quatorze.

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- São apenas suspeitas, vamos esperar para ver. - a Dra. tentou acalmar a família e suspirei.

- A senhora sabe que está certa. - constatei e ela desviou o olhar para o chão.

- Daqui a alguns dias entraremos em contacto contigo para lermos os resultados e caso se confirme, vou encaminhar-te para a oncologia para darmos início aos tratamentos de quimioterapia. - informou e acenei.

- Quais as garantias de que a quimio fará o efeito pretendido? Quer dizer, está deslocada e é grave. - perguntei confusa, tentando assimilar tudo o que ouvia.

- Se for confirmado, o Dr. Miguel, oncologista, ficará responsável pelo teu caso e irá dar aso ao teu plano de tratamentos mas, eu diria que será um plano com maiores dosagens e em vários dias da semana. Provavelmente em vários dias do mês. - respondeu, oferecendo-me um pequeno sorriso que transmitia a mensagem de que tudo iria ficar bem.

- Qual a taxa de cura? - Alejandro fez-se ouvir enquanto fungava.

- Não lhe posso responder a isso. Cada caso é um caso. Existem sim grandes hipóteses de cura. Trata-se de um T3, ou seja, é um tipo de cancro cujas possibilidades de cura existem. Se fosse um T4, aí já não lhe poderia falar da mesma forma. Não vos quero dar falsas esperanças mas não quero que desistam. Aquilo que lhes posso garantir é que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que o processo de cura seja o melhor possível. - olhou para mim. - É viver um dia de cada vez. E, acima de tudo, lutar. - acenou na minha direção e acenei de volta.

- Vou estar fora de Portugal durante cerca de uma semana, por isso talvez não esteja aqui quando os resultados saírem mas já cá estarei quando tiver a consulta com o Dr. Miguel para discutir o meu caso. - informei ao lembrar-me da viagem para Rússia e do facto de que eu não iria cancelar os planos.

- Viajar numa altura destas não é o mais aconselhável. - a doutora protestou de forma calma e bufei.

- Ouviste a médica, Eve. - Nic disse, olhando para mim e dei de ombros.

- Se estes vão ser os últimos dias da minha vida, eu não vou estar fechada em casa a pensar no facto de que eu tenho uma doença que me pode levar à morte! Eu prometi ao Rúben que o iria apoiar na seleção e eu vou cumprir a minha promessa. Ninguém vai mudar isso! Eu vou ao Portugal-Irão. - respondi convicta e num tom de voz mais alto do que o normal, o que fez os meus irmãos suspirar.

- Não vou insistir. Foi apenas um conselho. Mas era bom que cá estivesses para a consulta com o Dr. Miguel para iniciarmos o mais depressa possível os tratamentos. De qualquer forma, quando chegares, vem ao hospital para falarmos sobre os resultados. - a médica fez-se ouvir e acenei positivamente.

- Sim, daqui a uma semana cá estarei. - prometi e vi-a sorrir.

- Sendo assim, vou dar-te alta uma vez que os exames estão feitos. Agora é uma questão de esperar. E por favor, tem cuidado. - pediu e sorri fraco.

- Eu vou. - assegurei e ela sorriu.

- Espero que sim. Vemo-nos então daqui a uns dias. Boa sorte lá na Rússia. - ofereceu um sorriso e um piscar de olho e estendeu-me a mão à qual eu apertei.

Agradecemos a sua disponibilidade e atenção e ela abandonou o quarto.

Um silêncio pesaroso instalou-se na divisão, o que me fez ter vontade de chorar ainda mais.

- Não vamos ficar dessa forma. É uma realidade que temos que aceitar. - disse quando vi que ninguém falava.

- Não é nada fácil, Eve. És tão jovem e tens ainda tanto para viver. Podia ter acontecido comigo. Eu já tenho a minha vida feita. - a minha mãe disse, enquanto me abraçava.

Girls Like You | Rúben Dias Onde as histórias ganham vida. Descobre agora