O banquete e as lembranças estranhas

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Quando chegámos ao acampamento, um grande banquete estava pronto perto de uma grande fogueira. Eu nunca tinha visto tanta comida junta. Na verdade, eu nem me lembrava da última vez que tinha comido.

Indicaram-me o meu lugar, no qual eu me sentei enquanto observava tudo à minha volta com atenção. Eu queria dizer algo com tudo aquilo, mas não consegui abrir a boca.

Muitas das caçadoras olhavam para mim com orgulho e eu sentia-me um pouco envergonhada. Elas sabiam tanto sobre mim como eu própria. Como era possível elas aceitarem uma estranha sem saberem nada sobre ela.

Confiança...

Confiança foi a palavra que me surgiu. Eu conhecia a palavra muito bem, dizia-me o meu subconsciente. Mas de onde? Será que havia alguém em quem eu confiava ou alguém que confiava em mim?

Voltei a minha atenção para o banquete. Artémis tinha-se sentado no lugar de anfitriã, no topo da mesa, onde podia estar virada para todas nós.

Todas as caçadoras falavam alegremente e a que estava ao meu lado ofereceu-se para me mostrar e ensinar tudo o que sabia. Ela aparentava ter mais uns três anos. Aliás, todas o aparentavam. Era como se quando chegassem à maturidade (18 anos), parassem de envelhecer.

"Eu sou a Sofia, muito prazer. Eu sei que és a Diana, não precisas de te apresentar. Eu mal posso esperar por te apresentar a Inês. Tenho a certeza de que vão dar-se muito bem."

Olhei para ela com os olhos curiosos. Toda aquela gente parecia harmoniosa e feliz por me ter juntado a elas. Eu também estava feliz e com vontade de fazer inúmeras perguntas.

"Muito prazer, Sofia. Então há quanto tempo é que és uma caçadora?" – perguntei.

"Acho que este ano vão fazer vinte anos desde que me juntei a este bando. Se queres saber, eu deixei de os contar, porque quando chegar a minha hora de partir, partirei com todo o gosto."

"O que queres dizer com isso? Como assim partir?" – perguntei sem entender. Será que havia alguma coisa que me tinha escapado?

"Ser uma caçadora ajuda-te a encontrares o teu destino. Muitas de nós vão permanecer aqui para sempre, mas existem sempre outras que querem saber qual é o papel de ser mortal e poder procriar. O que se pode fazer quanto a isso? Tens de seguir o teu destino, seja ele qual for."

"Uau, isso é uma grande informação para assimilar."

Eu não fazia a mínima ideia de quando teria sido a última vez que vi um homem, mas de momento não me importava. Eu só queria viver uma vida feliz e longa, descobrir mais coisas acerca de mim e servir Artémis no que pudesse.

Ouviu-se o som de tilintar de um copo e todas olharam para de onde o som tinha vindo. Era Artémis, que se encontrava em pé querendo fazer um brinde. Um súbito silêncio invadiu a clareira onde nos encontrávamos.

"Eu quero propôr um brinde. Diana, és muito bem vinda à nossa família. Todas sabemos que perdeste a memória e eu quero que saibas que vamos fazer os possíveis para te lembrares da tua vida. À Diana!" – todas levantaram os copos e olharam para mim enquanto bebiam os seus deliciosos néctares de frutos silvestres.

Eu sentia-me feliz por ter uma família, mas sabia que se eu tivesse mesmo uma de verdade precisava de a encontrar. Quando a minha mente começava a aprofundar esse assunto, a minha barriga começou a dar sinal.

Não me lembrava da última vez que tinha comido alguma coisa, mas estava literalmente a morrer de fome. Olhei para a mesa e havia tudo aquilo com que eu poderia sonhar.

A protegida dos deusesWhere stories live. Discover now