Capítulo 36

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Segunda, 13 de novembro

Mariana estava inquieta, inconformada por estar afastada do jornal. Tinha dois dias que estava na fazenda e parecia uma eternidade. Sentada na varanda de seu quarto, folheava seu diário nostálgica, há muito tempo não escrevia nele ou para Rafael. Mas não tinha vontade, nem esperanças que ele voltasse.

Tentava viver um dia de cada vez, largou o caderno sobre a cama foi dar uma volta. Sentia-se lenta, as 32 semanas já pesavam a barriga. No corredor do andar de cima encontrou sua mãe que lançou um olhar de recriminação, sempre que estavam juntas voltava com a ideia de procurar Rafael, mas Mariana já tinha desistido.

Enquanto caminhava pelo jardim, a passos curtos tentando encontrar alguma graça na natureza e no clima bucólico da fazenda, deixava sua cabeça vagar em branco. Não podia se esforçar muito, voltou para perto do casarão e sentou na escadaria, vendo o tempo passar inerte e impiedoso.

O sol se escondia atrás da montanha, ficou acompanhando o espetáculo, de longe viu André e Tereza voltando do riacho aos beijos se escondendo entre as arvores. Foi quando percebeu que tamanho romantismo era como sal nas feridas ainda abertas.

Escrever sobre o amor era fácil, podia deixar sua mente vagar por lembranças, mas vê-lo na forma pura doía, incomodava.

Resolveu voltar para seu quarto e na escada encontrou seu pai, com os olhos inchados. Por impulso o abraçou. Arnaldo apertou a filha, se afastou e segurou seu rosto com carinho.

— Tenho muito orgulho da mulher que se tornou. Você é forte, corajosa e certamente vai ser uma ótima mãe.

Mariana se confortou nos braços do pai, se permitindo sentir-se protegida.


Segunda, 20 de novembro

Mariana chegou em casa aliviada, mais de uma semana na fazenda foi o suficiente para que se sentisse angustiada. Já havia marcado a data do lançamento do seu romance e tinha muito trabalho a fazer. Mesmo sabendo que seu ritmo de trabalho deveria reduzir drasticamente, estava disposta a pensar em uma rotina de home office que conseguisse dar conta do jornal e do seu livro.

Ainda não tinha conseguido retomar as edições da revista, optou por adiar para depois que sua filha nascesse, era menos uma coisa a se preocupar. Começou a desfazer a sua mala e deu falta do seu diário. Praguejou com a possibilidade de tê-lo esquecido na fazenda.

Seu telefone vibrava no criado mudo e respirou fundo quando percebeu que era sua mãe. Ruth havia mudado seu comportamento drasticamente depois da estranha reação na escada.

— Mariana, minha filha liguei para avisar que seu pai cancelou a festa de aniversário dele.

— O que houve? Ele está bem?

— Ele mandou eu cancelar tudo, está indo viajar e disse que não sabe quando volta. Você precisa fazer alguma coisa, Mariana.

— Como assim, mãe?

— Seu pai está louco, Mariana!

— Posso falar com ele?

— Ele está na casa do André aí em São Paulo, seu pai está irredutível.

Mariana tentou falar com o pai, mas o telefone estava desligado. Achava atípica a reação do pai, embora fosse compreensível que seu pai quisesse ficar livre de todo o circo armado por Ruth. Suspirou fundo olhando para o computador, não tinha muito tempo a perder. Precisava conferir a prova do seu livro pois faltava dias para o lançamento.

Além das Palavras - COMPLETOWhere stories live. Discover now