dias, não apenas em seu grupo de voluntários, mas em sua vida pessoal.

No caminho para casa, pensava no trio de atores do cartaz. Precisava achegar-se a eles para conquistar o que almejava a tanto tempo, o que não estava longe, afinal sua melhor amiga namora um deles. Samara, uma atriz popular e mãe de duas filhas, com quem Antonella tem uma relação de companheirismo e muita gratidão. Em troca do cuidado com as filhas e a casa, Samara lhe oferece seu teto, honorários e sua amizade. As meninas também lhe concedem muito carinho, talvez pela falta do pai, ou possivelmente por passarem mais tempo com ela do que com a mãe.

O café da manhã e o jantar são os únicos momentos onde todos se reúnem na casa, afinal possuem uma rotina intensa, principalmente Samara. Na cozinha, Antonella faz o lanche das meninas enquanto Samara prepara as filhas para a escola.

- Antonella, traz as lancheiras que a gente já vai!

- Já vou! - gritavam de um cômodo para outro.

- O Elídio vem pra cá - disse entrando na cozinha - vão fazer uma temporada de espetáculos aqui semana que vem.

- É, eu vi um cartaz deles no metrô. Ele vai ficar aqui?

- Num hotel mas talvez passe aqui na sexta. Essas gravações estão me deixando sem tempo até para respirar. Faz alguma coisa leve pro jantar. Eu vou deixar as meninas na escola, vou na academia e só volto a noite - disse apressada procurando as chaves do carro - não esquece que elas tem natação hoje. Achei. Tchau.

- Tá bom. Cuidado com essa pressa!

A rotina era praticamente a mesma: escola para as meninas pela manhã, atividade com elas de tarde e à noite Antonella encontrava-se com os colegas voluntários, atores em sua maioria, com quem fazia trabalhos sociais.

A semana passou rapidamente e a visita mais esperada pelas crianças finalmente chegou.

- Tio, Lico! - exclamaram Laura e Alice, filhas de Samara, ao verem o namorado da mãe.

- Meu Deus, estão quase do meu tamanho! - brincava ele enquanto entrava na casa - Antonella! Que saudade do seu tempero! - confessou erguendo-a num abraço.

- Só do tempero? - indagou.

- Não, que é isso? Do suco também! Porque suco não tem tempero, até onde eu sei.

- Vamos almoçar? Todo mundo lavando as mãos, vamos - ordenou Samara enquanto ajudava a pôr a mesa - Vão ficar quantos dias, amor?

- Temos uma sessão amanhã e domingo teremos duas. Os meninos vão embora na segunda de manhã, mas eu estava pensando em ficar mais um dia se você não se importar.

- Ê! - gritaram as meninas.

- Claro que não, meu amor!

- E você, Antonella, vai nos dar a honra de assistir alguma sessão?

- Claro! Eu vou com o grupo.

- Grupo? - quis saber Elídio.

- Ela tá chique, amor - comentou Samara - Tá com um grupo de humor.

- "Sourire" - disse Antonella com expressão de orgulho.

- Hmmmmmm - brincou Elídio com sotaque francês - Surriê... Isso mesmo. Fico feliz em saber que você seguiu o meu conselho. O teatro é para aqueles que querem ir e experimentar além da nossa realidade. É onde a gente acha a respostas de várias perguntas.

Em Breves PalavrasWhere stories live. Discover now