"O Último Verão" | Lêticia Lopes

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Link do livro nos comentários.

Não deixem de visitar o livro da Lêticia, ta? ;)

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Já na primeira resenha, eu fiz algo um tanto fora do comum.

Sempre que eu terminar os dois primeiros capítulos de um livro e eles me suscitarem muitas reflexões, várias questões a pontuar, eu escreverei uma crítica focada apenas neles. Não será então uma resenha propriamente dita, mas sim uma discussão, pontos que acho legal debater com vocês.

Vale lembrar que o objetivo desse projeto é usar os livros de vocês para debatermos ideias e conceitos. Então, por favor, comentem tudo sobre o livro da Lêticia e sobre a resenha. Nós dois agradecemos. ;)

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Antes de falar sobre o livro eu preciso explicar rapidamente o que é um clichê.

Basicamente, clichê é uma ideia que foi repetida tantas vezes ao longo do tempo que virou uma fórmula. Não à toa, uma das funções dessa fórmula é levar essa "ideia" até o leitor de forma rápida e assertiva.

Por exemplo:

Caso não tenhamos espaço na nossa história para desenvolver um vilão, podemos então simplesmente usar um personagem que seja semelhante aos vilões mais conhecidos da literatura e do cinema. Mesmo sem muita informação sobre ele, o leitor saberá que o personagem é um vilão e que ele é um grande perigo para o protagonista.

O mesmo vale para um estilo de cena, cenário, forma de narrativa, etc.

E eu devo dizer que a Lêticia, escritora do "O Último Verão", é um belo caso de um escritor que sabe usar clichês. O primeiro capítulo do livro é uma aula de como usá-los e eu tentarei explicar o porquê.

O que faz uma cena romântica funcionar é a intimidade. Não só a intimidade entre os personagens, obviamente, mas também de nós, leitores, para com o casal. Quanto mais conhecemos os personagens desse romance, mais acompanhamos suas vidas, mais íntimos ficamos. E, quanto mais íntimos, mais compartilhamos dos sentimentos que eles têm.

Então, não é errado dizer que será essa conexão entre leitor e casal que fará com que uma cena romântica tenha força, que fará com fiquemos felizes e empolgados pelo amor dos personagens.

Pois bem, e o que fez nossa escritora Lêticia?

O inverso (rs), ao colocar uma cena romântica entre os dois protagonistas já no início do primeiro capítulo. Testemunhamos o reencontro do casal sem nem ao menos conhecê-los. Entramos no apartamento de Samuel, pela primeira vez, e acompanhamos a conversa sem termos intimidade com eles. Ouvimos a música de Camila, tão pessoal, sem sabermos nada do passado dela. E, ainda assim, ao final da cena, quando uma terrível coincidência põe tudo a perder, sentimos uma frustração grande pelo fim repentino daquele encontro.

Mas calma lá!

Nós não sabemos do passado de Camila e Samuel, tampouco do possível relacionamento que eles tiveram. Nem mesmo entendemos quem eles são, quais são suas manias, seus medos, suas paixões... Como poderíamos, então, nos afeiçoar tão rápido com um casal tão estranho a nós?

Por conta dos clichês bem usados!

Claro, não apenas isso. A escrita firme e fluída da Lêticia, seus diálogos naturais, bem intercalados com parágrafos de narração, ajudam a envolver o leitor na história. Além, claro, do carisma dos dois protagonistas. Mas, nesta resenha, vamos focar nos clichês, tudo bem?

O primeiro. Quem nunca encontrou com alguma pessoa em que sua vontade de fugir de perto dela era a mesma de passar horas a fio ao seu lado?

O segundo. Quem nunca leu ou assistiu uma cena em que a personagem reluta em aceitar o convite do outro, mas o mau tempo, ou um acidente, um imprevisto qualquer, a faz ceder ao convite?

O terceiro. Quem nunca assistiu alguma comédia romântica em que uma personagem canta uma música na frente de seu "amor", em que a letra revela tudo o que ela esconde no peito?

Fora a chuvinha, o celular tocando na pior hora...

Pois, então, todos esses são clichês. E clichês são lugares comuns, ou seja, lugares familiares que sempre "visitamos" e nos sentimos confortáveis. Como a casa com perfume de bolo da nossa avó.

Por mais que nós não tenhamos intimidade ainda com o casal protagonista, por ainda estarmos no primeiro capítulo, os clichês bem usados nos mantêm num lugar confortável, aconchegante, dando-nos uma sensação de reconhecimento. E tudo que nós reconhecemos como familiar normalmente ganha nosso afeto e atenção.

E é exatamente por tudo isso que eu acho que o segundo capítulo do livro enfraquece o primeiro.

Ao priorizar por um primeiro capítulo mais intenso, já com o encontro do casal e até mesmo com um pequeno conflito, o "aconselhável" seria a Lêticia usar o segundo capítulo para desenvolver os dois protagonistas. Já estamos torcendo por eles, agora precisamos conhecê-los, e de preferência sozinhos. Longe um do outro.

Precisamos entender quem é Samuel em seu dia a dia, sem a Camila, e a Camila sem o Samuel. Para aí, sim, conhecermos eles como um casal.

É hora de diminuir a velocidade e construir a relação entre personagem e leitor.

A Lêticia chegou a começar o segundo capítulo mostrando um pouco do cotidiano de Samuel. Descobrimos seu progressivo sucesso musical e seu medo por conta de todas as mudanças. Conhecemos um de seus amigos e da sua rotina de exercícios e alimentos saudáveis. Mas não recebemos nada da Camila. Pelo contrário, rapidamente eles já estavam se encontrando de novo, e de novo, e já estavam saindo, e novos conflitos aparecendo.

O casal deve se encontrar novamente, claro, até porque este é um romance, mas dê tempo para os personagens se mostrarem para o leitor. Um ou dois capítulos deles simplesmente vivendo, mesmo que um pensando no outro, talvez já fosse o suficiente para que nós nos envolvêssemos ainda mais com a Camila e com o Samuel.

Tudo tem seu tempo. Principalmente as cenas mais marcantes de um livro. Esse é o conselho que eu posso dar à Lêtícia. Sua escrita é extremamente madura para uma escritora de apenas 19 anos. Você sabe envolver o leitor, dar a ele o que ele quer. Basta ter um pouco mais de calma para estruturar melhor os acontecimentos respeitando os altos e baixos que uma história precisa ter.

A organização das cenas deve construir uma montanha russa emocional para o leitor, como em uma música, que tem seu momento mais calmo antes do refrão poderoso.

Mas a "estrutura emocional" de uma história ficará para uma próxima resenha. :P

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Espero que vocês tenham gostado da resenha, especialmente a Lêticia, claro! (rs)

E peço mais mais uma vez. Não deixem de votar, de compartilhar e, principalmente, de comentar essa publicação. Será de enorme ajuda!

Juntostransformaremos esse projeto em algo útil para muitos escritores.     

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