Capítulo 8

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Naquela noite, enquanto os amigos faziam hora para irem para o aeroporto, Daniel se aproximou de Antonella que estava na varanda.

- Tudo bem?

- Oi Dani, tudo. Senta.

- Tá fazendo o que aqui sozinha? – perguntou enquanto sentava ao seu lado.

- Pensando na vida.

- Hm... Sabe que fiquei preocupado quando você desmaiou mais cedo? Corri pra tentar te acordar, mas o jeito foi levar você pro hospital.

- Ah, parece que temos uma regra em que só ficamos juntos quando um de nós está dormindo – comentou ela, sorrindo.

- Não entendi.

- É. Primeiro no hotel, depois hoje de manhã quando você me acordou e depois no meu vexame na cozinha.

- Hahaha, verdade! Mas ontem lá na boate nós dois estávamos acordados.

- Nem tanto, porque a gente quase se beijou – disse ela olhando nos olhos de Daniel.

- Quase – respondeu ele olhando para a boca dela.

Não precisou muita conversa para que o clima ficasse intimo para os dois, afinal já havia uma química se formando desde a noite anterior. Os dois se aproximavam lentamente enquanto Antonella se perguntava se aquela seria uma boa ideia. Ela sabia que ele estava num momento de fraqueza e algo lhe dizia que isso era errado, mas o clima estava esquentando. Além disso, aquilo seria apenas um beijo. O que de ruim poderia acontecer? Se apaixonarem? Enquanto sua mente lutava, seu corpo parecia não se preocupar e cedia.

Daniel não conseguia pensar em nada além dos lábios de Antonella. Ela lhe transmitia segurança e uma vitalidade que há tempos não sentia. Envoltos por uma química que fazia acelerar sua pulsação, sua respiração ficar mais intensa e seus olhos se fecharem automaticamente, os dois selavam seus lábios ali, debaixo de uma descarga de ocitocina.

- Isso é errado – disse Antonella sorrindo ainda com os lábios grudados aos de Daniel.

Ele retribuiu o sorriso e colocou a mão por trás de sua nuca, trazendo o rosto dela para mais perto do seu, ao mesmo tempo em que sua mão na cintura dela parecia querer impedir que ela fugisse dali.

Daniel pediu a ela que não contasse do beijo para ninguém. Não queria que Anderson nem Elídio pegassem no seu pé. Ela respeitou o pedido dele e entrou.

...

Mais tarde a turma se despedia para ir ao aeroporto.

- Tchau Antonella, foi um prazer imenso conhecer você! – dizia Anderson enquanto abraçava Antonella – vê se toma cuidado com essa saúde, quero você saudável em São Paulo mês que vem.

- Nossa, até parece que vai ficar até o mês que vem sem me ver! Final de semana vocês estão aí de volta pra mais sessões.

- É, mas depois disso só ano que vem.

Daniel também se despediu.

- Vou sentir saudade – cochichou ele ao ouvido de Antonella fazendo-a se arrepiar

- Eu também – respondeu ela enquanto o abraçava sentindo seu cheiro.

O restante percebeu o que havia acontecido ali e se entreolhou, mas preferiram ficar calados quanto a isso.

Após as despedidas os rapazes saíram para o aeroporto e Samara foi para o quarto conversar com Antonella.

- Pensa que eu não vi? – disse ela com um sorriso malicioso

- O quê?

- Você e o Dani.

- Quê? Nós somos apenas amigos.

- Hunhum. Acredito - respondeu com sarcasmo.

- Claro que sim, além do mais, no fundo eu acho que ele ainda gosta da Karina.

- Você conhece ela? - Samara perguntou surpresa

- Sim, quer dizer, não! Na verdade eu não conheço, mas tanto ele como o Anderson me falaram dela. Eles se amavam muito né?

- Bom, ele eu sei que sim, mas eu acredito que quem ama, ama incondicionalmente e eles terminaram por causa de traição. Tanto do chifre que ela colocou no Daniel, quanto o que ela fez com o Anderson.

- O que ela fez com ele? – perguntou assustada.

- Ah, minha filha, é uma história longa. Sabe o filho do Andy? Sabe quem é a mãe dele?

- A Karina? Gente! Como assim?

- Não! Xiii... senta que lá vem história. Há alguns anos o Andy dormiu com uma mulher no aniversário dele. Depois de um tempo essa mulher apareceu grávida. O Andy assumiu o bebe e deu uma grana pra ela. A Karina ajudou essa mulher a ir embora com a grana e deixou o bebe pro Anderson criar.

- Ajudou?

- Ela sabia que a bandida estava com planos de ir e não falou nada! É o mesmo que ajudar!

- Nossa, e onde tá essa mulher? Nunca apareceu?

- Graças a Deus, não. Ela tem problemas psíquicos.

- Gente! Por isso que o Andy pega no pé do Dani. Tadinho, ele não tem culpa de nada.

- Ai, Antonella. Chega, eu não gosto de falar desse assunto. O importante é que tá tudo bem, mas ela tá foragida até hoje. Eu espero que ela nunca apareça. Já pensou? Um monstro desse a solta. Pode até estar entre nós disfarçada.

- Para de falar besteira, Samara! Credo!

Elas conversaram mais um pouco aquela noite. Samara queria muito contar seu segredo pra Antonella, mas ainda não estava pronta pra compartilhar com ninguém. Ela é uma pessoa confiável, mas ainda assim é muito arriscado.

...



No avião a caminho de casa Anderson observava a paisagem pela janela enquanto refletia nos projetos da companhia. Pensou no sucesso que o grupo estava fazendo com o espetáculo que já estava em cartaz há dez anos e lembrava dos tempos de infância quando tudo isso era apenas um sonho distante. Estava feliz por tudo estar dando certo, mas pensava se isso ainda duraria muito.

- Tenho empenhado toda a minha vida nesse grupo - pensava calado - e quando isso acabar? Tenho outros trabalhos, mas é isso que eu amo fazer. Tenho que pensar em novos projetos pros Barbixas. Novas esquetes, talvez. Ampliar os horizontes.

Publicou algumas graças em seu perfil do Instagram e tirou uma pequena soneca enquanto o voo se aproximava do seu destino.
Daniel havia dormido desde que entrara no avião.

De volta a São Paulo Anderson se despediu de Daniel e seguiu para casa onde seu filho e mãe lhe esperavam.
- Papaai! - gritou o pequeno Felipe  correndo em direção ao pai que o ergueu em um abraço.

Em Breves PalavrasWhere stories live. Discover now