dezassete.

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Uma semana se passara desde aquele dia no hospital. Amanhã, dia dois de julho, daria início ao primeiro tratamento de quimioterapia. Se estava preparada? Nem um pouco. Se estava aterrorizada? Sem dúvida alguma.
A minha família no México fora informada acerca da situação e convenci a que permanecessem por lá quando muitos já faziam planos para cá ficar todo o processo. Jamais permitiria que isso acontece. Não seria a razão pela qual as suas vidas parariam. Já bastava que tivesse sido a principal causa pela qual a vida da minha mãe parara. Esta abandonara o seu emprego por tempo indeterminado pois queria acompanhar-me em todos os tratamentos, consultas e ficar em casa a cuidar de mim e de qualquer coisa que precisasse. O meu pai, não podendo abandonar também ele o seu emprego, pois não podíamos ficar sem sustento, falara com o seu chefe que, compreensivo perante a situação, autorizou a que o meu progenitor se ausentasse sempre que necessário a fim de me acompanhar e cuidar, também ele, de mim. Odiava-me por isto. As coisas não eram suposto serem desta forma. Não era suposto a vida ter o poder de nos virar de pernas para o ar numa questão de segundos. Mas ela podia. E nós tínhamos de aguentar.
Também passara um dia desde que Portugal  fora eliminado do Mundial 2018 ao perder com o Uruguai por duas bolas a uma. O golo do empate da autoria de Pepe dera-nos esperanças que desapareceram quando Cavani marcou o segundo golo dos sul americanos. Não seríamos coroados campeões do mundo mas, certamente que não deixariamos de ser os melhores do mundo e reis da Europa. Quem ainda mandava em solo europeu éramos nós. E ninguém nos podia tirar esse mérito.
E era hoje o dia em que Rúben regressava a Portugal depois de cerca de um mês de preparação e disputa da competição mundial. Acreditava que passaríamos e, por isso, não imaginava que teria que o fazer tão cedo. Não estava preparada. Acho que nunca estaria. Evitara Rúben ao máximo durante estes dias com a desculpa de que tinha que estudar para o recurso do exame que perdera. Agora, não o podia evitar mais.

O relógio marcava as quatro horas da tarde e na televisão passavam imagens da aterragem da comitiva portuguesa no aeroporto Humberto Delgado.
O jogador mandara-me uma mensagem a avisar que já chegara e que, logo que possível, iria ter comigo.

- Eve, pára um pouco. Até a Eniko já não te pode ver dessa forma. - Nic resmungou e olhei para a, agora enorme, cadela que estava deitada no tapete da sala com as suas patas a cobrirem-lhe a cara, o que me fez sorrir.

- Desculpa. - sussurrei, nervosa. - Eu não sei como fazer isto, rapazes. - respirei fundo e olhei para a TV tentando captar a imagem de Rúben. - Eu não consigo. - suspirei, sentando-me no sofá e levando as mãos à cara.

O animal levantou-se e veio ao meu encontro, esfregando o seu focinho nas minhas pernas desnudas devido aos calções que usava.
Acaricei-lhe as orelhas e esta ficou séria olhando para mim, o que me fez sorrir fraco.

- O que foi, Eniko? - perguntei-lhe sabendo que ela não me responderia.

Virou a cara para o outro lado o que nos fez rir a todos.

- Eu preciso de fazer isto, tu sabes. - sussurrei-lhe, fazendo um carinho, e ela balançou a cabeça em negação antes de se afastar e deitar-se no outro lado da sala. - Uau, até a cadela me odeia pelo que vou fazer. - comentei e os gémeos riram fraco.

- Vais terminar com o pai dela, é normal que esteja revoltada. - Alejandro brincou e eu revirei os olhos, atirando-lhe uma almofada à cara.

A campainha tocou, o que nos fez parar a brincadeira e levantar-nos rapidamente. Eniko, por sua vez, despertou do seu sono e correu até a porta onde ladrava sem parar.

- Já? - perguntei, engolindo em seco.

- Sabes que as imagens que passavam na televisão são repetidas. Já deu tempo suficiente de ele cá chegar. - Nic explicou e suspirei.

Girls Like You | Rúben Dias Onde as histórias ganham vida. Descobre agora