Capítulo 5 - Sábado 18 de março

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Sábado 18 de março de 2017

André dirigia calado há quase duas horas, eram sete da manhã. Não estavam nem na metade do caminho. Mariana prestava atenção na estrada, mas percebeu que seu irmão estava distante.

—Quer que eu dirija um pouco?

— Nem morto. — continuava sério.

— Dé, acho que te devo desculpas pelo que falei na segunda. Eu estava nervosa, não sei o que me deu.

— Achei que ia se desculpar por eu ter encontrado um homem nu na sua sala. — ele tentou descontrair.

— Ele estava nu? — perguntou curiosa.

— Eu entendo a sua decepção. — zombou gargalhando. — Ele te procurou de novo?

— Não. Foi um grande erro, mas eu precisava disso para desencantar. Não vou assumir nunca, mas a melhor coisa foi a D. Ruth ter me impedido de casar.

André olhou surpreso para a irmã. E pensou alto.

— No meu caso ela me ajudou a ferrar com a minha vida.

Mariana sabia bem do que André estava falando. Deitou a cabeça no ombro do irmão.

— Tem falado com a Tereza?

— Não quero falar sobre isso, Nana. Depois te conto tudo, mas doi. Preciso de um tempo para digerir.

— Eu estou aqui, sempre. — beijou seu rosto com carinho.

— Numa versão pervertida que trepa com homens noivos e de pau pequeno. — Mariana gargalhou. — Sua cara no outro dia estava péssima. Foi ruim assim?

— Jura que quer saber detalhes?

— Não os sórdidos. — ele brincou.

— É estranho, a gente passa a vida acreditando que amou alguém e de repente você se dá conta que tudo é vazio. E que talvez nem conheça o amor.

— É, pode ser.

A recepção na fazenda foi calorosa. Arnaldo parecia feliz por ter os filhos em casa. Ruth os observava atentamente avaliando quantos quilos tinham emagrecido. André rapidamente foi para cozinha a procura de Julieta, a velha funcionária da fazenda.

Mariana caminhou abraçada com o pai em volta da casa, enquanto Ruth entrou para conferir os últimos detalhes do almoço.

— Fiquei preocupado com você, minha filha. Você não me ligou essa semana.

— Foi uma semana tumultuada, pai. Desculpa.

— Sua mãe me contou sobre sua promoção. — comentou orgulhoso.

— Agora sou gerente de edição. — contou empolgada. — O salário não é muito maior, mas... — falou como se desculpasse.

— Mariana, não dê ouvidos à sua mãe. Você não precisa se preocupar com isso minha filha. O importante é que você faz o que ama. Isso tudo aqui é de vocês. Eu só espero que um dos meus netos se interesse pela fazenda.

Ela abraçou o pai com carinho, quando pararam em frente ao lago do lado da casa.

— Sempre achei que trabalharia naquela casinha de madeira. — Apontou pra velha casa abandonada que agora era um depósito. — Você dizia isso quando era nova, levava seu caderno e ficava horas na varanda. — lembrou com carinho do seu caderno — Tenho saudades de quando eram pequenos e moravam comigo. — confessou nostálgico.

— Prometo vir mais vezes pai.

— Eu entendo que é longe, minha filha. Mas quando vocês vêm me traz uma grande alegria. Vamos. O almoço já deve estar na mesa. Padre Olavo vai se juntar a nós.

Além das Palavras - COMPLETOWhere stories live. Discover now