Girls Like You | Rúben Dias

vinte e três.

Dez meses depois
Maio de 2019.

Dez meses depois de uma batalha que mudou a minha vida, hoje era o dia em que descobriria se realmente estava tudo bem comigo. Depois daquele dia em que fizera as pazes com Rúben que muita coisa mudara. O jogador deslocou-se a Inglaterra e explicou o caso aos dirigentes do clube que, compreensivos perante a situação, dispensaram o jogador por tempo indeterminado. Fizera Rúben prometer que, quando eu terminasse os tratamentos de quimioterapia que ele iria voltar à equipa e dar início ao seu trabalho. Depois de muita insistência e argumentação de que a radioterapia era mais leve e de menor duração, descansei-o e consegui convencê-lo de tal coisa. O jogador deixou então uma mensagem aos adeptos do Arsenal nas suas redes sociais expondo, depois de juntos o termos decidido, a real razão da sua ausência. Durante cerca de sete meses dei continuidade aos tratamentos de quimioterapia, tendo os mesmos findado nos finais de dezembro do passado ano. Depois de um descanso de três semanas, regra de protocolo, dei início então à radioterapia que tinha um efeito muito mais leve e a duração de apenas um mês. Rúben, nesse tempo, voltara a Inglaterra e iniciara a sua integração e adaptação ao campeonato inglês, sendo muito bem recebido pelos seus colegas de equipa e, nomeadamente, pelos adeptos que se mostravam bastante satisfeitos com o seu regresso. O internacional português ainda não conquistara um lugar na equipa principal, como era de esperar devido ao seu tempo de preparação e de o seu substituto ter mostrado as suas qualidades para vestir a camisola do Arsenal durante o restante da época, mas o treinador dava-lhe muitas oportunidades, o que me deixava muito feliz. Sentia que o próprio o estava a preparar para o lançar no onze titular da próxima época. Findos os tratamentos de radioterapia em fevereiro, era necessário esperar cerca de três meses a fim de deixar o efeito da mesma passar e repetir todos os exames realizados no início de tudo para termos em mãos o veredicto final. Aproveitara então esse intervalo e viajei para Londres onde passei cerca de dois meses com Rúben e juntos descobrimos o país que o acolhera, a sua gente, a sua história, gastronomia e as razões pelas quais valia a pena por lá passar e mesmo ficar.
O calendário marcava o dia quatorze de maio, data do vigésimo segundo aniversário de Rúben. Voltara à cerca de um mês a Portugal e preparava-me para pisar as terras da rainha novamente. Desta vez, de forma definitiva mas isto era algo que o jogador não fazia ideia.

- Eve, estás pronta? - Nic perguntou e peguei na minha mala antes de correr para a sala.

- Estou aqui! - fiz-me presente e eles riram, provavelmente devido à minha expressão.

- Vamos andando que a hora da consulta está a aproximar-se. - a minha mãe fez-se ouvir e nós acenamos.

Sabia que estava nervosa, tal como todos nós. Receber os resultados dos exames finais significaria duas coisas: ou prolongar esta luta ou, finalmente, meter um ponto final na mesma.

Sorri para o meu pai que me piscou o olho e fomos todos em direção ao hospital. Chegados ao edifício, não consegui esconder a minha emoção ao ver os pais de Rúben e Ivan na sala de espera.

A dona Bernardete veio ao meu encontro, aconchegando-me num abraço. Quando terminara com Rúben, perderamos um pouco o contacto pois tentei que ninguém soubesse aquilo que se estava a passar comigo. Depois de o jogador descobrir, expliquei tudo à sua família e ficara bastante feliz com o perdão que me fora concedido. O mais difícil foi Ivan que se mostrou mais reticente pois acompanhou de perto o sofrimento do irmão. Não o culpava por isso, muito pelo contrário. Compreendia perfeitamente. Mas já estava tudo bem e ficava contente por a nossa relação ter sido reatada.

- Não sabia que estavam por aqui. - saudei os três com dois beijos nas bochechas e um sorriso.

- Hoje é um dia muito importante para ti e, consequentemente, para nós também. - o senhor João proferiu e sorri um pouco emocionada.