8. Fantasmas do Passado (p.4)

283 53 150
                                    

— Tente novamente — incentivou Diana.

Ela e Lívia estavam desde a manhã até a noite treinando o que Lívia conseguia fazer com fogo em uma pequena sala ainda desconhecida para ela. Evaporar água era fácil, controlar uma chama também.

Difícil estava sendo manter uma temperatura constante.

Diana havia a desafiado a conseguir manter a agua a exatos cinquenta graus durante cinco minutos, mas tudo o que havia conseguido foi desmaiar três vezes, que era o resultado do uso excessivo dos seus poderes.

Diana justificava dizendo que isso aumentaria sua resistência, mas Lívia só ficava mais mal humorada a cada minuto com a dor que martelava sua cabeça e estava lutando contra o impulso de dar as costas para a madrinha e ir dormir.

Diana voltou a posicionar o termômetro que ela estava usando para monitorar a temperatura sobre o depósito de agua.

— Não entendo a necessidade disso — resmungou Lívia. — Qual a utilidade de manter a água a cinquenta graus?

— Auto controle — respondeu Diana. — é um exercício difícil, mas necessário. Vamos, você está melhorando.

Lívia suspirou e levantou as mãos sobre a água. Estava pronta para começar novamente quando ouviu uma voz distante vinda de outro cômodo da casa.

— Acho que Arthur chegou — disse ela parando com as sobrancelhas erguidas.

Diana pôs o termômetro de lado e passou as mãos pelo cabelo.

— Tudo bem, chega por hoje.

Era tudo o que Lívia precisava ouvir para sair daquele lugar. Correu até a sala onde encontrou Arthur parecendo perdido.

— Onde vocês estavam? — ele perguntou.

Mas ao invés de responder, Lívia o abraçou. O cansaço era tão grande que nem conseguia pensar direito no que estava fazendo.

— Está tudo bem? — ele perguntou retribuindo o abraço. Arthur cheirava a erva doce. — Você parece tensa...

— Ela esta cansada — informou Diana, entrando na sala com um andar sinuoso que balançava a saia de seu vestido. — Estamos treinando desde de manhã.

— Treinando o que? — perguntou Arthur, juntando as sobrancelhas.

— Meus poderes — disse Lívia se afastando um pouco dele. — Ela quer que eu aprenda auto controle de qualquer jeito.

Arthur olhou para Diana.

— Você devia dar um descanso pra ela. Ela não é de ferro.

Lívia sentiu-se muito grata com o comentário.

— Eu dei — disse Diana. — Acabei de libera-la

— Só porque ele chegou — apontou Lívia com uma pontinha de raiva.

Diana pareceu desconfortável.

— Tudo bem, eu posso ter pegado meio pesado — admitiu ela. — Mas é porque eu tive uma educação muito rígida quando tinha sua idade. Mas prometo que não vou exigir tanto de você da próxima vez.

Lívia assentiu molemente.

— Eu vou dormir — anunciou ela com um bocejo. — Boa noite pra vocês.

Arthur a acompanhou até o quarto, mas Lívia adormeceu assim que pôs a cabeça sobre o travesseiro e nem o viu sair.

* * *

Arthur encontrou Diana na cozinha junto à bancada, servindo duas taças de vinho.

— Ela dormiu? — perguntou ela, como se estivesse se referindo a um bebê.

— Dormiu — confirmou ele se apoiando contra a bancada perto dela. — Ela estava muito cansada. Não devia exigir tanto dela.

Ela estendeu uma das taças para ele e tomou uma delas para si mesma, se recostando ao lado dele.

— Não, não devia, mas depois de uma noite de sono ela já vai acordar melhor.

Ele assentiu.

— Eu sei, mas tenta pegar leve. Está acontecendo muita coisa na vida dela. — ele levantou a taça ate a boca, mas parou e a baixou de repente. — Isso tá limpo? Quero dizer, não colocou nada aqui, não é?

Ela riu e bebeu da própria taça como demonstração.

— Totalmente limpo. Apenas um bom vinho.

Arthur confiou e bebeu. Estava delicioso.

— E então, você e sua irmã encontraram alguma novidade?

Arthur balançou a cabeça.

— Nada. Infelizmente, por hora, não sei mais onde procurar.

— Comprou o que eu te pedi? — ela perguntou e Arthur assentiu. — Ótimo. Entregue você mesmo a ela amanha, se você vier aqui.

Ele deu um sorriso torto.

— É claro que eu vou vir aqui, eu tenho vindo todos os dias. Menos quando estava na Biblioteca com Chloé.

— É bom saber que você se preocupa com Lívia — disse ela parecendo satisfeita.

— Eu não venho aqui só por ela.

Diana riu e bebeu do vinho.

— Não precisa mentir pra tentar me agradar. Eu sei que você sempre detestou vir aqui.

Arthur colocou o taça sobre o balcão e posicionou-se em frente a ela.

— Não vou mentir, não era meu passatempo preferido — admitiu ele. Arthur passou os dedos suavemente por uma mecha do cabelo dela. — Mas agora, eu viria mesmo se Lívia não estivesse aqui. Eu viria aqui só pra estar com você.

Ela repousou sua taça ainda pela metade ao lado da dele e lhe esfregou as laterais dos braços carinhosamente com as mãos.

— Antes era simples. Nas poucas vezes que você vinha aqui, nós poderíamos fazer o que quiséssemos, exceto pelo fato de que você nunca queria nenhuma diversão — ela deu um sorriso torto, mas murchou em seguida. — Agora é complicado.

— É por causa de Lívia? — ele perguntou erguendo as sobrancelhas e colocando as mãos nos bolsos da calça. — Você acha que ela pode gostar de mim, não é? — Arthur deu de ombros. — Ela não gosta, eu perguntei isso a ela.

Ela olhou duvidosa para ele.

— Sério? E você não acha que ela mentiria?

Arthur vacilou.

— Eu não sei, mas ela também nunca demonstrou nenhum interesse.

Diana riu.

— Arthur, Lívia não sabe flertar. Durante dezessete anos, tudo que ela conheceu foi sua tia e seus livros.

Arthur considerou por um instante.

— Isso faz sentido, mas nós não somos bonecos que você manipula. Não pode escolher com quem eu ou ela ficamos.

Ela permaneceu em silêncio e ele se aproximou para dar-lhe um beijo leve e percebeu como era estranho que aquilo tivesse se tornado tão casual.

— Vou para casa — disse Arthur ao se afastar.

— Você sabe que sempre pode passar a noite por aqui, não é?

Arthur sorriu.

— Não enquanto você estiver me oferecendo seu quarto de visitas — ele se aproximou e a beijou novamente. — Até amanha, durma bem.

Anjo de ÁguaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora