Capítulo 14

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Algumas semanas se passaram. Pitter agora estava em um novo colégio, pago por seu irmão, encontrava-se quase que diariamente com Haley e Troy. Anthony também, já que ele se fazia presente a cada momento bom na vida de Pitter; saíram juntos, tomaram sorvete, conversavam sobre o passado de Anthony, enfim, se tornaram amigos. Porém Anthony queria mais que isso, mesmo não transparecendo; por enquanto se contentava com a amizade estabelecida com o menor.

Pitter ligou para Mirtes e lhe explicou que agora morava com seu irmão, ele teve o cuidado de contatar a mulher quando sabia que os pais não estariam em casa. A empregada ficou deveras aliviada e disse que qualquer coisa que Pitter ou Mathew precisassem era só pedir. Ela passou a ir para a casa dos meninos de vez em quando trazer um doce ou salgado e dar uma geral no apartamento, claro, tudo sem os pais deles saberem. Em um desses dias confidenciou para Mathew que iria deixar a casa dos pais deles, que já não fazia mais sentido continua e trabalhando para eles. Mathew a apoiou.

Dias depois de Haley e Troy terem reencontrado Pitter, Henry foi até eles perguntar se sabiam de alguma coisa, ele desconfiou ao ver a felicidade do casal, “bom, se eles estão tão felizes, Pitter deve estar bem agora”, pensou antes de falar com seus colegas de classe. Ele se aproximou lentamente da mesa em que eles estavam e perguntou cauteloso por notícias de seu Pitt, Haley respondeu animadamente que ele estava bem e que agora morava com seu irmão, não mais que isso, ela achava que não interessava ao capitão do time de futebol saber mais coisas de Pitter, afinal, eles nunca foram amigos. Engano da jovem. Troy o olhava com total indiferença, apenas Henry, os amigos dele, ele e, claro, Pitter, sabiam quem era o segundo do vídeo, e que ele era bem mais que um inimigo declarado de Pitter.

O Capitão do time de futebol ficou aliviado com a notícia, foi como se tivessem lhe tirado um peso dos ombros, mas ele sentia que em breve precisaria lutar sua batalha, e ela não seria nenhum pouco fácil.

Henry decidiu mudar para reconquistar seu amor. Ele ia enfrentar seus pais, seus amigos, o mundo; não mais importava se o rotulassem.

Começou aos poucos, com atitudes que gradativamente os outros foram percebendo. Não mais participava de “panelinhas”, não mais saía com seus amigos baderneiros, não mais bebia como antes; estudava mais, treinava mais... era um novo Henry, assim como existia um novo Pitter. E isso ele não sabia.

Pitter começou a frequentar o novo colégio e fez questão de encarar a todos de frente. Ele decidiu que não abaixaria a cabeça para mais ninguém, não andaria olhando para baixo e não iria deixar que alguém zombasse do seu jeito de ser. Quando o professor foi o apresentar a turma alguém disse o nome “viado” disfarçado de tosse e todos riram, Pitter não, nem riu e nem abaixou a cabeça, enfrentou.

— Bom dia a todos... ou quase todos, — completou com um sorriso cínico nos lábios. Os colegas de classe se calaram e prestaram mais atenção no novo garoto estranho. — Bom, me chamo Pitter, tenho 17 anos e o resto não interessa muito. Só queria falar mesmo, especialmente aos homofóbicos presentes, que não faço o tipo “viadinho indefeso”, e aos “enrrustidos” de plantão: Não me julgue só porque você não teve a mesma coragem que eu de se assumir. É só isso! Era só isso. — rio com desdém e sentou-se no seu lugar, sobre olhares de muitos ali. Nunca viram tamanha coragem, eles entenderam que com aquele ali o negócio era diferente, até o professor perdeu o fio da meada, por fim continuou a sua aula, nunca tão calma como naquele dia.

Estavam todos surpresos com Pitter, muitos o admiraram, mas ficou por isso, ele fez questão de não se enturmar, de não fazer amizades, de só conversar apenas o essencial e sobre as aulas, apenas isso, “vim para escola para estudar, não para socializar” dizia a si mesmo. Talvez mudasse com o tempo, mas por enquanto era isso.

Essência ProvadaWhere stories live. Discover now