Armadilha

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MELLANIE

Siga seus sonhos. Era isso que minha mãe costumava me dizer, porém não passava de uma grande mentira. Ela nunca deixaria que eu seguisse os meus sonhos.
Fui criada para ser a bonequinha dela, para ser tudo aquilo que ela não conseguiu ser, mas uma hora cansava.
Se eu tivesse acordado antes teria percebido o quanto me equivoquei em vir pra cá.
Por isso neste momento eu estava completamente disposta a corrigir os erros do passado. Richard tinha razão. Eu devia seguir meus próprios conselhos e ir atrás da minha felicidade.
Era exatamente o que eu estava fazendo agora. Convencendo Diane de que essa era a melhor decisão no momento.
Richard amava Kimberlly e eu amava Peter de todo o coração. E não me importava se minha mãe desaprovava.
O maior erro de uma pessoa é deixar de viver para agradar os outros. E eu não mais faria isso.
Peter podia até ser um simples cawboy sonhador que nunca teria um futuro e nem me daria um. Era o que a mamãe insistia em dizer. Mas ele era o homem mais brilhante da face da Terra! Nossas realidades eram tão diferentes, cada momento com ele era uma nova descoberta. E isso sinceramente era fascinante!.
Diane não pareceu nada contente com meu desabafo mas no fundo eu sabia que por trás de toda a sua casca de mãe durona e bruxa má, existia uma mulher que ainda chorava pelo ex marido ou pela morte das filhas e que se preocupava verdadeiramente com Richard, mais cedo ou mais tarde ela entenderia e saberia compreender os sentimentos do filho, e até aceitaria a Kimberlly. Eu sabia como era ser um Richard, sabia como era ter todas as minhas decisões tomadas de mim. Porém a diferença é que Richard nunca deixou que o controlassem, e eu sempre fui uma marionete. Ele foi o meu primeiro amor e naquela época, desejava que fosse o único, mas a vida é uma caixinha de surpresas e as vezes uma criança de dez anos de idade, com a imaginação mais fértil possível fantasia um pouco.
Peguei minha mala de rodinhas, prometi que voltaria a fazer uma visita algum dia e fui embora. Gostaria de ter me despendido de Richard, infelizmente minha pressa de finalmente começar a controlar a minha vida,era maior.
Portanto, existia algo que queria ter feito, à dias, assim que cheguei em Nova York.
Peguei um táxi. Quando falei para onde deveria me levar, o taxista pareceu se esforçar para não reclamar.
De qualquer forma eu estava pagando! Um pouco de sujeira não faria mal à ninguém. É pra isso que são feitos os lava-jatos.
A estrada era bastante conhecida. Passei minha infância toda tomando aquele percurso. Fazia tanto tempo que não colocava os pés ali. Queria saber se muito já havia mudado.
Não era tão longe e com o mau humor do motorista, chegamos mais rápido ainda.
Parecia que a séculos ninguém vinha ali. Papai havia vendido a fazenda para um casal de mercadores que por sinal não tinham cuidado nada bem da minha antiga casa, até o capim verde desbotado parecia triste.
Logo em baixo estava a casinha dos Laurent. Nem se comparava ao tamanho ou ao luxo do casarão onde nasci e cresci.
O taxista tinha parado a poucos metros dali, e o taxímetro provavelmente estava correndo. Vigarista! Explorador.
Caminhei observando a paisagem, a casinha logo à frente se aproximando cada vez mais.
A terra seca grudava em meus sapatos tal como leite ninho grudava no céu da boca. E lá se vão meus escarpins bege...
Laurent não devia ter visitado aquele lugar após o acidente. Atitude que julguei com compreensão.
Parei de súbito quando ouvi uma voz dentro da casa. Seja lá quem fosse, não parecia contente e rugia como um urso faminto.
Limpei a janela empoeirada com as costas da mão para conseguir visibilidade do interior da casa.
O homem- esguio, moreno e de cabelos...bem, o cabelo se parecia com o da Margie de Os Simpsons- Andava de um lado para o outro, pisando duro, com o celular colado à orelha. Ele não estava sozinho. Haviam mais três homens com ele.
Só quando olhei à minha volta, percebi que também não estava sozinha. Dois brutamontes me observavam, um de cada lado, escondidos em uma moita.
Não pensei duas vezes e corri. Eu poderia estar equivocada mas aquilo era mais do que suspeito. O certo seria ligar para a polícia. Mas e se eu não conseguisse passar a localização correta?
Então liguei pra única pessoa que saberia de cara aonde eu estava, caso algo acontecesse.

Richard.





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