Capítulo 18

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— Porra Henry, qual é a tua? Tá todo certinho agora, não vai mais nas baladas, o quê aconteceu? — perguntava Joey, uns dos amigos de Henry. Esse era um dos mais “certinhos”, na visão dos outros amigos de time. O que não quer dizer que era de fato...

— Eu acordei. Você acha que festa e bebida vai me garantir uma bolsa na universidade? — Henry nem deixou o “amigo” responder, deu as costas e foi para o vestiário.

Nesse horário o local estava vazio. Henry se despiu rapidamente, colocou as roupas suadas no armário e se posicionou em baixo da ducha, girou o registro e sentiu as gotas de água geladas lhe cortarem a pele. Passado o choque inicial a água finalmente ficou agradável, ele então começou a se lavar, cada canto do seu musculoso corpo, levou a mão até seu membro, qual já se encontrava crescido ao primeiro toque. Lembrou da sensação boa que era ter Pitter em seu braços, do toque das magras mãos passeando por sua barriga definida, do gosto de sua boca; foi impossível conter a forte esguichada de sêmen que deu na parede do boxe do banheiro.

Sua respiração estava ofegante, ele se normalizou e só então a saudade lhe bateu; ele chorou. Como a muitos dias vinha fazendo, ele queria Pitter em seus braços mais que tudo, e teria.

— Definitivamente algo no Henry mudou! — disse Haley a Troy enquanto estavam na mesa do refeitório. Henry se sentava isolado dos outros.

— Eu espero mesmo que sim... — Troy pensou alto.

— Por que fala isso? Sabe de algo que eu não sei? — Haley pegava as coisas no ar, por isso não deixou de desconfiar do comentário do namorado.

— Nada Haley, só comentei.

— Humm. — a garota deixou o assunto de lado.

As horas passavam rápido, assim como os dias; e logo esses dias se transformaram em meses.

Mais ou menos seis meses se passaram, já estavam quase no final do ano. Henry, Haley e Troy já se preparavam para ingressar em uma universidade, estavam na expectativa.

Pitter já tinha notas o suficiente para fechar o ano tranquilamente. No novo colégio os professores gostavam dele é os colegas de classe também, o que para ele era novidade. Pitter era popular mesmo sem querer e correr atrás. Era cumprimentado pelos garotos do time de futebol, pelas lideres de torcida e pelos mais favorecidos (os ricos), era o adorado dos nerds e por aqueles que não sabiam se defender. Um dia ele ia passando pelo corredor e se deparou com uma cena que o fez lembrar a si mesmo.

— Agora você vai se ver comigo, seu idiota! — Marc, o atacante do time de futebol, armou um soco que iria desfazer por completo o rosto de Phil, um garoto magrinho com cabelos amarelados em forma de tigela. Pitter chegou na hora.

Hey! O quê é isso, Marc? — Marc se deteve, o soco que seria certeiro.

— Pitter, é... Pitter não se mete, é entre ele e eu. — Marc não encarava Pitter.

— Marc, eu não acredito, você ia bater no Phil! Cara, olha o seu tamanho. Você quer deixar o garoto em coma? — Pitter nem deu ouvidos a Marc que mandou ele não se meter.

— Você sabe meu nome? — perguntou um Phil totalmente acanhado ainda preso pelo forte braço de Marc.

— Marc, largue ele agora! Quero conversar com você, a sós, e agora! — Pitter estava de braços cruzados olhando aquela cena que lhe trouxe algumas lembranças, era ele que apanhava dos valentões na escola e não tinha ninguém para lhe defender, ele não omitiria socorro se pudesse fazer.

— Na próxima você não escapa. — Marc largou Phil que saiu correndo “catando tostão”.

— E agora, podemos conversar senhor valentão? — Pitter lançou um sorriso divertido para Marc que, não aguentando, devolveu o riso.

Vamo, mas não me vem com viadagem.

— Ah não se preocupa, você não faz o meu tipo. E meu namorado te quebraria em dois. — eles riram, se encaminharam até a quadra que aquele horário estava vazia, sentaram na arquibancada de frente pro outro e ficaram se encarando. Quer dizer, Pitter encarava Marc, já ele não conseguia manter o olhar no “garoto popular que se veste de preto”.

— Pode conversar comigo Marc. — encorajou Pitter.

