Capítulo 37

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Sexta, 1 de dezembro

Dos três vestidos que Juliana tinha deixado, nenhum a deixou confortável. Se sentia gorda, feia e era óbvio, mal-amada. Não teria tempo de encontrar nada descente para vestir e o lançamento do seu livro seria no dia seguinte. Retirou o vestido vermelho e o jogou no chão. De calcinha e sutiã na frente do espelho do imenso closet olhava as mudanças de seu corpo.

Levou as mãos no rosto, não poderia chorar por isso, não por um corpo deformado. Já tinha passado por tanta coisa, um vestido não deveria ser um problema, mas era. Para tentar acalmá-la, Tereza havia saído a procura de outros modelos para que ela experimentasse, aquele definitivamente não era bom dia. A ansiedade para o lançamento do livro e a reabertura da editora estava lhe deixando uma pilha de nervos.

Queria que ele estivesse ali, precisava que ele estivesse ali. Pelo reflexo conseguia ver o lado vazio deixado por Rafael, tentando segurar seu choro, abaixou os olhos e quando se viu novamente no espelho, viu Rafael se aproximando. Ele estava lá, atrás dela.

Se virou, com as pernas trêmulas, as lágrimas descendo copiosamente, Rafael também estava chorando. Numa versão mais magra, abatida e com a barba aparada. Seus olhos pareciam refletir o vazio que sentia. Inclinou o rosto, sem se importar em estar nua.

— Você está linda. — Rafael caiu de joelhos, e beijou a barriga de Mariana, ainda com a boca colada em sua pele começou a sussurrar — Oi Helena, — aquela proximidade lhe causava arrepios — aqui é o papai. — Mariana sentia sua barriga molhada pelas lágrimas de Rafael — A mamãe contou que você já pode ouvir — ele ergueu a mão e posou delicadamente dobre o ventre inchado, a barriga se moveu — Eu também sei um monte de outras coisas sobre você — Espero que a mamãe tenha falado um pouquinho de mim, — olhou para cima esperando algum sinal de Mariana que estava anestesiada com a proximidade — O papai é um idiota, um burro, que só fez cagada na vida, mas no dia em que ele viu os olhos da sua mãe, tudo mudou. Ela é a mulher mais incrível que o papai conheceu na vida. — Rafael se levantou e viu a aliança na mão esquerda de Mariana que percebeu a direção do seu olhar.

— Viúvas usam a aliança na mão esquerda.

— Eu não morri.

— Mas sumiu, tanta coisa passou na minha cabeça, foram meses de angustia — enxugou as lágrimas —, mas independentemente do que tenha acontecido quero que seja feliz.

— Não existe felicidade longe de você, eu tentei. Mari, me perdoa, foi um grande mal-entendido...

— Eu esperei você, eu me preocupei com você... — Mariana fechou os olhos chorando.

— Olha pra mim... — tocou seu rosto com carinho.

— Eu tive medo, Rafa. Você me deixou, sem nenhuma explicação. Fechou o jornal e sumiu. Eu quase desabei, o meu pai que me fez enxergar que eu precisava ter forças pela nossa filha. Por nós. E eu nem sei o que aconteceu para você sumir assim.

— Eu nunca mais vou sair de perto de vocês, — beijou seu cabelo — eu prometo que não vou ser tão fraco, que vou aprender com você a lutar e a acreditar. Até agora não acredito que reabriu o jornal, que fez tudo aquilo.

— Mas o que aconteceu?

— Eu achei que você e o Henrique estivessem juntos — ela o olhou boquiaberta — escutei a conversa de vocês no apartamento, vi a mala de dinheiro, você como cúmplice de uma emboscada. Passou um filme na minha cabeça Mari. E eu só quis acabar com tudo e sumi, não queria ter que passar por tudo aquilo de novo — passou as mãos pelos cabelos — Fechar o jornal era o mais sensato a se fazer para preservar o patrimônio da Juliana, e eu simplesmente não suportei a ideia de perder você. Me senti culpado por você se envolver na morte do Cesar. Você nunca foi clara em relação aos seus sentimentos, nunca me disse...

Além das Palavras - COMPLETOWhere stories live. Discover now