[...]

Visto uma calça preta, uma camisa de mangas longas também na cor preta. Quando mais jovem eu tinha mania de expressar o meu humor de acordo com as cores das minhas roupas, hoje, vestir preto já é algo comum na minha vida.

Calço os meus chinelos e deixo meu cabelo solto.

Caminho até a sala e vejo minha filha toda sorridente brincando com os avós, ela merece uma família grande e alegre, não uma mãe amargurada pelas feridas do passado. Ponho um sorisso no rosto e vou até eles.

— Cheguei. – me sento no sofá ao lado da minha mãe.

Meu pai me olha do seu lugar e abaixa a cabeça, olhando para as mãos.

— Só faltava a senhora. – Melissa me mostra a câmera fotográfica nas mãos e sorri.

— Então vamos logo, porque precisamos arrumar as coisas pra voltarmos pra casa.

Nesse momento meu pai levantou a cabeça e me olhou de forma passiva.

— Vocês poderiam ficar mais alguns dias. – ele diz.

— Não, obrigada. Tenho que trabalhar pra sustentar a minha filha e Melissa também tem aula. Não quero que ela perca nenhuma dia sequer. – respondo.

— Como quiser. – abaixou a cabeça novamente.

— Ah mãe!

— Nem comece mocinha, voltaremos hoje mesmo. – digo.

— Quase nunca vejo os meus avós. – ela reclama.

Nisso, ela tem razão!

— Sem reclamações Melissa. – digo firme.

Meu pai ajudou a neta a posicionar a câmera no lugar certo e sentou-se ao meu lado, colocando a neta no colo.

— Digam x. – pede Melissa toda alegre e assim fizemos.

Tiramos umas quatro fotos fazendo careta e outras sorrindo. Fomos para a cozinha almoçar e na hora da sobremesa a campainha tocou.

— Eu atendo. – estava aliviada por sair daquela cozinha.

Ter que fingir que tudo está tudo bem nunca foi tão difícil na minha vida.

Abro a porta e sinto o meu mundo despencar de uma só vez no chão.

— Thor!

Melissa passa por mim e agarra as pernas do pai que nem conhece.

— Oi pequena. – ele agacha e alisa os cabelos dela. Os dois ficam se olhando e sorrindo um para o outro.

— O que você está fazendo aqui? – pergunto.

— Algumas coisas não ficaram claras na nossa conversa, foi tudo muito rápido e assustador. Precisamos conversar com calma, por favor. – ele me pede.

— Acho que tudo já foi dito. – respondo.

Melissa fica apenas nos encarando sem saber o que está acontecendo.

— Não vamos tornar as coisas mais difíceis do que já estão. – ele pede olhando pra minha filha.

— As coisas nunca foram fáceis pra mim. – rebato.

— O que é isso moço? – Melissa perguntou quando viu uma sacola em sua mão.

— Isso é pra você. – ele entrega a ela.

Melissa pega a sacola e logo rasga a embalagem ficando deslumbrada com a boneca de pano que vestia um vestidinho azul.

O primeiro presente em cinco anos!

— Olha mamãe. – me mostrou a boneca. Até que é bonita.

— É linda filha.

— Obrigada! – ela beija o rosto do pai e beija a boneca.

— Você merece, minha... querida. – estreito os olhos para ele que parece ter entendido o meu recado.

— Vou mostar a meu vovô e minha vovó.

— Vai lá.

Melissa saiu pulando e cantarolando de felicidade enquanto esmagava o presente de tanto abraço.

Volto a minha atenção para o homem a minha frente.

— Não precisava. – digo.

— Eu quero me aproximar dela, conhecê-la, sentir o amor incondicional que tanto falam e também ciúmes dela quando ficar mais jovem e querer sair com as amigas. Sou o pai e tenho os meus direitos. – ele diz num tom rude.

Agora ele é o pai? Palhaçada!

— Porque você não volta pra Europa e fica por lá mesmo, como se nada tivesse mudado?

— Porque tudo mudou Mariana, como você mesmo disse: agora eu tenho uma filha e eu quero dar o meu melhor como pai.

— Um pouco atrasado, não acha?

— Eu não sabia da existência dela.

— Mas nada justifica o fato de você ter me abandonado naquele dia, o dia em que descobri que estava grávida. Você nem me deu chances de dizer Dominic.

— E me arrependo por isso, todos os dias.

— Mentira, você sequer sente um pingo de remorso pelo o que fez.

— Não diga com falsas certezas o que não sabe. Eu sofri e sofro por culpa das minhas escolhas. Perdi o grande amor da minha vida e cinco anos da vida de uma filha que nem sabia que tinha. Porque você não me procurou, ou me escreveu?

— Você desistiu de mim, me abandonou sem dar uma explicação óbvia. Como vou insistir numa pessoa assim?

— Mas você estava grávida Mariana.

— E sobrevivi. Agora eu preciso ir. – digo.

Entro e bato a porta na sua cara sem dá chances para ele. Fico apenas espiando pela janela Domínio chutar uma lixeira e entrar no carro cheio de fúria.

Calma Mariana, tudo passa, é só ter paciência. A porra da paciência que não tenho.

——————————————————
Boa leitura!
Beijos, Jaqueline Carvalho.

UM AMOR PARA ETERNIDADEOnde as histórias ganham vida. Descobre agora