— Conversar o quê? Eu não tenho nada para falar. — Marc ainda não encarava Pitter.

— Eu conheci gente como você Marc, e eu sei que toda essa brutalidade é na verdade uma forma de fugir; de reprimir, esconder... Pessoas assim provavelmente sofrem ou sofreram coisas graves. E eles, pra se sentirem melhor e maiores, se impõem a quem não tem como se defender, como provavelmente alguém faz ou fez com você. Certo? — Marc abriu a boca pra falar alguma coisa, mas nada saiu. E ele se deixou chorar, e Pitter colocou a mão no seu ombro, lhe dando um apoio silencioso.

— Cara, não sei nem se deveria estar falando isso com você. É meu pai, Pitter. Ele me culpa pela morte da minha mãe, ele me bate. Mesmo bêbado e gordo e com eu podendo lhe enfrentar e me defender eu não faço. Ele é meu pai, sabe? E eu acho que ele está certo em me castigar. Eu mereço esse castigo, eu matei minha mãe. — ele chorou mais, então Pitter lhe deu seu ombro.

Passado alguns minutos ele contou sobre a morte da mãe, de como o carro entrou debaixo de uma carreta; de como tudo que aconteceu era sua culpa.

Porque foi Marc quem pediu para a mãe voltar para casa o mais rápido possível, seu cachorro estava doente e ele não queria ficar sozinho já que seu pai trabalhava aquele horário. Ele era uma criança de nove anos. Pitter esperou ele se recompor então começou a falar.

— Sabe Marc, eu tenho certeza que não foi sua culpa, fatalidades acontecem. Eu também sei de que nada que eu possa falar aqui vai amezinar a sua dor; ela é só sua. — ele apertou o ombro do outro que fungou em choro. Agora me desculpe falar, mas seu pai é um imbecíl por não perceber que você era apenas uma criança assustada precisando de cuidados. Ele devia ter que te proteger mais que tudo, já que você é a única coisa que sobrou de sua mãe. Você não tem irmãos?

— Esse é outro tabu lá em casa, desde quando minha mãe era viva. Na verdade eu tenho outro irmão, por parte de pai, mas nunca conheci e creio que meu pai também não contato com ele. Ele traiu minha mãe e dessa traição nasceu o garoto. Minha mãe nunca o perdoou. — Marc falou. Pitter não resolveu não se intrometer nesse assunto.

— Mas Marc, tudo isso que te aconteceu não é motivo pra você descontar nos outros. Isso é motivo para você se tornar alguém melhor, ou você quer se parecer com seu pai? — Marc negou com a cabeça.

— Então, cara! Pare de agir como um idota, dentro e fora do colégio, se imponha contra seu pai, faça-o entender que você não tem culpa, faça-o entender que vocês tem que estar unidos. Reconquiste o amor de seu pai. Eu tenho certeza de que tudo para vocês vai melhorar. E você sempre tem a opção de me procurar quando estiver chateado e querendo arrancar a cabeça de um, eu vou tentar te acalmar. — eles foram.

Conversaram mais alguns minutos e Marc se sentiu leve por ter alguém com quem compartilhar problemas. Ele se despediu de Pitter com um abraço e um beijo no rosto, o que foi engraçado para Pitter, mas não para Marc que sabia que Pitter era gay, e pensando assim lhe tratava qual uma menina. Uma menina durona pode se dizer assim. Era a forma daquele garoto pensar, mas tudo bem, Pitter não se sentia ofendido com isso.

Depois desse dia Marc sempre cumprimentava Pitter dessa forma carinhosa, ele namorava a líder de torcida mais popular da escola, ela também gostava de Pitter e não se incomodava com essa forma de carinho e, além do mais, Marc era totalmente hétero e os outros do time nem ousavam em brincar com a sexualidade de Pitter. Além de Pitter saber muito bem se defender sozinho, Marc quebraria qualquer um ao meio se ousassem mexer com Pitter.

Como Pitter lhe disse uma vez ele se impôs contra seu pai, e durante alguns dias de briga eles se reaproximaram, o dia x foi quando seu pai chegou em casa passando mal por causa da bebedeira e Marc o cuidou com todo carinho que um filho pode dar a seu pai, em meios aos delírios da bebida seu pai lhe pediu desculpas e disse que lhe amava, desde então eles vem se reaproximando. Graças a Pitter, e Marc era inteiramente grato por isso.

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