"O caso Schawer por Siena Rios" | Julie Trandafilov

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O início do livro da Julie me impressionou, mas não pelo primeiro capítulo. Ele é um tanto burocrático, ouso dizer. Apesar de todos os objetivos da escritora terem sido alcançados.

Explicarei melhor.

A protagonista foi bem apresentada. Entendemos, com poucos parágrafos, que ela é metódica, idealista (ao menos era quando mais nova), esforçada... Uma mulher empenhada em sua carreira, que não abriria mão de suas convicções.

O suspense foi bem estabelecido também. Sentimos desde a primeira linha do texto que algo muito, mas muito, ruim vai acontecer com a protagonista. Os avisos no "Alerta de Gatilho" ajudam a construir essa tensão? Sim, sem dúvida, mas a Julie soube também prepará-la ao longo da narrativa.

Mas a burocracia estava lá. Na forma mecânica com que a personagem nos descreve sua sala, a entrada do prédio, com que pontua uma característica muito interessante da mãe a respeito de crenças religiosas.

Siena nos conta sua empolgação de receber seu diploma, de ter seu primeiro consultório, mas faltam sensações às suas memórias. Uma textura em suas descrições que fosse quase palpável para o leitor.

Tínhamos também de ouvir os ruídos, sentir os perfumes... Detalhes tão importantes para nossa memória.

A protagonista poderia lembrar das buzinas da pequena rua, do cheiro do caminhão de lixo que passava pela manhã, da fumaça estranha do bueiro do outro lado da rua. Estamos falando do centro de São Paulo, de um galpão abandonado. Eu queria sentir um pouco mais da sujeira e do estardalhaço daquele ambiente, ainda que ele não fosse necessariamente localizado na Av. Paulista.

Por que não criar um cenário um pouco mais caótico e um tanto repulsivo para fazer um forte contraponto com o escritório da personagem?

Ela poderia entrar na sala e lá ser seu paraíso particular. Com seus móveis organizados e limpos, com a luz entrando pela janela em quantidade. Um oásis em meio ao caos, ao menos para nossa amiga psicóloga, mesmo tudo sendo simples e barato.

Seria interessante também, para diminuir essa burocracia didática, "descrever" a sala por meio de pequenas ações da protagonista. Dessa forma, a Julia conseguiria apresentar Siena, enquanto desenhava o cômodo para o leitor.

Ela poderia, por exemplo, regar sua plantinha perto da janela, ou, caso não fosse seu perfil, poderia perder um tempo ajeitando as canetas, as agendas e apostilas, endireitando as duas cadeiras até que parecessem mais convidativas aos clientes.

Quem sabe colocar o calço, que ela havia feito em casa, na mesa bamba dada por um amigo?

Enfim, pequenas ações que revelariam um pouco da história e do estado emocional da nossa psicóloga sem que ela precisasse sempre nos contar diretamente.

Algo que destaquei também na última resenha, "Os Mortos Contam Histórias".

E aí entra uma ferramenta que contribuiria muito para esse livro.

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