Capítulo 8

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O telefone vibrava sem parar na pochete escondida de Lena, mas ela quase não percebia pelo balançar do ônibus que a levava de volta à casa da Carol. Só quando o trambolho velho fez uma parada ela sentiu o zumbido na cintura.
- Onde você tá, danada? A gente vai sair daqui a pouco.
- Tô no ônibus, Tata.  Daqui a 10 minutos eu chego, me esperem!

Lena encontrou a casa um pouco mais arrumada que no dia anterior. Os colchões estavam encostados na parede do canto da sala, os lençóis dobrados no sofá e a casa cheirava a limpa-móveis. Só mesmo Tata teria energia para dar uma geral na casa entre um bloco de carnaval e outro.

- Até que enfim, pensamos que você tinha fugido pra casar com o paulista. - Vivi apareceu saindo do banheiro. - Vai tomar um banho e conta tudo pra gente enquanto se arruma, anda. O bloco não espera por ninguém, mas eu tô curiosa pra saber como foi essa conversa que durou a noite toda...

- Já tomei banho no hotel, vou só trocar de roupa. Relaxa, Vivi, eu não perco esse bloco por nada. - disse a garota, já mergulhada entre as sacolas cheias de fantasias.
Lena passou os minutos seguintes contando suas impressões do encontro com Rodrigo, ou Neo, seu nick de jogo, enquanto ajeitava a coroa de sua roupa de rainha de copas - as amigas seriam rainhas dos outros naipes do baralho.

- Garota, você já tá apaixonada? Não tô nem te reconhecendo. - Maria olhava admirada para a amiga.
- Pior que tô. Só eu mesmo pra arrumar uma situação dessas. Já tô me imaginando sofrendo por ele depois do feriado. Ainda bem que as aulas começam e eu vou poder me concentrar em terminar minha monografia.
- Essa minha amiga é muito prática mesmo, já se apaixona com um plano pra desapaixonar. - observou Vivi com ar de aprovação.
- Não é isso, eu simplesmente não quero ser a garota que fica com alguém e já fica gamadinha. Isso é tão clichê.
- Tarde demais, amiga.
- Eu acho super romântico - Maria se manifestou pela primeira vez sobre o assunto - Imagina, duas almas apaixonadas que a distância não pôde separar...
Vivi revirou os olhos e Lena afastou o assunto.
- Gente, o que importa é que eu marquei com ele daqui a pouco e a gente vai curtir mais um dia, sem pensar em depois. Estão prontas?

As rainhas se levantaram para sair e a conversa se voltou para o carnaval novamente. Lena passou pela cozinha para pegar um lanche e aproveitou para dar indicações para Rodrigo sobre onde encontrar com elas. Sorriu quando viu a resposta na tela: ele mandou um GIF de si mesmo fazendo hangloose. A resposta de Lena foi outro GIF, levando seu sanduíche à boca, com a legenda "#prioridades".

*

A batida ecoava pela rua estreita do centro do Rio, tornando o simples ato de ouvir uma palavra de alguém ao seu lado impossível. O bloco tocava músicas típicas do carnaval baiano e as pessoas pulavam e empurravam umas às outras, empolgadas com a percussão e as letras conhecidas. Alguns grupos tentavam coreografias para acompanhar a música, mas era difícil completar um passo sem esbarrar em alguém passando para o outro lado ou vendendo bebidas.

O grupo de Lena e Rodrigo resolveu se afastar um pouco da multidão e seguiu para a praça XV, onde o espaço era mais aberto.

- Finalmente consigo respirar! - Lena abanava o rosto com as mãos impacientes.
Rodrigo abriu o abanador que guardava na cintura e acudiu a garota. O dia estava insuportavelmente quente, as roupas grudavam no corpo e a aglomeração de pessoas só agravava a falta de ar fresco. Mas em poucos minutos todos já tinham esquecido do aperto e continuavam dançando, agora com um pouco mais de espaço. Alex comprou cerveja para todos e eles se fecharam em um círculo inventando os próprios passos de dança. Maria e Tata ficaram com um pé atrás em relação aos amigos de Rodrigo, eles eram os típicos héteros topzera que as amigas gostavam de zoar. Vivi não via problema nenhum neles, desde que tratassem as pessoas com respeito e foi a primeira a se aproximar deles, demonstrando um interesse claro em devorar Alex. Ela não perdia tempo, em duas trocas de olhares os dois estavam se atracando aos beijos.

Enquanto isso, Lena se divertia com as outras amigas e com Neo. Elas tentavam mostrar a ele os passos de uma música do Olodum, mas não conseguiram fazer muito pela falta de jeito dele. Lena ria de suas tentativas de coordenar os movimentos rápidos no ritmo da música, mas as amigas levaram a tarefa a sério e marcavam "um, dois, três, quatro, levantou, desce, gira", enquanto o garoto se confundia com o que devia fazer em seguida.

Mais ou menos na hora do almoço, não no sentido literal, pois eles não comeram nada parecido com almoço durante a manhã, os amigos de Neo quiseram partir para outro bloco em Ipanema, mas as meninas queriam continuar pelo centro da cidade, então o grupo se separou. Lena ficou dividida por não querer se despedir de Rodrigo e também não querer que ele se separasse dos amigos. Ele chegou perto e falou em seu ouvido, para que ela pudesse escutar com todo o barulho - Onde você for, eu vou.

Gamer - amor em jogoWhere stories live. Discover now