13. O Peso de Mil Mentiras (p.2)

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Lívia não sabia bem o que fazer pra quebrar o gelo. Chloé estava sentada no sofá no canto do quarto há pelo menos meia hora sem dizer uma palavra, enquanto isso, Lívia bloqueava e desbloqueava o celular o tempo inteiro, inquieta.

— Ouviu isso? — Chloé perguntou repentinamente, parecendo em alerta, mas Lívia sacudiu a cabeça. Não tinha ouvido nada. — Acho que Diana chegou.

Ela se levantou e correu para fora do quarto, e Lívia a seguiu. E Chloé estava certa, encontraram Diana subindo as escadas.

— Onde está Arthur? — Chloé perguntou para ela.

— Deve estar indo para casa — disse ela, se virando para encarar as duas lá embaixo.

— Por que ele não veio com você?

— Eu acredito que ele não vai querer conversar comigo por um tempo — respondeu Diana, esfregando a têmpora com a ponta dos dedos.

— E o que você fez com ele? — Chloé quis saber.

— Eu não fiz nada com ele. Agora, se me dão licença — ela pôs o pé no degrau seguinte —, eu vou pro meu quarto, estou com dor de cabeça.

Chloé ergueu as sobrancelhas.

— Sabe que eu posso curar isso, não sabe?

Diana suspirou.

— Sei, mas acho que mereço sentir alguma dor por agora — disse ela, e deu as costas, subindo para seu quarto, sem mais nenhuma explicação.

***

Arthur apertou a campainha três vezes seguidas com impaciência, e quando ela se abriu, Narcisa estava do outro lado, irritada, porém seu humor se converteu rapidamente para divertido ao ver quem estava a chamando.

— Veio me agradecer? — ela perguntou, sorrindo largamente. — Aceito beijos de gratidão.

— Vim te mandar pro inferno — ele respondeu com hostilidade.

Ela gargalhou e apoiou o quadril na moldura da porta, cruzando os braços sobre o peito.

— Não veio, não. — disse ela, e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Você veio saber mais sobre Diana.

Arthur limitou-se a sustentar seu olhar fixamente no rosto de Narcisa.

— Por que não entra? — ela perguntou, ampliando a abertura na porta. — podemos negociar algumas informações.

— Não quero negócios com você.

Narcisa revirou os olhos.

— De qualquer forma, se quiser falar comigo, entre. Não quero ficar aqui conversando na porta.

Arthur hesitou, mas passou pela porta, e ela a fechou atrás dele.

— Gostaria de... — Ela pensou. — Café? Chá talvez?

— Vindo de você, nada.

— Que grosseiro — disse ela, enquanto se sentava no sofá. Narcisa indicou o lugar ao seu lado com a cabeça. — Sente-se.

Arthur acatou, já que parecia mais uma ordem do que uma sugestão. Encostou-se e manteve as mãos sobre o colo, com os olhos fixos nelas, sem saber o que dizer.

— O que exatamente você quer saber? — Narcisa perguntou. Ela estava sentada de lado, com uma perna dobrada sobre o sofá e o braço apoiado no encosto.

— O que você tiver pra me dizer — respondeu ele, se virando para olha-la. — Vá em frente, você já ferrou com tudo de qualquer forma.

Ela balançou a cabeça.

— Eu não tenho nada pra te contar.

— O que? — Ele arqueou as sobrancelhas. — Como não?

— Entenda, gatinho, eu sei de coisas sobre Diana que te deixariam de cabelo em pé — ela gesticulou com a mão em desdém. — mas da mesma forma como ela  também conhece meus segredos. Poderíamos acabar uma com a vida da outra — ela deu de ombros. — no entanto, é mais vantajoso se ambas ficamos de boca fechada.

— Mesmo se eu prometesse não falar para ela o que você me disser? — ele sugeriu.

Ela sorriu.

— Não vou arriscar.

***
Arthur entrou pela porta principal e viu um alvoroço de seus colegas ao redor de uma folha de papel na parede. Alguns pareciam animados, outros chateados. Mas ele só conseguiu ler o anúncio quando o grupo se dispersou.

Era a lista com os destinos de cada um, e lá no final, estava ele.

“Raphael Paeon: Floresta Waipoua, Nova Zelândia.”

Ele não entendia qual era o problema das pessoas aceitar que o nome dele agora era Arthur, não Raphael, mas eles ignoravam esse fato, e geralmente em qualquer tipo de registro ou coisa oficial, vinha seu antigo nome.

— Nova Zelândia, legal — disse alguém ao seu lado. Ele olhou e viu que era Tainá Forten, uma das meninas que haviam se formado na mesma turma de Chloé. Estava parada com as mãos nos bolsos, e seus cabelos muito crespos escondiam boa parte do seu rosto.

— E você vai pra Cornualha, no Reino Unido — disse Arthur, consultando a lista.

Tainá assentiu.

— Sim. Onde Isac Miller desapareceu há dois anos — disse ela, e depois o olhou. — Desculpa, ele era seu amigo.

Arthur balançou a cabeça.

— A Cornualha tem o recorde de desaparecimentos — disse ele, deixando de lado o que ela havia dito sobre Zac. — Não tem medo de morrer?

Ela negou.

— Qualquer pessoa viva está sujeita à morte.

Ela o deixou sozinho e Arthur deu de ombros antes de subir as escadas. Já em seu andar, ele abriu a porta do seu quarto e teve um sobressalto ao encontrar Chloé sentada na cama. E não estava com uma cara boa.

— Eu tentei te ligar setenta e duas vezes. — ela disse. — setenta e duas. O que aconteceu com seu celular?!

— Primeiro, roubaram ele. Depois que me devolveram, apenas não tive cabeça pra usar ele. Me desculpe — falou ele, e se jogou na cama após largar a mochila num canto.

— Roubaram seu celular e devolveram? O que é isso? O ladrão teve uma crise de consciência?

— Ladra — Arthur corrigiu. — Longa história.

— Humpf... Tem mulher na história, devia ter imaginado. Não quero nem saber.

— Que bom — ele disse, já que também não queria explicar o que havia acontecido. — Nós vamos até a Biblioteca? — perguntou, mudando de assunto.

— Nos íamos, antes de você sumir.

— A gente podia ir agora — ele propôs.

E ela já estava de pé em um segundo.

— Vamos então.

Arthur riu. Era quase um alívio estar ali brincando com Chloé.

— Espera um minuto, preciso de um banho.

— Bom, então eu acho que vou tomar um também, no meu quarto. Quando terminar, é só me encontrar lá.

— Tá bom — disse ele, começando a revirar o guarda roupas. E aliás, precisava tirar um tempo pra arrumar isso, suas camisas já estavam explodindo para fora, como uma avalanche colorida.

Em dez minutos estava na porta de Chloé. O peso de Excalibur e da mochila agora eram familiares em suas costas. Ia abrir a porta, mas antes que ele pudesse entrar, ela já estava saindo.

— Vamos.

Anjo de ÁguaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora