Capítulo 2

188 12 0
                                    

Daniel sentia-se desconfortável ali no chão.

- Nada a ver a menina ocupar minha cama - pensava - O Elídio tem cada uma... Mas eu sou um cavalheiro né senhor Castro Nascimento?

Demorou até pegar no sono. Acordou com Antonella chamando para a cama. Estava escuro e ele estava realmente cansado, mas não conseguiu mais pregar os olhos. Além do desconforto de dormir com uma desconhecida com quem ele precisava agir com respeito, estava vidrado com um sonho intenso e confuso que tivera a pouco. Observou o teto daquele quarto escuro por alguns minutos e resolveu sair para distrair. Ao levantar da cama para sair do quarto, sentiu uma mão segurar sua perna.

- Vai aonde?

Era a Antonella.

- Vou descer pra tomar uma água - respondeu recuperando-se do susto.

- Eu vou com você.

Saíram juntos e entraram no elevador.

- Seu cabelo tá... - disse ele rindo do cabelo dela que estava despenteado.

- Ah é - ela interrompeu - E to com bafo também. Por isso não me beije!

- Eu não ia fazer isso, eu só...

- Engraçado né? - ela interrompeu novamente sem atentar para o que ele estava dizendo - Nos filmes e novelas o povo acorda e já vai se beijando... Tudo com bafo, remela... Hahahahaha... Eu hein?!

Ele sorriu com ela estranhando sua espontaneidade. Chegou a esquecer-se do sonho por alguns instantes. Ela arrumou o cabelo no espelho do elevador e limpou os olhos enquanto desciam.

- Nem to com bafo, Daniel. Se quiser pode me beijar... - disse com os olhos fixos no espelho.

Ele a observava tentar arrumar-se e falhar na tentativa.

- Sua simplicidade é contagiante.

- Pode dizer logo que eu sou feia que eu já to calejada de ouvir isso...

- Mas não foi isso que eu disse.

- Quando um homem elogia a simplicidade ou a inteligência de uma mulher, até mesmo a simpatia e não elogia sua beleza, tecnicamente ele está chamando ela de feia. Mas, porém, todavia, entretanto, considerando o fato de ser três horas da manhã, eu estar com a cara inchada de sono e ter acabado de acordar, obrigada!

Ela o fazia sorrir enquanto se dirigiam ao restaurante do hotel, cheio de mesas, todas vazias. Sentaram ao balcão e continuaram a conversa.

- Eu apenas estou dizendo que sua maneira de agir sem se importar com as consequências me chama a atenção. Se eu te chamar de linda você vai me comparar com os outros caras que já deram em cima de você. E não é isso que eu estou fazendo.

- Outros caras? Hahaha... Você tá achando que eu sou quem? Uma panicat? Maaaaaaas, tendo em vista que você elogiou o meu cérebro, reconheço que sua espécie é apropriada para a reprodução. Topa? - brincou fazendo-o rir mais uma vez - Me diz, o que você faz acordado a essa hora?

- Eu tive um sonho daqueles confusos onde as coisas mudam do nada e as pessoas na verdade são outras, enfim.

- Que tal você me contar?

- Bom, eu estava andando num deserto. Não, um litoral, eu sentia a brisa do mar. Mas havia árvores de um lado, e do outro um pequeno riacho. Eu estava cansado de andar. Minhas roupas estavam sujas, eu estava sujo. Então, por um deslize, eu acabei caindo no riacho. Não era fundo e nem havia correnteza, então facilmente nadei até a outra margem. Quando consegui sair, estava encharcado, é óbvio. Ai do nada, dentre as árvores surgiu uma mulher vestindo uma burca, uma roupa comprida e muito colorida que me chamou a atenção. Seu rosto coberto só deixava a mostra seus olhos. E eu os conhecia, mas não lembro de onde. Ela estendeu as mãos e me deu uma roupa branca. Uma bermuda e uma camisa. Quando ergui os olhos para olhar pra ela novamente, ela havia sumido. Vesti a roupa e entrei na mata pra ver se a encontrava. Caminhei um pouco e cheguei até a praia. Era linda. Areia branca e água cristalina. Um paraíso tropical. De repente eu ouvi uma música bem sutil. Parecia uma música árabe. Olhei para o lado e vi uma tenda de tecido transparente. Havia alguns homens sentados em almofadas tocando flautas e tambores. Haviam mulheres dançando uma dança do ventre muito sensual. De repente, por trás delas, surge a mulher que me deu as roupas. Ela dançava da mesma maneira, mas ela ainda estava completamente coberta. Apesar disso, aquele olhar me seduzia. Eu estava sob o efeito de um encantamento. Só queria saber dela e nem olhava para as outras mulheres com pouca roupa. Quando eu ia me aproximar, o Elídio apareceu. Ele estava indo em direção dela e ele estava sangrando. Ela foi até ele e pegou um frasco com um líquido, embebeu um pano e começou a colocar nas feridas dele. Ela cuidava dele com muito amor. Eu me senti enciumado e fui até lá, mas quando eu cheguei, um dos homens que estava tocando parou, se levantou e puxou ela com violência fazendo com que ela caísse no chão. Ele olhou para mim e sorriu maquiavelicamente. Era o Anderson! Eu quis correr para ajudá- la, mas estava paralisado! O outro homem começou a rasgar as roupas dela e isso era como se a honra dela estivesse sendo manchada. Quando ele tirou o pano do rosto dela, eu a reconheci na hora! Mas agora esse rosto sumiu da minha mente. Eu queria lembrar quem é essa mulher.

Em Breves PalavrasWhere stories live. Discover now