Um neto, apenas um

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Alexandre tinha razão, ele se sentia feliz e em casa, pela primeira vez em sua vida, nem seu pai foi tão generoso e tão amigo, principalmente quando mais precisou dele por ter sido processado pelo vizinho que ele espancou por ter apoiado a mão no ombro de Julia, como se arrependia daquilo, isso repercutiu tão mal em sua carreira e tinha acabado de voltar de Nova York, novo livro e as vendas em queda livre, passou a mão no rosto e olhou para Julia que lia o contrato.

— E tem mais Julia. — Diz Alexandre ganhando a atenção de todos novamente. — A sede da empresa vai para a Paulista no meu antigo escritório.

— Não pai. Ele está alugado e não posso.

— Há três meses o pessoal saiu Julia. E nada melhor que ter um endereço como a Paulista para se estabilizar do que em um apartamento onde seu irmão vive e tirar a liberdade para receber seus amigos.

— O pai. — Julia se levanta e vai até ele e o abraça e beija várias vezes seu rosto. — Obrigada paizinho. Obrigada. Não sei como posso retribuir.

— Eu sei. — Alexandre ri e acaricia os braços de Julia que o envolvia. — Me de um neto. É a única coisa que eu peço.

Julia olha para Stieng e solta o pai devagar e apoia a mão em seus ombros e diz quase em um sussurro.

— Estamos analisando a possibilidade pai. Stieng ainda está traumatizado com o que aconteceu.

— Já faz quatro anos Julia Já deveria ter esquecido isso.

— As coisas com ele não são tão simples assim pai. O desejo dele era enorme e a expectativa que criou foi maior que o esperado.

Alexandre não diz nada e apenas bate as mãos em seus braços novamente e sorri tristemente, parecia um sonho impossível ver um neto sair da li e começou a achar que a filha escondia algum problema de saúde para não engravidar, começou a dar razão no que a esposa falava.

A volta para casa foi tranquila, mas o silencio tomou conta de todos, Julia e Stieng praticamente não soltaram uma só palavra, já Pedro e Madalena conversaram e bastante e parece que fazer amor ao ar livre deu resultado aos dois, Pedro olha pelo retrovisor, Julia está apoiada em Stieng e segurava seu braço que a envolvia e Stieng estava com o cotovelo apoiado na porta e apoiava o queixo na mão, os dois estavam distante e se preocupou achando que o presente foi demais para os dois forçando que fiquem no Brasil, pois sabia do sucesso que Julia e Stieng eram capazes de alcançar e isso poderia estar assustando os dois, mas nem passou por sua cabeça de que o conflito era em torno do pedido do sogro e pai — "Um neto. Apenas um neto" — Madalena apoiou a mão em sua perna e ele a olhou e sorriu e foi assim até a chegada em casa, pararam na garagem e todos saltaram e cada um seguiu para seu apartamento, Julia largou a mochila logo que entraram e seguiu direto para o quarto de hóspede e se jogou na cama apenas arrancando os sapatos e puxou o travesseiro, Stieng ficou na porta a olhando, sabia que queria ficar sozinha, mas mesmo assim a observou por um tempo e a viu soluçar ao chorar em silencio e seguiu para o quarto dele e sentou—se na cama se sentindo impotente diante de seu medo e trauma, a briga em tom baixo no quarto enquanto arrumavam as malas foi o ponto inicial para o choro de Julia, a acusou de estar manipulando os pais para forçar que tenham um filho, ele simplesmente não deixou ela falar e despejou toda sua raiva e angustia e disse coisas que magoaram tanto a ele como a ela relembrando de sua infância e a omissão de sua mãe. Depois disso ela não abriu mais a boca e segurou o choro até chegar em casa, olhou para o criado mudo e puxou a gaveta e pegou o frasco na mão e tirou um comprimido de dentro e ficou com ele na mão e seu pensamento girava de um lado para o outro, sua esposa e quer um filho, ele também quer e o Dr. Franz o encoraja sempre em enfrentar esse trauma e ver o quanto a paternidade o salvará de muitas coisas, se ocupará e terá mais alguém para cuidar, mas agora tinha a gravidez de Sylvia e por mais que se lembrasse que não gozou dentro dela, a duvida pairava no ar e seria cruel demais chegar para os pais e dizer que Julia está grávida depois da declaração de Sylvia, seria como tampar o sol com a peneira, iria visitar o Dr. Franz e conversaria sobre isso com ele, precisava de ajuda, enfiou o comprimido na boca e engoliu em seco e fez como Julia, apenas tirou o sapato e se deitou.



SALVA-MEWhere stories live. Discover now